Komunicologia corporal (parte1)
Desde a idade embrionária o ser vivente aprende a lidar, e manter contato com o meio que o abriga, e que o protege. O embrião sem noção de direção, em meio à escuridão, envolvido pelo liquido amniótico não tem muito que ver ou perceber, deduzir sobre o que acontece ao seu redor. Estas são conclusões tiradas a partir nos nossos conhecimentos e referenciais de mundo, deste mundo físico e fisiológico que vivemos.
O som do coração da mãe grávida bate ritmado sendo percebido por vibração pelo feto, já que naquele momento os dois formam um só corpo. Os órgãos internos da mãe são muito próximos uns dos outros, e o coração fetal ainda não está tão desenvolvido para perceber o seu próprio ritmo cardíaco independente, em meio ao ambiente líquido e a escuridão que o envolve.
Quando mergulhamos quer no seja mar, em um rio, em uma lagoa ou em uma piscina é possível perceber alguns barulhos, alguns sons, dependendo de distancias e situações. Barulhos de motores de lanchas e suas esteiras produzidas pelo deslocamento, barulho de pessoas próximas ao nosso redor, nadando, gritando, movimentando ou se debatendo. Sons de bolhas e borbulhas, e etc. Também podemos perceber a iluminação do ambiente, que vai variando a intensidade com diferenças de profundidade. Destes fatos conhecidos e percebidos podemos então deduzir que a criança antes de nascer, tem algumas percepções, embora não saiba exatamente o que ou quem produz uma luz, um som, ou um movimento, mas pode sentir e perceber com as suas interações, posições e distinções.
Ao sentir, ouvir e perceber as batidas do coração da mãe, o embrião, depois feto, tem um referencial do que acontece fora de si, ou ao entorno de si. O bombeamento de sangue da mãe ritma-se com o seu, já que um mesmo sistema circulatório abastece as células dos dois seres. O ritmo do coração da mãe torna-se um referencial para o feto, um ser vivente o abriga e o conduz. Caso este coração pare de bater pode ser um risco para sua existência.
Além do ritmo cardíaco as posições do corpo que abriga e envolve o feto, criam novas situações. A condição da mãe, de estar deitada ou sentada, parada ou andando, estática ou em movimento. Condições e posições que podem proporcionar confortos ou desconfortos ao feto.
Com o passar dos meses, com aumento do tamanho do feto, torna-se mais apertado e mais incomodo o espaço que ele ocupa. E qualquer anormalidade percebida, uma anormalidade que o incomode ou que crie uma dúvida, pode reagir com um chute ou um movimento, tentando reaver a posição mais cômoda ou confortável. Até mesmo uma alternativa para que o corpo que o evolve de uma resposta de estar vivo.
Tal como o embrião, o feto continua no meio da escuridão e envolvido por um meio liquido. No máximo há observação de uma tênue claridade, quem sabe talvez por uma transparência do tecido abdominal maternal diante uma iluminação natural ou artificial intensa. Estes são os meios de interagir e se comunicar com o meio externo ou o meio que o envolve.
Assim começa uma interatividade do ser com o meio. E como diz Vygotsky o homem é modificado pelo meio e modifica o meio a que pertence. E tal como a mulher grávida tem seu corpo modificado por uma gravidez fisiológica ou patológica, modifica o ser incubado no ventre que evolui com o tempo. Até que por fim o ser embrionário e fetal abandona o espaço que ocupou cerca de nove meses, e continuam se modificando um ao outro com seus comportamentos e afastamentos, com questões sociais e psicossociais.
Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 22/12/2013 Texto escrito para: Go runners