Nioaque na história da imprensa
É muito difícil acreditar na existência de uma fronteira absoluta entre os desafios atuais da sociedade das tecnologias digitais de informação e comunicação e passado de nossas raízes históricas. No final do século XIX, foi criado o primeiro jornal da região sul meridional do Mato Grosso, A Voz do Sul, de Nioaque, cujo primeiro número circulou em 26 de outubro de 1894. Sua trajetória ficou na história das primeiras manifestações divisionistas do sul de Mato Grosso, lideradas pelo proprietário do jornal, João Ferreira de Mascarenhas, conhecido como coronel Jango Mascarenhas.
A redação desse jornal pioneiro do atual território sul-mato-grossense ficou sob a responsabilidade do ilustre advogado João Cláudio Gomes da Silva, vinculado ao Partido Republicano, que havia exercido o magistério como professor de Português do Liceu Cuiabano, mas pedira demissão do cargo para fixar residência em Nioaque, conforme consta registrado no expediente da Diretoria de Instrução Pública do Mato Grosso, do mês de agosto de 1894, publicado na imprensa de Cuiabá.
Outro registro sobre o referido periódico está na edição de 8 de dezembro de 1895 do jornal O Matto Grosso, noticiando a chegada à Cuiabá do coronel Jango Mascarenhas, chefe do Partido Republicano em Nioaque. Ele estava acompanhado pelo redator de A Voz do Sul, observando tratar-se do primeiro jornal da “região meridional” sul-mato-grossense. Mas, esse pioneirismo excetuava os jornais criados em Corumbá, na região fronteiriça. De fato, como consta em textos históricos, entre 1877 e 1893, existiram vários jornais, na atual Cidade Branca, os quais constituem um capítulo a ser melhor analisado em favor da história da imprensa sul-mato-grossense.
Traços memoriais do histórico jornal de Nioaque podem ser encontrados numa obra de Paulo Coelho Machado, ao apresentar uma biografia de Arlindo de Andrades Gomes, primeiro juiz de direito de Campo Grande, e que, em 1913, lançou o primeiro jornal impresso de Campo Grande, denominado O Estado de Mato Grosso. Ao confirmar então o pioneirismo de A Voz do Sul, referido o autor observa que o mesmo era impresso em uma velha tipografia, adquirida em Cuiabá, pelo coronel Jango Mascarenhas, que resolveu imprimir as primeiras páginas em favor da criação de um novo estado no sul.
Outras informações sobre esse periódico constam no histórico de Nioaque, disponível no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicando que ele deixou de circular dois anos depois de ser lançado, quando foi empastelado e todo o seu equipamento atirado na parte mais profunda das águas do rio Nioaque, incluindo o prelo, o conjunto de tipos e todos os demais materiais usados na impressão. A memória coletiva regional preservou a informação de que o autor da destruição teria sido um indivíduo, oriundo de Cuiabá, que, pela sua atitude, recebeu o apelido de Onça Preta.