Tereza Rachel, o grito do Teatro Brasileiro

Tereza Rachel partiu. Perdemos sua exuberância.

Nós artistas aprendemos que o teatro é grande e Tereza Rachel manteve-se teatral até em suas interpretações no cinema e na tv. Em cenas de close, era possível ver o olho da diva tremer, tamanha sua gula interpretativa. Era difícil dividir a atriz da pessoa e das personagens, parecia tudo uma coisa só, de uma forma única e genial. “A Gaivota” de Tchekhov que ela produziu e protagonizou foi um marco no âmago da história do teatro brasileiro. Seus trabalhos tinham um quê do divino e da bruxaria, da loucura e da vilania, excentricidade e grito. Tinha muito grito!

Os atores deveriam ser mais “ala Tereza Rachel” no tablado, porque todos nós já temos um pouco dela nos bastidores. Seus trabalhos não passavam por nós de forma despercebida, era tudo muito bom. A gangue do teatro tem a obrigação de manter viva a memória autoral dessa artista. As vilãs a acompanharam na fama de pessoa de difícil tato, não importa, era uma grande atriz. Homenagens são sempre poucas aos nossos artistas, mas, em seu caso tem sido muito singelas. Ela estava fora da mídia, talvez por opção, talvez não. Também não importa.

Durante o Troféu Imprensa de 1989, apresentado por Silvio Santos, Carlo Imperial foi questionado sobre quem teria sido a melhor atriz daquele ano (Tereza concorria por sua Rainha Valentine em “Que Rei sou Eu?”) e disse: “ – Tereza não tem nada a ver com esse papel, está caricata!”. Tolice. Caricata sim, mas esplêndida em uma personagem que só ela poderia ter feito. A atriz assumiu verdadeiramente a caricatura em sua interpretação, era cênico.

Tereza ganhava no grito, mas, era um grito artístico e belamente expressado por ela e só por ela. Outro dia com alguns amigos de teatro falávamos de seus feitos. Por redes sociais com Ivan Lima, grande ator, tentávamos encontra-la e ela já estava doente e nem sabíamos, é a vida nos pregando uma peça. Mais uma das Ferreto de Silvio de Abreu que se vai, a minha preferida. Inesquecível sua última cena na já mencionada “A Próxima Vitima” de 1995. Aniquilada e vencida, ela se derruba sobre um tabuleiro de xadrez em uma alusão claríssima de que o jogo, a trama, havia terminado. Daquela forma, aquela cena, só poderia ser feita por Tereza Rachel.

Sou seu fã e admirador. Não existe outra atriz com estilo e trabalho parecidos com o de Tereza e acho que não haverá. Sinto-me feliz por ter conhecido, pouco, por ser de outra geração, e admirado o trabalho de uma atriz como ela. Que pena! Que chato para nós. Aos mais jovens atores uma dica: busquem saber quem foi Tereza Rachel.