Platão.

Platão foi discípulo de Sócrates, assim como Xenofonte também foi. Sabemos sobre Sócrates mediante os escritos de Platão, já que Sócrates não escreveu nada em Filosofia, mas escreveu outras coisas. Sócrates jamais disse a frase "Só sei que nada sei", pois ele sabia de muita coisa, inclusive sobre erotismo e estava ciente de que, em Atenas, havia a atividade de pederastia que era, antes de tudo, uma prática de educação que os mais velhos tinham para com os mais jovens.

Sócrates filosofou usando o elenhkós (refutação), enquanto que Platão filosofou com a maiêutica (metafísica). Quando lemos Platão em que é apresentado o Sócrates histórico, temos aí um Sócrates da maiêutica, já que se refere aos escritos de Platão.

Quando era mais jovem, Platão se envolveu mais na política de uma forma impensada. Com um templo, iria amadurecer para entender o que seria uma política Ideal. Com a morte de Sócrates, ele percebeu que a democracia ateniense não foi a forma de governo Ideal. Qual o problema da democracia ateniense? Primeiro que a democracia ateniense não era uma forma de governo pelo e para o povo, por uma razão simples: o cidadão ateniense tinha de ser filho de pai e mãe ateniense, maior de idade, livre, não podia ser mulher e muito menos estrangeiro; Atenas era cosmopolita (recebia filósofos, poetas e pensadores em geral) e tinha o regime democrático. Esperta tinha como regime político a oligarquia, era militarizada e xenófoba.

Platão montou, em seu Ideal, a divisão de almas para poder montar o seu Ideal de sociedade. O que era alma para Platão? Há três partes imateriais: a parte Racional (parte que conduz a inteligência), a parte irascível (parte da vontade, da coragem e do vigor que estão ligados ao tórax) e a parte apetitiva (relacionado ao comer, beber, às paixões, ao sexo). A parte racional está ligada a parte dos filósofos que são os verdadeiros dirigentes, cuja função é a sabedoria. A parte irascível é a parte dos guerreiros, dos soldados cuja função é defender a cidade dos invasores. A parte apetitiva é a parte do povo: os artesãos, os comerciantes.

O mito da caverna é uma passagem clássica da História da Filosofia apresentada em um dos livros do Platão chamado "A República". Essa obra nos mostra como Platão via, de um modo Ideal, a sociedade. O que esse mito traz para o leitor de hoje? A narrativa traz a imagem de prisioneiros presos, acorrentados, frente às imagens produzidas por uma fogueira que está por trás dos prisioneiros. Imagens são refletivas, através da fogueira, e eles acham que são imagens reais, e não imagens aparentes. Um dos prisioneiros é libertado de seus grilhões e logo passa a ver o Mundo fora da caverna. Sai da caverna e fica ofuscado com o Mundo fora dela: o mundo Real.

Nesse mito há dois mundos: o mundo sensível (o mundo dentro da caverna que mostra apenas as aparências) e o mundo Inteligível (o mundo fora da caverna que é o real). Para Platão, ainda estamos no mundo sensível vendo apenas o aparente. Passamos a conhecer o Real quando aprendemos a atividade racional. Eis a metafísica platônica: o mundo fora da caverna que representa o Real, o Perfeito e o Imutável.

Vivemos no mundo sensível, ou existencial, e o mundo Real está além desse em que vivemos: no intelecto. Um exemplo prático da metafísica de Platão: a Ideia de Árvore é imutável: como árvore Perfeita. Quando há uma mutação na estrutura da árvore, tornando-a, por exemplo, como cadeira ou como mesa, então passa a não ter mais uma Ideia do que era, porque não pode mais Ser.

Platão leu Heráclito e Parmênides. Para Heráclito, o devir é o real, e não o aparente. Para Parmênides, o devir é uma ilusão. Platão embarcou em Parmênides para mostrar que o devir também é o aparente, e não o Real.

Nos tempos modernos, Nietzsche fez uma crítica dizendo que o Pensamento de Platão, que era a Filosofia, passou a ser Religião. O que era uma Filosofia, passou a ser a Ideia de vida após a morte, Paraíso. Todo um trabalho de metafísica posto por Platão, como Pensamento, o Cristianismo deu uma nova roupagem a essa metafísica para colocar Deus como o Sujeito e o homem como o objetivo.

Para Nietzsche, "Deus está morto". Como assim? Não se tem mais a ligação entre o mundo aparente e o mundo Real nos tempos modernos. Não é que Deus morreu e eu seja ateu, mas porque não há mais a discussão entre os dois mundos da Filosofia. Vou lhe dar um exemplo prático, caro leitor: antigamente o sujeito rezava para que a sua dor de cabeça passasse. Mas com o surgimento da Ciência moderna, o sujeito passou a procurar o homem cientista para curar a sua dor de cabeça. Quando o sujeito reza, procura o homem e os valores da Ciência, ele mata a discussão.

O teatro grego mostra a diferença entre o trágico e a comédia. O trágico mostra o sofrimento do herói sem culpa. Ele teve o seu destino traçado e o seu sofrimento é irredutível. A tragédia conta a história de deuses e heróis enquanto que a comédia conta a história de homens comuns. Na tragédia, os deuses são apresentados como vingativos, sanguinários. Essa forma de apresentação do trágico colocava o homem grego em um estado de transe e emoções.

Quando Platão diz que o palco do tetro grego é a perdição, ele estava se referindo ao não favorecimento das aparências. Ele fez uma distinção clara entre filósofos e adoradores de espetáculos. Por isso que o mito da caverna não tinha como ser chamada de filosofia, mas com alegoria.

Sócrates faz Filosofia e Platão fala sobre a Filosofia. Sabemos de Sócrates a partir dos escritos de Platão. O Período Clássico colocou esses dois homens para dar significado à nossa vida. Devemos levar a sério a frase inscrita no Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo".

Archidy de Noronha
Enviado por Archidy de Noronha em 21/09/2015
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