O CRIAR É SENDA DE DUAS MÃOS

O ato da criação literária não é unilateral em sua teleologia: doutrina que estuda os fins últimos da sociedade, humanidade e natureza. Suas origens remontam a Aristóteles com a (sua) noção de que as coisas servem a um propósito. Escrever artisticamente não é uma pontual lavratura destinada a certo receptor, e sim, é primordialmente multidirecional, ainda que o autor deseje atingir preferencialmente determinado cliente literário ou grupo, a fim de produzir tal ou qual comportamento. Nunca há de se esperar um individuado leitor, e sim um receptor indeterminado e eventual, que procederá a (sua) personalíssima análise daquilo que é da natureza objetiva e finalística do ato de leitura – a reflexão sobre a peça verbal. Este, ao se manifestar sobre a peça postada ou publicada, sempre acreditará estar dando sua contribuição pessoal (e válida) ao escriba que o instigou com o teor do texto. Todavia, por vezes, o criador da obra é tão individualista que sequer imagina a possibilidade de que o seu texto possa inspirar ou vir a exigir algum diálogo. Quando este viés predomina no pensar do autor, o texto nasce morto, pois se exaure nele próprio.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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