MARIA RIGO, A ABELHA-OBREIRA

Joaquim Moncks (*)

MARIA RIGO é um monumento vivo da cultura popular canoense, uma denodada ativista do associativismo poético, especialmente. Uma alma voltada para o solidarismo e para a benemerência social em sua comunidade. Daquelas que não nasceu para a coluna social dos jornais e revistas, mas para fazer-se presente no lugar comum da vida, auxiliando, ajudando, fazendo desse processo o vetor primordial em sua religiosidade nata, oriunda da formação conventual franciscana.

Para um exemplar humano desta especificidade – vivendo numa cidade com cerca de meio milhão de habitantes – há sempre muito por fazer, desde o desenvolvimento dos preceitos da solidariedade, nos tenros anos. Na atual quadra de sua vida, aos quase setenta, o decurso do tempo começa a lhe fazer justiça. Os contemporâneos são testemunhas oculares do que lhes digo. Em muitos setores da comunidade canoense, particularmente na periferia – e é onde estão os maiores e mais calcinados problemas – os dedos obreiros de Maria Rigo plasmaram a artesania social de sua entrega ao semelhante.

Escolas leigas e de orientação religiosa – do centro nervoso e seletivo da cidade aos bairros pobres – amistosa e presencial atuação na antiga Fundação Cultural, no conjunto educacional dos lassalistas e dos luteranos, ambos preeminentes em Canoas; em dedicação especial aos universitários, nas feiras do livro no centro e nos bairros, ativa nos movimentos sociais reivindicando por escrito e presencialmente; nas ações missionárias em igrejas, projetos conjuntos com a prefeitura, em suas secretarias municipais, na câmara de vereadores, órgãos públicos de várias áreas de atuação, clubes de serviço, centros de tradições gaúchas, são patentes exemplos de sua gana de viver em participação comunitária.

Liderança feminina que sempre buscava o consenso – em tudo no que se envolvia, tratava de distribuir tarefas – não sendo de seu feitio a centralização das mesmas. O seu trabalho na Casa do Poeta de Canoas é um bom exemplo disto: aglutinou uma fauna humana de egos de várias vertentes, a tudo dosando com a arte gêmea da poesia, a música e o teatro. Nos eventos locais de que logrei participar, a partir de 2002/3, notadamente os “cafezinhos poético-musicais”, mensais – à moda, gosto e formato de Nelson da Lenita Fachinelli, o fundador da Casa do Poeta Rio-Grandense, a entidade-líder do Movimento das Casas de Poetas do Brasil, fundada em 24/07/1964 – era sempre uma festa de confraternização, mercê da heterogeneidade dos naipes artísticos envolvidos. E este clima permanece até os dias atuais, segundo temos notícia e as redes sociais propalam e confirmam.

Em mais de 40 anos, me impressionaram, na área da cultura canoense: João Palma da Silva, Antonio Canabarro Tróis Filho, Antonio Jesus Pfeil, Francisco Antonio Pagot, o Xico Júnior; Nemézio Miranda de Meireles, e atualmente, Maria Rigo. Esta figura, como boa e frondosa árvore, não deixou por menos: legou sua filha Mari Rigo, para o magistério e para a poesia. Não mais devo depor, porque seria cansativo e desnecessário... Se a alguém interessar a validação do que ora afirmo, é só compulsar o seu curriculum vitae.

Era o mínimo que eu poderia dizer sobre esta personalidade canoense emérita, tendo o seu ninho de nascimento na velha Vila do Triunfo, forjadora, no séc. XIX, de tantas personalidades culturais segundo o que registra a história rio-grandense, especialmente o dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo. A contemporaneidade agregou Maria Rigo a Canoas, na área metropolitana, para a posteridade do bem servir.

Registre-se o agradecimento da Casa do Poeta Brasileiro a Maria Rigo e aos ativistas culturais literários, poéticos, musicais, teatreiros e das artes plásticas, bem como às autoridades públicas que coadjuvaram nas tarefas, ajudando-a a marcar passagem no seu tempo de viver. Hosanas à sua vida honrada e laboriosa e ao quadro associativo – anterior e atual – da Casa do Poeta de Canoas/RS.

Porto Alegre, RS, 22 de maio de 2015.

(*) Joaquim Moncks é membro titular na Academia Rio-Grandense de Letras, cadeira 19, e coordenador executivo da POEBRAS Nacional desde 2003.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5251574