A Inflexão na Educação
Cotidiano
“Se você é capaz de sentir indignação diante de uma injustiça, então somos companheiros”.
Ernesto ‘Che’ Guevara
A Inflexão na Educação
Queridos(as) amigos(as); não é novidade, entra governo e sai governo e a educação continua recebendo o tratamento de sempre, ou seja, o desdém e o desprestígio. O quadro atual é de extrema preocupação; greve há mais de um mês na educação estadual do Rio Grande do Norte, greve há mais de um mês na rede municipal de educação de Fortaleza, insatisfação generalizada na rede estadual de educação do Estado do Ceará, greve dos servidores técnico-administrativos das Universidades Federais, indicativo de greve dos professores das Universidades Federais; e, por fim, plenária nacional do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Federal de Nível Básico, Técnico e Tecnológico – SINASEFE, marcada para este final de semana com o objetivo de traçar os rumos da categoria que, com uma alta probabilidade, também decidirá pelo indicativo de greve.
A educação é vital para o desenvolvimento de um povo. Já na década de 60, Becker, Blaugh e Schultz publicaram trabalhos seminais em que mostravam a estreita correlação entre educação de qualidade e desenvolvimento social. Dentre os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o que investe menos em educação (como proporção do Produto Interno Bruto).
Enquanto a China forma mais de duzentos mil engenheiros por ano e a Índia forma mais de cem mil, o Brasil forma apenas trinta e dois mil. Isso já se refletiu no fato de que estamos importando esses profissionais (entre outros), para que as obras proporcionadas pelo crescimento econômico possam ser realizadas.
Porém, mesmo com esses indicadores positivos, os trabalhadores na educação federal brasileira mais uma vez chegam a uma inflexão. Ponto esse já previsto anteriormente, mas sempre de traumatizante e dolorosa constatação, pois nós que dedicamos nosso trabalho e nossa existência à formação de cidadãos comprometidos com uma sociedade em que as injustiças, exclusões e opressões sejam superadas sempre esperamos que o governo veja com bons olhos nossa empreitada e nosso ideal.
Não é o que ocorre! Mais uma vez somos empurrados – pelo próprio governo, que se recusa em admitir o óbvio, frise-se bem – para um enfrentamento de conseqüências imprevisíveis, pelo simples fato de que esse mesmo governo se comporta tal qual um cego que se recusa a ver. E o que ele se recusa a ver? A óbvia degeneração do poder de compra dos trabalhadores da educação que vem acumulando perdas ao longo dos últimos anos; perdas essas que, agravadas pelo aumento dos níveis inflacionários dos últimos meses, já cortam o seu poder de compra com a dolorosa e implacável lâmina da alta dos preços e dos juros.
Já alertávamos que isso iria ocorrer quando da aprovação pelo governo, ‘à toque de caixa’, da tabela salarial para 2008, 2009 e 2010, sem nenhum estudo prévio e sem ouvir os trabalhadores através de seus órgãos de classe, entre eles o Sinasefe. Essa tabela serviu apenas para três coisas: semear a discórdia entre os trabalhadores na educação aprofundando demais a diferença entre professores com e sem titulação; quebrar a organização e mobilização para um movimento de paralisação que era iminente à época; e postergar a elaboração e aprovação de um plano de cargos e carreiras para os trabalhadores da educação federal.
Estamos buscando todos os canais de negociação, tentando de todas as formas abrir o diálogo com o governo para que não reste dúvidas de nossa intenção de negociar... Não estamos sendo atendidos. Diante da urgente necessidade de valorizar a educação, defendemos, entre outros pontos, a seguinte pauta: a) Reestruturação da carreira docente e técnico-administrativa, b) democratização das instituições federais de ensino, c) manutenção e ampliação dos concursos, e d) contra a precarização da função docente.
Contamos com o apoio e o engajamento de toda sociedade pois essa luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade não é somente nossa, mas de todo país.
18 de junho de 2011.