COMPORTAMENTO
Eu sou comportamento.
O comportamento é uma ação que se processa a partir de três esferas principais do ser sociocultural: personalidade, identidade e subjetividade. A personalidade e a identidade são domínios estudados sob muitas e diversas perspectivas. A subjetividade ainda está dando os primeiros passos quando comparada com as anteriores em termos de investigação científica. É recente sua apropriação como campo investigativo merecedor de consideração quando se deseja compreender o comportamento humano. Há outros fatores (biológicos e culturais) que contribuem na formação das atitudes de homens e mulheres. Considero, no momento, as três elencadas as mais importantes e sobre as quais é possível encontrar estudos para reflexões.
O comportamento é o que se apresenta de mais objetivo no indivíduo. Pela conduta é possível obter algum grau de segurança sobre quem somos em certo momento. Lembrando que não há segurança total e, nesse sentido, não é seguro confiar e acreditar somente nas atitudes comportamentais de uma pessoa. Elas nunca são absolutas. São construídas (e produzidas) a partir de algumas condições do sujeito como emoções, motivações, sentimentos, intenções e interesses. São possíveis de serem moldadas, controladas e manipuladas, até certo ponto, pelas pessoas em qualquer situação, menos quando a ação obedece aos instintos. São únicas e singulares tanto nos indivíduos em cada momento e diante de momentos interativos. Não há dois comportamentos iguais. Comportamentos, portanto, podem ser falseados servindo, assim, de instrumento para ludibriar.
Pelo comportamento atraímos e afastamos. Conquistamos e perdemos. Somos e não somos. Respeitamos e somos respeitados. Valorizamos e merecemos o respeito. Desejamos e somos desejados. Há ‘poderes’ que impressionam (dinheiro, status) e que podem atrair pessoas para ficar próximas; mas somente o comportamento adequado, coerente e sensato faz com que as pessoas desejam permanecer em convívio.
Gosto da ideia que tudo se resume a comportamento. Amor é comportamento. Toda relação afetiva sustenta-se por sentimentos, bem querer, respeito e valorização. No entanto, todas estas dimensões (invisíveis, subjetivas na realidade) perdem seus sentidos e significados quando o comportamento (visível no seu contexto) não está coerente. Podemos acreditar que somos amados e amamos pelo que sentimos, porém, a relação amorosa e de confiança será destruída pelo comportamento inadequado. Outro exemplo, o casamento: podemos questionar e ponderar: o que sustenta um casamento (de fato e de verdade), o sentimento ou o comportamento? Outros exemplos podem servir para reflexão como a confiança, idoneidade, o caráter, ser homem, ser mulher, estudante, professor, político, enfim, todas as representações sociais que envolvem relação são pautadas pelo comportamento.
Podemos considerar que o comportamento implica um complexo. A minha ideia não precisa ser a mesma que a sua (para os outros tempos que vivemos, nem deve). Estar certo, estar errado já não depende tanto do que dizemos e sim qual fundamentação se elegeu e o ‘tamanho’ do apoio que temos para defender uma suposição. A ‘verdade’, ou uma verdade pode estar com a maioria, com a minoria, ou, ainda, com o individual. Há verdade e há verdades. Ao contrário do que pensamos não necessariamente as verdades são iguais em diferentes contextos sobre os mesmos fatos. Parece contraditório, mas é possível falsear a verdade, pois a mesma é sempre uma representação de fatos, do real, do concreto de algo sobre o qual não temos tudo e o todo. Refletir sobre o comportamento torna-se complexo, e um complexo, porque permite múltiplas perspectivas, diferentes olhares, opiniões coletivas, consensuais, ou não, e individuais. Avançar na compreensão implica reconhecer que diante do que penso estar ‘certo’, posso me qualificar em direção ao adequado.
Para mim, o que penso hoje está em evolução em relação ao meu ontem e, quiçá, no caminho de ser melhor amanhã. Portanto, o que pensarei amanhã pode não ser o que penso hoje. Por isso, posso discordar de algo hoje e amanhã concordar e defender o mesmo que agora pretiro.
Portanto, hoje, sou comportamento. Amanhã, não sei.