CULTURA PARA QUÊ(M) MESMO? - (RLessa/Jan/2015)
UM POUCO DE CULTURA, POR FAVOR...
Hoje lapidei diversos conceitos pessoais que me direcionam à plena ciência de que todo o movimento cultural humano; os desavisados que me desculpem essa quase redundância, mas eu, na tentativa de ser um pouco mais eclética, defendo a tese que não só o ser humano desenvolve cultura; e partindo dessa premissa, para uns equivocada, para outros nem tanto, seguirei minhas "apalavrinhações" compassadas e tonificadas de acordo com minhas opções de livre pensar. Moro num município no interior do estado de São Paulo e como tantos nesse Brasil e mundão à fora, com o berço acolchoado de manifestações artística culturais diversas, o que faz refletir que há espaço para tudo e para todos indistintamente. Ledo e lamentável equívoco de minha parte, infelizmente espaço há, mas abertos para poucos privilegiados e temporários fazedores de uma cultura muitas vezes; afirmo muitas vezes e com exceções: temporária, tendenciosa e por vezes abastecida e extorquida por interesse e causa do poder vigente, independente se socialmente é popularesco, partidário, religioso, criminoso, familiar, empresarial... Enfim independente de qual ideologia e nichos adotados em nossa civilização ou se todas conjuradas nesse processo desenfreado de aculturações que vivenciamos infinita e permanentemente. Mas feliz ou infelizmente o ser humano tende sempre à adaptação ou subversão, ele se molda aceitando impensadamente tudo, chegando até à escassez do desenvolver um mínimo senso crítico, ou num salto quantitativo e qualitativo muda estratégias e amplia sua visão daquilo que o influencia e, na medida do possível, opta por aquilo que melhor lhe apraz, dessa forma a cultura permanece à pleno vapor.
UM POUCO DE CULTURA, PELO AMOR...
Podemos sim, ou melhor, temos sim o poder de escolha dos padrões culturais que absorvemos e essa opção independe daquilo que circunstancialmente a aprisiona, de forma que quando desperta a cultura aplicada tende à libertação individual e ou coletiva, mas quando adormecida é latência, é potência, é devir... permanecendo mesmo que sequer notada sua função libertária. Jogando a complexidade de lado; e beirando a quase insanidade, à procura de equidade para tantas imposturas culturais que permeiam a sociedade, tornando-a um todo fragmentado com a finalidade de estabelecer falta de coesão intelectiva que fomentem o livre pensar; sigo em frente colhendo o que de melhor, segundo minha tão parca percepção, há de acesso à cultura e saliento, não só cultura artística compõe o processo cultural da humanidade, o que muitos equivocadamente ainda consideram e sequer tentem à buscar novos saberes sobre a questão. Mas voltando ao plano das escolhas, chego até ser uma pessoa anti social quando defendo minhas escolhas culturais, onde considero respeitando as escolhas dos outros, o descarte imediato daquilo fétido e corrosivo que é veiculado diuturnamente na mídia, mascarado de supra sumo da elite cultural existente. Sabendo que meu sentir e pensar fluem de certa forma para outros parâmetros, onde considero o belo, mesmo que inadequado, o aprazível, mesmo que não convencional, o equilibrado, mesmo em desequilíbrio; deixo por crescer tudo aquilo que eternamente busco compreender e florescer em mim e que diferencia de muitos, não que isso seja bom ou ruim, apenas o é. Nada contra ou à favor (rs) as falanges de improbidades culturais institucionalizadas legalmente e à serviço daquilo que chamam bem comum, mas que na verdade é um mal a ser extirpado.
UM POUCO DE CULTURA EM CADA UM DE NÓS...
Somos enriquecidos de processos culturais herdados, adquiridos, reinventados e que tecem em nós todas as formas de identidades que nos constitui, e essa interface múltipla traduz-se em nossos modos viver, de fazer, de dialogar, e de contribuir enquanto indivíduo que compõe essa orquestra humana, algumas vezes desafinadas ou por entoar sons dissonantes que enriquecem a melodia da vida. Tenho plena ciência de que todo esse processo não é somente cerebral, mas um misto de tudo o que existe e até mesmo do que não existe, eis nossa riqueza maior, o re inventar o existir. Mas de uma forma algoz somos sim vitimados pelos cortes de sensores com referenciais padronizados e nada aberto ao diálogo e que se institui enquanto proprietários e mentores do processo cultural humano, mas que na verdade utilizam a máquina midiática como uma ponte que une a humanidade, globalizando conceitos, padronizando pensamentos e massificando as ações que se voltam indevidamente à manutenção daqueles que são por eles direcionados à servidão. Muitas vezes o pão tão bem sovado se esquece da sova e ousa sair da forma e eis a possibilidade divina da cultura se manifestar e atingir o patamar de subversão desse ordenamento que oprime ideias, criatividade e assassina a criança que nasce para a percepção criativa das coisas forçando-a à involução que a transformará naquilo que por hora nomeio de zumbi social e essa criança cresce e com essa forma de crescimento atrelado ao estribo, atrofia suas asas que deveriam serem livres e obstrui o potencial latente que certamente poderia contribuir para um coletivo diferenciado.
UM POUCO DE CULTURA FRAGMENTADA...
Estamos sim, terrivelmente nutridos com muito lixo cultural e dentro desse bojo "a teta" que nos alimenta é a que envenena ao mesmo tempo que nutre-nos de uma inércia corporativa e permissiva. Cabe à quem o despertar? Quem seria o grande líder-mártir a nos libertar? Que bom se tudo fosse dessa forma, onde teríamos quilos super heróis à nossa disposição para nos salvar quando necessário, ou mesmo um mártir bem justaposto e à nosso serviço para ser brutalizado e até mesmo sacrificado, caso algo não ocorresse bem, deixando-nos com as mãos limpas e confortavelmente atrelados à covardia de não se posicionar por vezes no comodismo, alheios ao fato de que nossos líderes devem assumir a responsabilidade total pelo nosso acomodamento mental. Receita bem fácil essa, tão fácil que somos povoados de heróis e mártires que alimentamos pelo simples fato de não querermos nos assumir a liderança de nossas próprias vidas. Sim, existe essa possibilidade, desvelá-la e praticá-la não cabe ao outro mas à cada um de nós... Mas ser livre incorre também em sermos responsáveis por tudo que somos e fazemos e essa pílula é por demais amarga para muitos.
UM POUCO DE CULTURA É POUCO PARA A CULTURA...
Os fragmentos culturais que nos chegam midiaticamente são por vezes fonte de desinformação, ou melhor, de deformação cultural, onde se desintegra à estrutura manifesta esse adéqua às suas múltiplas e diversificadas facetas, abastecendo-nos cotidianamente de eterna ausência de conteúdo reflexivo, sob a justificativa de que assim que deve ser para se atingir a felicidade plena, servem-nos pseudos doses de felicidades e ainda pagamos muito caro para ingerir o que nos ata o corpo, a mente e o espírito. Rimos aos ventos de nossa própria condição e sequer nos damos conta de toda essa conjuntura inserida, é a que nos contextualiza enquanto rasas fossas a receber os detritos muito bem estruturados para que nos faça seguir em frente, sem direções e ou metas, ou melhor ainda, digo, pior; somos enxovalhados de ideias e ideais implantados matreira e maliciosamente com a finalidade de forçar-nos à reprodução e multiplicação de todo esse hiato conceitual, onde o mote maior é tecer na face do homem socialmente estabelecido, a maquilagem modeladora de sonhos e realizações pessoais possíveis, e sempre dentro das normativas já estipuladas, e introduzidas em nosso pensar como sendo próprias e únicas de nossas escolhas pessoais, quando na verdade são implantadas. A cultura em si também se estabelece como veículo primordial dessa parafernália ditatorial e providencia a canga que nos artificializa e oprime a tal ponto até que domados nosso corcel interior, não mais nos importarmos com o fato de carregarmos o fardo daqueles que se beneficiam com a escravidão cultural que nos é imposta.
UM POUCO DE CULTURA PARA QUEM TEM SEDE E FOME...
Existem oásis culturais que nos abastece de esperança na produção de uma cultura à parte da desinformação vigente e que se constitui de verdadeiros seres que lançam mão de seu produto cultural maior, afirmo, independente de quais segmentos seguem, e que de forma a resistir à impactante forma comercial e ideológica que tanto vemos por aí. Esses oásis espargem luminescência e abrem espaços aos que ainda sobrevivem diante dessa tempestiva e insaciável fome de poder que a cultura pode ou não propiciar aos que escolheram civilizar a humanidade de acordo com seus interesse e metas. Quando esses oásis além de saciar sede e fome cultural das pessoas, também servem de farol de resistência e sobrevivência cultural, os atentos servos voluntários do status quo tornam-se gananciosos defensores daquilo que os oprime e cega, e de forma lancinante e totalmente desprovida de ética e verdades, fazem de tudo para segregar e principalmente cessar a onda de cultura independente que pode ou não se tornar impecilho para seus donos. E esse processo diferenciado de boa e tão necessária cultura se esvai, em seu lugar se mantém tudo o que muitas vezes servirá para manter a descontinuidade do livre pensar e produzir cultura de servidão. São programações midiáticas que sem que percebamos mantém e abastece todo o sistema que não quer que percebamos o quanto somos e estamos cerceados culturalmente.
UM POUCO DE CULTURA NA MIDIA...
Um dos sintomas aparente e que infelizmente comprova a eficácia dessa ditadura cordializada pelo seu sujeito de maior difusão, a mídia; é a pseudo sensação que somos e estamos gerando uma cultura livre e privilegiada, quando na verdade somos essencializados artificialmente e com isso, reproduzimos incessante e servilmente tudo o que sorvemos nas informações implantadas e ainda somos fonte de difusão de tudo daquilo que nos aprisiona. Seria o momento de repensar esse fator à todo momento, pois a ditadura cordial, filha dileta de outras ditaduras que a humanidade sofreu, agora se adapta quase que imediatamente à todos às vacinas de consciência para se manter viva, atuante e ativa. Penso que devemos sim estarmos sempre atentos, eternos vigilantes insones que sabem e dão o valor devido ao livre pensar, agir, refletir e atuar socialmente. Cabe à nós macular essa venda que nos cega e arriscar novos horizontes, mesmo que à princípio não tão coloridos e ideais, mas fruto de nossa própria construção e opção.
Para terminar... ou eternamente recomeçar ouso postar o poema " No caminho com Maiakovski" , de autoria de Eduardo Alves da Costa, autor nacional , escrito nos idos de 1967, e que por equívoco midiático e do emocional coletivo, foram creditada á Wladimir Maiakóviski:
"NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI (Integral)
Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer,
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam,
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz,
e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm, a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto, a ousadia me afogueia as faces,
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade,
como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor, e o que vejo, e acabo por repetir, são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe, e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo,
e me pedem que aguarde, até que a Democracia se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas, e o riso que nos mostra,
é uma ténue cortina lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo, e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão,
e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder, mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão, é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata,
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
esconder minha dor diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita
- MENTIRA."
NOTA: Dedico essas falas à sociedade e sua falta de saciedade cultural, às e em especial ao jornalista e arteiro Kal Mattus, de Piracicaba, interior do estado de São Paulo, que como tantos sabem muito bem do que falo, sinto, reflito e escrevo.
Em Piracicaba-SP, ocorre sempre o cerceamento de ações voltadas à construção cultural liberta e vejo isso sabendo que resistir é um fator necessário para que deixemos sementes para "amanhãs" possíveis, tangíveis e com maior respeito à todos os processos culturais existentes. Repito, há espaço para tudo e para todos, mesmo que não apreciemos, mesmo não sendo nossa "praia" de atuação. O que infelizmente percebo é que as pessoas não mais se tocam, se unem e sequer se falam mais... e isso contribui incessantemente para a manutenção dessa ditadura cultural vigente e que nos molda quando e como quer, muitas vezes ofertando migalhas que aceitamos como o dolo necessário para dizer não. Noto também que enquanto não recebemos uma minúsculo privilégio, somos críticos, lutadores de direitos e muitas vezes nos deixamos corromper e nos vendemos cambiando nossas ideologias por migalhas e pelo ego que a mídia massageia tornando-nos "famosos", mas nem tanto... mas por quanto tempo mais, seremos servos voluntários?