Costinha: o redescobrimento (publicado originalmente em 23/6/2015)
Coitados de nós, brasileiros. Tenho pena do humor verde-e-amarelo praticado hoje. Aqui vai o meu muito obrigado a canais como Viva, TBS e outros que tais. Outro agradecimento ao YouTube... Se não fosse o site, estávamos totalmente perdidos. Sem eira nem beira para dar risada. Caso você, o raro leitor que me lê, aprecie os préstimos de ditos cujos como Marcelo Adnet, Leandro Hassum ou o Marcius Melhem, Paulo Gustavo, Ingrid Guimarães, Heloísa Perissé, a turma do ‘Zorra Total’ toda, o seu gosto corre sérios riscos. Você precisa urgentemente conhecer um personagem ímpar: Costinha.
Um homem chamado Lírio só poderia trazer ao Brasil coisa boa. Lírio Mário da Costa trouxe. Fez mais. Transformou o humor tupiniquim na era de ouro da risadaria a esmo. Naqueles anos, ao se ligar a TV, se não dávamos de cara com o Mestre dos Mestres Chico Anysio com seus tipos, ficávamos frente a frente com Walter D’Ávila, Brandão Filho, Nádia Maria, Jô Soares, Renato Corte Real, Paulo Silvino, Lúcio Mauro, Ronald Golias etc. Escrevo no passado, mas não vivi isso. Tenho ‘só’ 33 anos.
Mas o caso de Costinha é singular. De família circense, viu tudo desmoronar aos 13 anos. Seu pai abandonou o lar e Lírio teve de se virar. Foi garçom de boteco vulgar, contínuo, engraxate. Foi até apontador do jogo do bicho. Isto tudo na então capital federal, o Rio de Janeiro do fim da década de 1930, começo da de 1940. Empregado como faxineiro na Rádio Tamoio, de Assis Chateaubriand, teve a sua primeira chance na carreira que o consagraria: a de comediante. Daí a fazer filmes foi um pulo.
Demorou nada para se tornar conhecido. Piadas obscenas e as performances como ‘bichinha’ deram-no a fama certeira. Esteve na 1ª versão radiofônica da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, em 1952, programa pra o qual voltaria anos depois, em 1991, com o personagem Mazzarito (o nome era a homenagem a Mazzaropi e Oscarito). Foi o último papel da sua vida. Costinha morreria em setembro de 95, aos 72 anos, de embolia pulmonar.
É preciso redescobri-lo de imediato. Era um supercômico. Antes de tudo, Costinha era grande ator. Nas piadas que contava, o rosto caracterizado pelo imenso nariz, a boca com poucos dentes e os cabelos engomados (encanecidos na velhice) davam pra história ares de perfeição. O bordão que inventou na ‘Escolinha’, com o microfone ‘boom’ (aquele em que o técnico segurava por cima), era antológico e se resumia a somente um som! Nem Chico Anysio, de difícil gargalhada, não se aguentava quando o Costinha iniciava o trabalho. Coisa de gênio mesmo.
Ele atuou em todos os meios: rádio, TV e cinema. E que bom que temos como rever Costinha! Senão, como escrevi no começo, coitados de nós.