O TEMA QUE ME AGRADA POR TEMER NÃO SER - (RLessa/Nov/2014)

Quando determinada manifestação cultural humana gradual e conscienciosamente passa a se tornar produto de consumo com valores dispersos e distantes de sua essência, perde também gradualmente seus referenciais que legitimam todo seu processo natural de evolução pela sociedade. Com tal decrepitude instaurada ocorre também o perder identitário daquilo que há muito existe.

Percebe-se a decapitação artística onde através do niilismo da linguagem o bem imaterial é catalogado, temporalizado, especificado, cadenciado e não menos pior utilizado como mais uma marcação daquilo que é arte e que é substituída no mundo por um sistema cartográfico equivocado.

O floreio utilizado como pano de fundo dessa pandemia destrutiva é de forma rasa mas infelizmente efetiva a desconstrução da riquezas simbólicas enquanto parte alegórica e alienada da arte. Esse floreio parte sempre para a tentativa de auto engrandecimento para se tornar floresta, mas as vezes se perde na folha e não se vê pertencente mas possuidor.

Dessa forma e para total desconexão ancestral, ocorre a repetição incessante da arte torna-a cópia da cópia da própria cópia, e nada mais do sentido original permeará o que surge. A ciência explica tal fenômeno de sua forma sistematicamente acadêmica, mas nesse sistematizar não ocorre o real prazer pois é só explicar e reproduzir códigos e com isso perde-se a capacidade de realizar sonhos.

Quando a ideia da tradição da cultura popular dilui-se tão somente e irracionalmente em palcos e demostração verifica-se a total adulteração daquilo que muitas vezes é a marca de um lugar, de um povo de uma arte. O processo evolutivo natural de um bem imaterial é rudemente travestido de convenientes rumos, lucros, egos e medos, perdendo-se imediatamente a total noção da função da arte, do rito, do mito, das crenças que caracterizam o folclore.

Quando ocorre a substituição da linguagem enquanto criação dos valores oriundos do legado ancestral, por códigos equivocadamente vazios e efêmeros, ocorre também a sustentação de que a tradição está para servir de alimento e consumo e não de força nutriz e norteadora de um contexto cultural multi diversificado.

Tornar o olhar atento a tais investidas anti naturais é estabelecer uma constante batalha contra todo um sistema voltado à manutenção de imposturas que se revelam cada vez mais usuais e destrutivas das tradições folclóricas de um habitat.

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 31/01/2015
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