A Vida é um Sonho

  Antes mesmo de colocar no papel as primeiras impressões, surgiu uma interrogação quanto ao título. Inicialmente quanto a ele próprio: se deveria ser afirmativo ou interrogativo. Depois, não importando mais se afirmando ou interrogando, mas se preponderando a sua intitulação.
  Talvez fosse mais adequado a nominata: tirando a máscara. Parece-me que este está intimamente ligado ao outro. Quando se desmascara, se descobre tirando o véu, o ser ontológico se dá a conhecer. E o sonho, passando por essa prova de fogo, que é o seu desvelamento, perde o seu encantamento, a sua força de sonho que vivifica a sua existência.
  O sonho, desmoralizado, não encontra mais a máscara que lhe dá substância e vida. Ele se perde, ele morre no embate travado com a realidade.
  Neste processo ocorre duas situações antagônicas. A primeira corresponderia à tirando o véu, o ser ontológico se dá a conhecer. E o sonho, passando por essa prova de fogo, que é o seu desvelamento, perde o seu encantamento, a sua força de sonho que vivifica a sua existência.
  Na sequência, encontramos a borboleta, que, um dia, foi crisálida, mas carregava em si latência passageira de sua forma larvar.
   O que nos entristece, feitas essas considerações, é a constatação frequente de vidas humanas que, nesta metamorfose, nesta passagem de um estado a outro, renunciam e se ametrontam, ou se acovardam com a sua nova fase, agora real, concreta, verdadeira. A sua fragilidade ou a fragilidade de seus sonhos eram apenas sonhos. Disse o poeta, triste, amargurado, que "a vida não é feita de sonhos que se realizam, mas de realidades que não se sonham". Diria eu que a vida é feita, sim, de "realidades que não se sonham", mas, também de sonhos que se tornam realidade.
  A história humana aí está carregada de exemplos maravilhosos. Quantas vezes interrogamos uma criança, ainda bem pequena, sobre os seus sonhos. A resposta é rápida e positiva. E, um dia, ela se torna tal e qual se afirmou. 
  Tive o prazer também, privilegiddo pelo elo carmelitano que me une ao talento consagrado de Gabriel Vilela, ver de perto, no seu camarim, após o espetáculo, essa maravilhosa figura humana que é Regina Duarte.
  Ainda com o coração tomado de emoção (mais de mil pessoas a aplaudiram de pé) e trazendo no rosto os vestígios do personagem que, ainda há pouco, encantava e seduzia a todos nós, ali estava ela, não mais o personagem (o sonho), mas a mulher Regina Duarte (a realidade). Como é linda a sua realidade, e como são lindos os seus sonhos de reaiidade.

 
Roberto Gonçalves
Escritor
RG
Enviado por RG em 06/02/2016
Reeditado em 11/11/2016
Código do texto: T5535452
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