História da imprensa em Ponta Porã

 
            O ano de 1920 está na história da imprensa sul-mato-grossense devido ao lançamento do primeiro número de O Progresso, de Ponta Porã, jornal de propriedade de José dos Passos Rangel Torres. Advogado formado em 1914, pela Faculdade de Direito de Recife, Rangel Torres foi promotor de justiça em Bela Vista, na mesma região. Fixou residência em Ponta Porã, onde exerceu o jornalismo, por vários anos. Ao ser lançado, o histórico jornal ponta-poranense foi muito bem aceito pela sociedade local, recebendo elogios pela qualidade das notícias e artigos publicados. Três anos após, era anunciado como semanário independente a serviço do interesse do povo da cidade.

            Criado em 1912, o município de Ponta Porã estava na fase áurea do ciclo da erva-mate, história narrada pelo ilustre escritor nioaquense Hélio Serejo. Foi nesse contexto que, oito anos depois, o título escolhido para batizar o jornal expressou, com pertinência, “o progresso” da região. O povoado, berço da progressista cidade, começou a ser erguido próximo a um quartel construído para guarnecer as fronteiras demarcadas, após o término da guerra com o Paraguai.

            Atualmente, ainda é possível acessar cerca de 80 de suas edições digitalizadas, publicadas entre 1923 e 1927, disponíveis no site da Biblioteca Nacional. São páginas que registram eventos marcantes da história sul-mato-grossense, na fronteira de nossas raízes guaranis. Quando estava no 4º ano de circulação, em 6 de maio de 1923, o referido jornal publicou uma ampla reportagem sobre a Empresa Mate Laranjeira, ressaltando a sua exuberância e imbatível organização na produção de erva-mate, além de relevar seus estreitos laços de afinidade com a política centralizada em Cuiabá.

            Em meados de 1924, no contexto da revolução paulista, a trajetória de O Progresso foi interrompida, devido à censura “indireta” imposta pelo comandante da Circunscrição Militar de Campo Grande. Em 10 de agosto do mesmo ano, o editor explicou os motivos da suspensão temporária do jornal, prometendo retomar a publicação, após a volta à normalidade. Assim se expressando: “Tomamos essa deliberação por entender que, não tendo sido decretado estado de sítio para o território mato-grossense, não pode a liberdade de imprensa ser cerceada por nenhuma medida.” Dois anos depois, o bravo periódico voltou a circular, conforme noticiou a Gazeta do Commercio, de Três Lagoas, em 1º de agosto de 1926.

            Para finalizar, cumpre observar que o jornalista Rangel Torres era pai do também advogado, poeta e jornalista Weimar Gonçalves Torres, que, em 1951, preservando o mesmo título, lançou O Progresso, em Dourados. Assim, teve início a trajetória do atual diário douradense, um dos representantes da exitosa imprensa sexagenária sul-mato-grossense, ou seja, que persiste na arena jornalística, depois de seis décadas de existência, como é o caso do Correio do Estado, de Campo Grande.