QUE É LER? POR QUE LER?

Meus filhos terão computadores, sim, mas, antes, terão livros.

Bill Gates

Ler é destas atividades imprescindíveis. De modo geral, todos leem. Entretanto, aqui, me refiro a algo mais restrito: a leitura sob dois aspectos (Compreensão/Interpretação) e porque devemos ler sempre. Neste processo, o artefato central é o Livro.

Na única Livraria de Palmas (GEP) – na qual me encontro quase todas as tardes – uma repórter, entusiasmada, me perguntou: “o que o senhor acha do crescimento da venda de livros no Brasil, neste semestre, que subiu para quase sete por cento em relação ao ano passado”? Livros? Não se trata, parte disso, de mero arremedo lucrativo voltado para pinturas? Talvez tenha lá seu valor enquanto terapia. Leitura Política, lamentamos, continua nossa grande pobreza. Livrarias, Brasil afora, estão falindo e, não se sustenta, o discurso de que a maioria dos leitores compra via internet e eBooks. O que temos, destarte, é uma supercrise do Livro e da Leitura.

Quando pensamos em Leitura, de modo algum, havemos de aceitar atitude de pura descodificação. Do entretenimento ao tratado mais complexo, precisamos fugir de uma espécie de “apagão” e nos lançarmos, ativamente, à procura tanto do que o texto diz como do que ele nos diz. Ler e não entender, afirma Adriana Natali, é chaga que afeta até a elite bem formada do País. De modo que um comportamento linguístico adequado, a partir, sem dúvida, dos objetivos do leitor, fundamentado em seus conhecimentos linguísticos, enciclopédicos e interacional, passa pela Compreensão. Por sua vez, ela exige respostas no que toca ao Assunto tratado, à Tese ou ponto de vista defendido e, sobretudo, aos Argumentos que procuram fundamentar a tese. Resolvida esta primeira etapa, trabalharemos a mais complexa: a Interpretação, sintetizada na expressão “o que digo ao texto”?

Ler, acima de tudo, é ousar trazer à luz sentidos a partir de um texto. Nesta empreitada, o que nos desafia é interpretar sem cometermos ações, digamos, criminosas significativas. Ora, jamais podemos dizer algo que dado texto não nos possibilite dizer, é o que conhecemos por “arbitrariedade interpretativa”. Há, portanto, limites neste processo. Linguagem que signifique qualquer coisa é violência comunicativa. Umberto Eco nos alerta: “existem interpretações clamorosamente inaceitáveis”. Toda Leitura, portanto, é Radical – explicita os elementos conceituais -, é Rigorosa – ocorre através de raciocínios lógicos, coerentes e coesos -, é de Conjunto – relaciona a interpretação às várias facetas entre si. Uma abordagem só estrutural ou só formal é tolice cognitiva, só conteudística é gangorra ideológica. A pluralidade de leituras – que se constrói tendo em vista o lugar social do leitor, seus conhecimentos, valores e as próprias vivências -, não significa, consoante Harry G. Frankfurt, abertura para a falação de merdas.

Por que ler? nos conduz a múltiplas respostas. Mestre Morais (A Arte de Ler) nos instiga: “Lemos para saber, para compreender, para refletir. Lemos pela beleza da linguagem, para a nossa emoção, para a nossa perturbação. Lemos para compartilhar. Lemos para sonhar e para aprender a sonhar. Lemos até para esquecer”. Digo, sem hesitar, que ler, de primeiro, é Alimento. O sujeito Ledor amplia seus conhecimentos, sua cultura, seu vocabulário, sua informação, aprimora a escrita, a memória. Segundo pesquisas, diminui o estresse e possibilita o acesso a empregos melhores. Agora, a maior razão para lermos, consoante o exposto acima – leitura sistemática –, é porque despedaçamos nossas ignorâncias, ingenuidades e nos tornamos ruminadores Críticos, ou seja, rechaçamos aquilo que nos queiram impor automaticamente. Pelo caminho da Leitura Crítica, nos tornamos íntimos de jogos conceituais, dos conflitos e dos tantos paradoxos semânticos.

Na sociedade do espetáculo, amigo, prolifera o que linguistas classificam de Aliteratura. No caso do Brasil, esse fenômeno sempre ultrapassou o número de analfabetos. Creio mesmo ser ele nossa malária intelectual. Enfim, acordemos, em todos os sentidos, para o adquirir Livros e para o Saber Ler. Assim, nosso senso crítico se fortalece e nossa consciência cidadã construirá uma Nação menos corrupta, menos superficial e mais autoconfiante.