Olhando os dois lados de uma questão
“A esquerda precisa se reinventar” (Luís Eduardo Costa, jornalista)
A frase do jornalista foi pronunciada durante a reunião da Academia Sergipana de Letras, no dia 24 de agosto de 2015. Nessa mesma data ocorreu a festividade de aniversário do MAC – Movimento de Apoio Cultural Dr. Antônio Garcia Filho, da mencionada academia. Diga-se en passant que foi uma tarde e um início de noite muito movimentados para a casa da intelectualidade sergipana. Sem escovar de botas, rasgar de sedas e bla bla bla dispensáveis, foi mesmo um evento de debate e de muita luminosidade para aquela casa de nome, renome e sobrenome.
Chamou-me a atenção a fala de Luís Eduardo, o jornalista, quando enfatizou a necessidade de toda a intelectualidade sergipana e, muito principalmente, a Academia de Letras, se posicionarem no debate político, pois tudo é política, no que tem muita razão e lucidez o homem da mídia. Complementando sua manifestação sobre a questão política atual, disse o jornalista que a esquerda precisaria se reinventar e deixar disto de estar nas redes sociais cognominando os de direita de coxinhas.
Sobre o uso do termo coxinhas escrevi uma crônica, mas, digo também neste texto que ainda não entendi o motivo desse uso, pois, ao que se sabe, coxinhas são como o tango, que nasceu nos cabarés e evoluiu para os mais requintados salões. Coxinha, para qualquer sergipano, é um salgado feito com uma espécie de mingau e recheado de frango desfiado e temperado ao gosto do mestre cuca. Esse salgado é a pedida de todo carrinho de lanche de esquina, de toda rodoviária, enfim, está por toda parte. Entretanto, temos notado que o célebre quitute passou para as mais finas mesas. Hora de lembrar também que bater panelas era coisa de professor esfomeado e destruído pelos baixos salários em um país que tem muito dinheiro para a corrupção e chega, paradoxalmente, ao ponto em que governadores parcelam o pagamento de funcionários públicos.
Avisemos ao pessoal que cuida dos direitos e deveres da cidadania que o governo parcela o que é nosso, mas cobra de vez qualquer dívida que tenhamos no Banese. Não sei se isto dá para ser entendido, mas que dá para ser sentido, isto sim.
É verdade que a esquerda precisa se reinventar, é óbvio. Quero dizer mais, todo e qualquer partido que alcance o poder, depois de um certo tempo, precisa se reinventar. Precisa ir ao psicólogo para tentar encontrar a personalidade que foi fragmentada pelas coisas naturais do Poder desde que o mundo é mundo e desde que o Poder é o Poder. Relembremos o Ulisses Guimarães ao dizer que o poder gera até orgasmos.
Dispenso-me de explicar porque a esquerda precisa se reinventar. O que tentarei é ser imparcial, vez que, se a esquerda precisa se reinventar, o que se diria da direita? Claro que não se pode olhar apenas um lado da questão.
A direita está virando esquerda porque, além de receber o apelido de coxinha, bate panelas, grita e fica nua nas avenidas do Brasil. Parece que em Aracaju ainda não há registro de nudez. Fica a sugestão, pois a direita acha que mora na praia. Ser direita ou esquerda mora na mente, na alma, no espírito. E se o sujeito não é de direita e nem de esquerda? Há um tipo pior, digo qual: é aquele velho coluna do meio, aquele indeciso e apaixonado pela submissão, aquele trepado no muro da conveniência. Isto é, aquele que faz qualquer negócio para ser coxinha.
Lula chamou a direita de elite. Nem sei mesmo se estaria de acordo com o ex-presidente. Elite é um conceito, como todos os outros, em constante transformação. Elite é quem tem dinheiro e mora em endereço da hora? Aracaju tem endereço da hora. E há quem se mude para lá com o objetivo de ser entendido como elite. Elite aracajuana, no passado, jamais bateria panela, jamais sairia nua na rua, jamais! Elite aracajuana era, nos idos de 60, uma espécie de bicho de plumas ensimesmado e isolado. Deixemos essa descrição para outro texto. Eu só sei que elite mesmo, independentemente das décadas, é aquele segmento social que respeita o poder instituído, não classifica candidatos e eleitores de um partido de trabalhadores de Petralhas (sinônimo de ladrões, como os famosos personagens criados por Walt Disney), não avança sobre presidentes usando palavras do pior calão.