NILDA CASSA DA SILVA (professora)

Nascida em 26 de janeiro de 1926, no lugar “Amorim” e falecida em 21 de abril de 1976, neste município e comarca de Muniz Freire, ES, filha de Adamastor de Souza Cassa. Educadora da série primária. Mãe de numerosa prole de filhos, havendo passado “maus pedaços” na vida tanto na criação dos mesmos quanto para conviver com todo tipo de pessoas com as quais se relacionou, em sua curta existência. Fosse hoje, haveria, certamente, de ser considerada, em certas áreas de sua vida, uma heroína.

Dedicadíssima à alfabetização de alunos de todas as idades. Tinha, em seu relicário de nobres façanhas, o privilégio de ter alfabetizado os três filhos surdos do comerciante, senhor Abner Ferreira de Andrade (“Biné”) que ainda estão entre os Muniz-freirenses, quais sejam: Valdir, Ossimar (“pelota”) e Zilmar.

Devido a essa dura façanha (alfabetizar surdos) que requer paciência e dedicação especial, nenhum (a) Educador (a), à época se aventurava em tão ardorosa missão. Ela se atreveu, aceitou o desafio, e, então, persistindo nessa renhida luta, conseguiu alfabetizar os três deficientes auditivos anteriormente nominados, que, segundo informações que me foram passadas por um de seus filhos, esses surdos estavam sendo rejeitados pelos demais educadores que “fugiam a mil por hora”, para não se entregarem ao mister de tão dispendiosa responsabilidade. Se, atualmente, tais surdos estão fazendo parte do contexto social, sendo um pouco mais esclarecidos, graças à dedicação desta inesquecível e incansável batalhadora do magistério.

Um de seus acalentados sonhos era ser “professora formada” pelo Curso do Magistério com o cognome de “Curso Normal”, à época. Imbuída deste sonho, pode convidar, com indizível prazer, seu ex-aluno dos tempos dos rudimentos da alfabetização - CARLOS ROBERTO MIGNONE (já então Juiz de Direito) que, é personagem jurídica nascido nesta terra Muniz-freirense, para ser seu “padrinho” de formatura no então “Curso Normal” que muito a encheu de “satisfação” (*), ocasião em que, ela serviu de oradora de sua turma, havendo discursado de improviso e, diga-se de passagem, nos melhores arroubos oratórios, como se fosse uma exímia e eloqüente personagem de dotes retóricos.

Não é fruto de minha imaginação, fantasia ou romantismo fabricado, mas uma realidade vivida com sua família foi o PÉ DE URUCUM, encravado no fundo do quintal (pomar) de sua residência que confinava com o quintal da casa onde minha família residia (na rua “Antônio Bazzarella”), onde seus filhos e este articulista colhiam, regularmente, entregando seus frutos a ela, em bacia ou caldeirão. Dona Nilda torrava-os em seu forno doméstico e rústico (em uso na época), moía e servia à sua mesa de refeições, um saboroso coloral, legando-nos, além da sua cor peculiar, deliciosos pratos de excelente sabor misturado ao macarrão, que era servido a sua prole afoita e esperançosa!

Sinto profunda saudade e me emociono literalmente, quando tomo em minhas mãos uma apostila, bem elaborada “Ginasial Intensivo – curso supletivo (antigo madureza – artigo 99)”, pela “Abril S. A. Cultural e Industrial em colaboração com a Fundação Padre Anchieta – TV2 Cultura e Rádio Cultura – SÃO PAULO”, sendo edito VITOR CIVITA (não contendo o ano de publicação). Esta apostila dona Nilda e Maria Gerda Lúcio (minha mãe), que eram vizinhas, parentes e amicíssimas, estudavam juntos, preparando-se para se graduarem um pouco mais nos estudos formais da época. Quanto saudade! Quantas vezes eu as via e ouvia lendo e interrogando-se mutuamente sobre o conteúdo de tal apostila, dentre muitas outras que elas tinham em mãos. A única que pude preservar, com o tempo, tem poucas páginas, mas é a que remete aos tempos da década de 60 (1960 e seguintes), quando residíamos na Rua “Antônio Bazzarella”, nesta cidade de Muniz Freire.

(*) P. S.: (muitos empregam neste contexto o termo “orgulho”, mas sempre evito-o, preferindo a “satisfação” que é, além de otimista, uma palavra relacionada às boas virtudes e não à série de pecados capitais)

Muniz Freire (ES), -1999 / Fernando Lúcio Júnior

FONTE: José Lucas da Silva, (“Luca Pau”), um de seus filhos, que exerceu as funções de Avaliador Judicial nomeado por juízes que passaram por esta Comarca.