Eternização de um gesto.

A fotografia é um recurso tecnológico para captação e impressão de imagens. A representação gráfica da imagem visível em um momento, para ser vista e analisada no futuro. Uma fotografia posterga a imagem de um determinado instante, captado por um click, que congela e eterniza os gestos e o tempo. Desde épocas remotas o homem das cavernas procurou deixar suas marcas, suas imagens, suas visões e experiências do dia a dia, registradas nas paredes das cavernas através de desenhos rupestres.

Daguerre no sec. XIX, com seu instrumento rústico deu um passo na captação de imagens sobre uma mídia. Atualmente entrou mais uma palavra no vocabulário fotográfico, o fotoshop, uma fotografia fotoshopada isenta a imagem de deformidades, defeitos e detalhes desinteressantes e indesejáveis. Não representa mais um momento, e sim um desejo. Um desejo do desejável.

Silvio Santos eternizou um ato, uma marca registrada de Hebe Camargo, um gesto que se tornou famoso em seus programas. Silvio cumpriu um ritual na visão de Bourdieu. Um ritual de passagem um ritual de adeus, com um simples gesto, com um selinho. E nesta imagem congelada de um momento, pode-se confundir a iniciativa, quem estaria dando um “selinho” Silvio em Hebe, ou Hebe em Silvio. O fato, o gesto, já causara polêmica, entre os dois. Certa vez em uma arrecadação de fundos para uma campanha Hebe falou que ofertaria uma quantia maior caso Silvio desse um selinho nela, Silvio aumentou a oferta para não dar o selinho. Dias depois a cena aconteceu desfazendo incômodos e maus entendidos.

Hebe Camargo foi tema de estudos acadêmicos, com seu primeiro grande estudo publicado em 1970, pela Editora Perspectiva de São Paulo com autoria de Sergio Micel, estudioso consagrado, com o título “A Noite da Madrinha” (Jornal de Hoje, Natal/RN em 04/out/12). Moça de origem humilde não ligava para críticas, mas para o público. Foi arrumadeira, fez parte em dupla sertaneja. Participou de programas de calouros no rádio. Destacou-se no cinema, foi apresentadora de TV e empresária. Não tinha uma formação acadêmica. Interrompeu os estudos para ajudar a família, mas recebeu um título de Professora Honoris Causa.

Para muitos, talvez, Hebe não foi exemplo de sofisticação, tão pouco um exemplo simbólico cultural, já que com sua insuficiência nos conhecimentos escolares, pouco poderia ofertar ao mundo uma menina que não tinha um título universitário, numa sociedade onde o que vale são os diplomas e títulos. O poder simbólico das titularidades. Em outras épocas compravam-se títulos, mas a sociedade instituiu que eles precisam ser alcançados e obtidos por determinação de um grupo seleto e restrito. Foi tema de um estudo em um nível não alcançado por ela.

A menina do interior paulista alcançou um lugar onde raríssimos mestres e doutores alcançaram, e dos que chegarem lá a maioria estará como convidado.

Nov/2012

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Roberto Cardoso (Maracajá)

Ativista Cultural Cientista Social RM & KRM