Indústria editorial tem a pior queda dos últimos 13 anos (Leonardo Neto)

Em 2015, faturamento de editoras caiu 12,63%, aponta pesquisa ‘Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro’

Que 2015 não foi fácil, todo mundo já sabe. Agora, chegam os dados que comprovam isso. De acordo com os números da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro apresentados na manhã desta quarta-feira, em São Paulo, a produção e o faturamento de livros no País tiveram queda significativa no ano passado. No ano, foram produzidos 446,84 milhões de exemplares, vendidos 389,27 milhões e, com isso, o faturamento das editoras alcançou R$ 5,23 bilhões. Em comparação a 2014, o faturamento teve queda real (considerando o IPCA) de 12,63%; a produção, 10,87% e o número de exemplares vendidos, caiu 10,65%. A indústria não via números tão ruins desde 2002, quando o faturamento caiu, em termos reais 14,51%, agravado pela alta inflação daquele ano.

A pesquisa, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), mostra ainda, que o que pesou nesse resultado ruim foi o comportamento do segmento Mercado. Deixando de lado os números das compras de governo, as editoras obtiveram um faturamento de R$ 4 bilhões, 3,99% menor do que no ano anterior (sem considerar aqui a inflação). No segmento Governo, também houve queda, mas apresentou performance um pouco melhor do que o segmento Mercado. As compras governamentais tiveram queda nominal de 0,86%, totalizando R$ 1.228.214.159,96, versus R$ 1.238.847.225,98 apurados no ano anterior.

Marcos Pereira da Veiga, Luís Antonio Torelli e Leda Paulani apresentam os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial | © Camila Nero

Marcos Pereira da Veiga, Luís Antonio Torelli e Leda Paulani apresentam os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial | © Camila Nero

"Os números são muito preocupantes, mas eles fazem parte de um cenário muito maior", pontuou Marcos Pereira, presidente do SNEL. "Os números mostram que o ano não foi bom, mas diante do cenário da economia brasileira, poderia ser ainda pior", observou Luis Antonio Torelli, presidente da CBL.

A queda do faturamento foi acompanhada por uma queda no volume de livros vendidos. No segmento Mercado, em 2015, foram vendidos 254.680.102 ante 277.387.290, em 2014, queda de 8,19%. No segmento das compras governamentais, a queda no volume foi ainda maior. Em 2015, foram vendidos 134.594.394 exemplares, versus 158.302.867 em 2014. "Chama muito a minha atenção a queda de exemplares vendidos. Só no segmento mercado, foram vendidos 22 milhões de livros a menos do que em 2014", destacou Marcos. Os subsetores que mais sofreram com essa queda foram o de Obras Gerais (-5,19%) e de CTP (-16,54%). "O agravamento da crise econômico tira muita gente das universidades. São dificuldades na área macroeconômica que acabam reduzindo a compra de livros desse tipo. Em tempos de crise, os alunos não se preocupam com bibliografia complementar do curso. Quando muito, conseguem os livros obrigatórios", explicou Leda Paulani, economista da Fipe responsável pela pesquisa.

A retração atingiu também a produção de livros no Brasil. De acordo com a pesquisa, em 2015, foram produzidos 501.371.513 exemplares, 54,6 milhões (ou 10,87%) de livros a menos do que em 2014. O gênero que mais sofreu com essa queda foi o da Literatura Infanto-Juvenil, que produziu 33,5 milhões de exemplares a menos do que no ano anterior. Um fator importante para esse resultado foi a suspensão do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que vinha comprando, em média, 11 milhões de exemplares nos últimos anos, tendo atingido 19 milhões em 2014. Em 2015, foram cadastrados 17.282 novos ISBNs, número 10,39% menor do que no ano passado. As reimpressões caíram ainda mais. Em 2015, foram reimpressos 35.146 títulos, versus 41.544 no ano anterior, queda de 15,40%.

Os livros de colorir, apontados como o salvador da lavoura em 2015, performaram bem, mas não o suficiente para tapar o buraco. A produção de livros nessa categoria (Artes) cresceu de 519,3 milhões exemplares em 2014 para 7.119.870 em 2015. "Esse número mostra o apetite por risco dos nossos editores", apontou Marcos Pereira. No entanto os livros de colorir representaram apenas 1,59% do volume de livros produzidos pela indústria brasileira. Em termos de vendas, segundo Marcos Pereira, a participação dos livros de colorir em 2015 foi de apenas 5%.

O preço médio do livro, considerando apenas o segmento Mercado, apresentou queda real de 5,55%. Essa variável retoma, assim, a trajetória descendente verificada há alguns anos, que havia sido interrompida em 2014.

A pesquisa indica, ainda, que foram editados 52,42 mil títulos, dos quais 17,28 mil são novos. A tiragem média, considerando os 446,84 milhões de exemplares produzidos, foi de 8,52 mil livros, com um pequeno crescimento em relação a 2014, quando foi de 8,24 mil. O total de títulos teve queda de 13,81%. Levando em conta apenas os novos, o recuo foi de 10,39%.

Mesmo com queda de 5,98%, o subsetor de Livros Didáticos seguiu liderando a produção, com 221,21 milhões de exemplares. No período, esse segmento lançou 12,15 mil títulos, variação negativa de 12,86% em comparação ao ano anterior. Em segundo lugar, aparecem as obras gerais, com 112,81 milhões de livros (-19,28%) e 18,31 mil títulos (-20,94). Os religiosos, com 77,35 milhões de exemplares (-5,81) e 7,24 mil títulos (-8,78), vêm em terceiro lugar. Na quarta posição, ficaram os científicos, técnicos e profissionais (CTP), com 35,46 milhões de exemplares (-19,76) e 14,71 mil títulos (-6,72).

O principal canal de vendas continua sendo as livrarias, que comercializaram 51,3% do total de livros vendidos no ano passado (excluindo aqui as vendas governamentais). Os distribuidores responderam por 17,12% e o segmento porta a porta, 9,66%.

A pesquisa traz alguns dados sobre o digital, mas ressalta a impossibilidade de realizar inferências estatísticas desse segmento, já que se trata de apenas um recorte do mercado e que ainda não há informações precisas sobre esse universo. O faturamento, em 2015, teria sido de R$ 16,8 milhões, mesmo número apurado no ano passado, o que leva a deduzir que os digitais perfizeram apenas 0,32% do faturamento global das editoras no período, número muito contestado por editores e analistas do setor.