Eu e Archidy Picado
Outra vez sou obrigado a demonstrar um fato, observando assim quão difícil tem sempre sido para as pessoas perceberem o que alguém já classificou como “o óbvio ululante”: eu não sou “Archidy Picado”.
E volto a pretender explicar isto por causa de minha recente participação na mostra Narrativas Poéticas, exposição de pinturas, esculturas e poemas à mostra na Galeria de Arte Archidy Picado, situada nas dependências da Fundação Espaço Cultural da Paraíba – FUNESC, em João Pessoa, PB, também comumente confundida por muitos com “minha galeria” por ter sido batizada com o nome de meu pai, sendo exposições que lá acontecem também frequentemente confundidas com exposições das obras dele e que, atualmente, expõe a coleção de obras de grandes artistas visuais da coleção do grupo banqueiro Santander Brasil. Entre elas, pinturas de Emiliano Di Cavalcanti, Gilvan Samico, Cícero Dias, Siron Franco, Manabu Mabe e Tomie Ohtake, entre outros conhecidos por meu pai, tendo sido alguns seus mestres durante sua estada no Rio de Janeiro nos idos anos 1950.
A exposição – que tem curadoria geral de Helena Severo – também reúne alguns escritos de poetas nacional e internacionalmente conhecidos, como Alice Ruiz, Mario de Andrade, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Vinicios de Morais e eu, entre outros escolhidos a compor a coleção dos que foram reconhecidos grandes artistas visuais e literários.
Mas embora meu poema Labirinto esteja lá por ter tido reconhecida sua qualidade estética, o que muito me honra e a que sinceramente agradeço, não participo da exposição apenas pelo mérito a mim indiretamente conferido, nem por ser filho de Archidy Picado, mas, mais uma vez, por ter sido confundido com ele – já que os organizadores da Mostra pensaram que minha poesia se tratava de “um fragmento” de um poema de meu pai, sendo sua participação, portanto, uma pretendida justa homenagem a ele, que foi um dos precursores do Modernismo na Paraíba, entre outras coisas; não a mim – que, a despeito de ter oficialmente permitido a participação do poema na referida mostra, nunca me dispus nem me disporei a “pegar carona” em seu nome e prestígio para me promover enquanto o artista que meu pai, antes de qualquer um, reconheceu que eu era ainda quando adolescente promissor desenhista de histórias em quadrinhos, cujos primeiros trabalhos, publicados no suplemento dominical O Pirralho deste jornal nos idos anos 1970, foram generosamente comentados pelo crítico jornalista Marcos Tenório.
Mesmo agradecendo a participação pelo convite inadvertidamente a mim feito por Andréa Bolanho, responsável pela Pesquisa e Licenciamento de Direitos Autorais dos Poemas e das Obras Audiovisuais à exposição – que se comunicou comigo por telefone pra saber se poderia dispor do poema Labirinto para exposição, referindo-se ao seu autor apenas como “Archidy”, senti necessidade de esclarecer minha participação na referida mostra, repito, para tentar evitar possibilidade de que algumas pessoas, minhas conhecidas, principalmente do meio artístico paraibano, me confundam com um oportunista.
A despeito de que, substancialmente, meu pai tenha produzido melhores obras que eu, tanto em suas atividades artísticas, visuais e literárias, quanto enquanto professor universitário e fluente atuante em relações internacionais, ele morreu há 29 anos com 46 anos, impossibilitando-nos de apreciar outras tantas obras que certamente produziria, se estivesse vivo até hoje – quando sou eu quem, consequentemente independente de suas influências, procura dar continuidade ao desenvolvimento de certos bens artístico-culturais cultuados por nossa família a partir de meu avô paterno, o maestro Francisco Picado – fundador da primeira Orquestra Sinfônica da Paraíba nos idos anos 1940 – procurando prezar não apenas pelo bom nome artístico de meu pai, mas pela responsável construção do meu próprio.
Porque afinal, como tenho sempre dito e repetido a teimosos jornalistas e desatentos admiradores, eu não sou “Archidy Picado”.