Correio do Sul de Campo Grande
 
 
            Entre os primeiros jornais de Campo Grande, seis décadas antes da criação do Estado de Mato Grosso do Sul, estava o Correio do Sul, lançado em 1916, propriedade de Antônio Anthero Paes de Barro. A direção e chefia de redação eram exercidas por Trajano Balduíno de Souza, que, dois anos depois, elegeu-se vereador, presidiu a câmara municipal e compôs o hino a Campo Grande, para comemorar a elevação da vida à categoria de cidade. Diferentemente de O Estado de Matto Grosso, criado em 1913, publicado por apenas dois anos, o Correio do Sul circulou por quinze anos, como órgão do Partido Republicano Mato-grossense, liderado por Pedro Celestino.

            Esse periódico registrou cenas do embate partidário estadual, no contexto dos últimos anos da Primeira República, perfilado ao centro político situacionista de Cuiabá. Fragmentos desse debate estão presentes no editorial de 20 de maio de 1917, criticando posições assumidas pelo senador Antônio de Azeredo, líder do Partido Republicado Conservador, e defendendo as manifestações de Pedro Celestino, que, naquele momento, já havia governado o estado, pela primeira vez, e seria ainda eleito para um segundo mandato. O redator se expressou nos seguintes termos: “Os mato-grossenses têm hoje as suas vistas voltadas para o vulto de seu benemérito guia, coronel Pedro Celestino, que em qualquer acordo com o presidente da República, há de salvaguardar os interesses do Partido Republicano Mato-grossense”.

            Em edição de 11 de março de 1925, anunciado como “bissemanário de maior formato e circulação do estado de Mato Grosso”, esse histórico jornal campo-grandense publicou reportagem para comemorar a entrada no seu décimo ano de publicação. Período em que testemunhou importantes eventos históricos, como a elevação da vila à categoria de cidade, a construção dos primeiros quarteis, a criação da Associação Comercial e também os momentos agitados que precederam o advento da Era Vargas.

            Depois de um século do seu lançamento, ainda é possível acessar cerca de 40 edições disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Ao “folhear” essas páginas, é possível identificar alguns de seus colaboradores: Zeferino Mestrinho, Miguel de Oliveira Mello, Arnaldo de Figueiredo, Júlio Mário de Castro Pinto, Severino Marques, Sabino José da Costa, Emygdio Widal, Ewrald Coelho, entre outros.

            Uma semana após a deposição do presidente Washington Luís, em 24 de outubro de 1930, moradores de Campo Grande saíram às ruas para comemorar a vitória do movimento getulista. No dia seguinte, houve excessos e cidadãos mais exaltados arrancaram placas de identificação de ruas e atacaram a sede do jornal. Paes de Barros estava exercendo o cargo de prefeito de Campo Grande, e nesse momento de inflexão histórica, o Correio do Sul encerrou sua trajetória de 15 anos de publicação, conforme consta em O Matto Grosso, de Cuiabá, de 2 de novembro de 1930.