Sarau da Onça reúne crianças para ensinar a não fazer nada
 
Se é de pequenino que se torce o pepino, teoricamente seria na primeira infância o momento ideal para se colocar as pessoas em contato com atividades que poderiam lhes influenciar para o resto da vida. E é exatamente isso o que o coletivo Sarau da Onça, com o Grupo Ágape e colaboradores têm feito há várias semanas: se reúnem no Centro da Pastoral Afro Padre Heitor – Cenpah, na entrada do Novo Horizonte, em Sussuarana para aprender a aprender, brincando, ou, em outras palavras, “não fazendo nada”. Não fazer nada é igual a ócio criativo.

Esse é o pecado, o ócio, para o sistema capitalista em que vivemos, que prioriza a produção em série, transformação do tempo em dinheiro, enfraquecimento das relações afetivas e desumanização das pessoas. Para a arte, cidadania, arte-educação e para o fortalecimento das lutas por direitos humanos, não fazer nada, ou ócio criativo, é, justamente, o momento da libertação, da volta às origens, do contato com a força vital do universo, fortalecimento espiritual e preparação para seguir a jornada da vida.

E a jornada da vida em Sussuarana tem lugar para quem quer o bem. Além das atividades de expressão corporal, criação e interpretação de texto e atualidades, técnica vocal, história das danças sagradas e história dos alabês (encarregado do instrumental no Candomblé), o grupo de meninos e meninas tiravam um tempo livre para brincar de esconde-esconde, pega-pega e outros divertimentos próprios da faixa etária deles, que ninguém é de ferro. E com um sorriso no rosto tudo fica mais fácil, o aprendizado, inclusive, pois seguir é preciso.

E para seguir, somente com seguidores, discípulos. E a vida de comunidades só tem seguimento se houver valorização de cada uma das pessoas que nelas habitam ou circulam. Este é o segredo do Sarau da Onça, promover arte cidadã e alimentar as novas gerações, passar o bastão para quem chega e preparar os sucessores. O Sarau da Laje, realizado por crianças e pré-adolescentes do bairro, já é fruto de um longo trabalho do Sarau da Onça e que já tem pernas, pés e cabeças próprias, alimentados pelas apresentações dos adultos e, agora, fortalecido com as oficinas direcionadas para os meninos e meninas. A garotada teve aulas de Técnica de Voz (Marta Santos e Alexandra Santos), Técnica de criação de texto (Paula Rosa e Gonesa Gonçalves), Expressão Corporal (Sílvio Santos), História das danças sagradas (Gilmara Santos), Análise da Atualidade (Diego O’Lord), História dos Alabês (Lucas Cidreira), Coordenação de Alaíde Santana e preparação da mostra por Sandro Sussuarana. Os participantes foram: Aiana Luna Alves dos Santos, Cauan Santana Pires, Erick Ferreira Veloso, Iago Santana de Jesus, Ian Santana de Jesus, Igor Vinícius Santos Sacramento, Jennifer Santana dos Santos, João Paulo dos Santos Silva Júnior, Juliane Santana Pereira, Leilane da Silva Siqueira e Samuel dos Anjos da Silva Correia. Todos receberam certificado de participação e conclusão das oficinas, validado pela organização “Agentes de Pastoral Negros”.


Mas quem pensa que o trabalho termina aí, está enganado. Já estão previstas atividades com os pais e mães dessa garotada. O desafio é dar suporte aos familiares para que eles sejam os maiores incentivadores das crianças e que os apoiem na tarefa árdua de serem multiplicadores nos locais de trabalho, entre outros familiares e onde quer que se encontrem. Se não fazer nada dá tanto trabalho assim, o resultado é animador para quem assiste uma apresentação da meninada e se surpreende com o grau de consciência sobre preconceito, racismo, homofobia etc, sem perder a vivacidade e a alegria de viver.
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 07/03/2016
Reeditado em 07/03/2016
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