MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA

Há um lado da nossa vida que parece, mesmo, uma espécie de mistura de teatro burlesco, com circo e hospício. Nessa pantomima cruel, como não podia deixar de ser, há atores e assistentes. Os assistentes somos nós, os otários, e os atores os que controlam, produzem, apresentam e lucram com os mecanismos da tecnologia midiática.

Diuturnamente, nós, os infelizes telespectadores, ouvintes e internautas nos vemos torpedeados por uma infinidade de propagandas mandatórias, imperativas, induzindo nosso comportamento, nessa ou naquela direção, sempre a favor dos interesses daqueles que se mantém por trás das telas, microfones ou rotativas, bem como os que lucram com isso!

“Compre isso! Ligue já! Vá agora! Você não pode perder! Seja proprietário! Tenha aquilo! É só hoje! Faça já! Não perca tempo! Liquidação amanhã! Troque por um novo! Financie em módicas parcelas! Etc..., etc...

Essa gente capciosa insiste em nos considerar como mera massa de manobra, manipulando um potente mecanismo que tem como objetivo principal, “a formação da opinião pública”. Tudo o que se faz, no sentido de mobilizar as massas tem fundamento em técnicas da Psicologia, a dita Ciência do Comportamento.

A Análise Transacional, teoria apresentada pelo médico psiquiatra canadense, naturalizado americano, Eric Berne, mostra, com clareza como agem os especialistas garantindo o comando sobre o comportamento do público viciado, principalmente, em televisão e Internet. Ah! Ia esquecendo! Celular, também!

Segundo seus estudos, nossa personalidade é dividida em três círculos denominados “estados do ego” com dois deles se subdividindo em quatro segmentos, dois positivos e dois negativos. São eles, o “Estado do Ego Pai”, “O Estado do Ego Adulto” e “O Estado do Ego Criança”. Esses três estados do ego atuam permanentemente e se manifestam sempre que nos colocamos em interação com outras pessoas ou grupos sociais, pessoalmente ou não.

O primeiro armazena “o conceito ensinado de vida” (o que nos foi introjetado, quase sempre pela pressão externa, sem racionalização, e constitui nosso baú de verdades, parâmetros, certezas, etc...). O segundo diz respeito ao “conceito pensado de vida” (aquilo que armazenamos após racionalização, o isento de subjetividade, o real, concreto, objetivo) e o terceiro, “o conceito sentido de vida” (os automatismos que manifestamos impulsionados pelos instintos, pela emoção, pelo prazer, pela liberdade, pela satisfação, etc...

Esses três estados do ego possuem um lado positivo e outro negativo, sendo esse dualismo uma espécie de juiz na ação entre eles, na organização da resposta que damos nos processos interativos.

Não é nosso objetivo discorrer sobre a teoria. Mas, podemos evocá-la para entender como funciona a pressão midiática sobre as massas, uma vez que os arquitetos dessa manipulação conhecem bem essa e outras teorias afins, cujo nascedouro está na própria Psicologia.

Os leitores que considerarem pertinente poderão encontrar, nos buscadores, diversos textos que tratam do assunto, pois a Análise Transacional foi a coqueluche da época, nos idos anos oitenta, havendo muita informação disponível.

Especialistas da propaganda e publicidade, sabedores desses meandros da consciência humana, organizam seus textos, imagens, apelos e outras formas de armadilha, usando, exatamente, como alvo, o estado do ego, com a sua parte positiva ou negativa do universo que desejam atingir.

No meio desses articuladores estão encaixados, também, os chamados “marqueteiros” que atuam na política a favor de candidatos, ideologias, partidos ou proposições, tendo, de antemão, um aguardado tipo de resposta ou reação. Com essas ferramentas, conseguem transformar verdades em mentiras e mentiras em verdades.

Do mesmo modo, podem veicular imagens e textos em linguagem clara ou ulterior, criando personalidade de heroica em criminosos bem como criminalizar heróis, organizações ou pessoas de bem...

Para uma pequena ilustração, podemos imaginar uma veiculação na TV, em que se pode ver a imagem de um Papai Noel sorridente, em meio a uma profusão de pacotes e embrulhos para presentes, cercado de crianças felizes... No meio de tudo isso, o nome de uma empresa, um “logo”, um título, marca, ou fachada de loja oferecendo seus artigos.

Como age esse tipo de propaganda: O produtor da mensagem audiovisual cuida de: Primeiro, fisgar “O Estado do Ego Criança”, das crianças estimulando-lhes o desejo e a ansiedade pela posse desse ou daquele produto. Em segundo lugar, fisga o “Estado do Ego Pai”, do pai, no seu quadrante “nutritivo” que busca proteger e garantir a felicidade do filho adquirindo o presente que produzirá prazer e satisfação emocional.

Ao mesmo tempo, esse expediente fisga, também, “O Estado do Ego Criança” do pai, promovendo-lhe algum tipo de satisfação ou prazer em resposta ao estado de satisfação ou prazer que proporcionou ao seu filho...

Nesse caso, ao que parece, “o Estado do Ego Pai”, do pai pode não sofrer a intervenção do “Estado do Ego Adulto” do pai, pois ao adquirir o presente em razão do “prazer” não racionalizou sobre a conveniência ou não do ato a ser concretizado, suas conseqüências ou desdobramentos, após realizado.

Bem! Nosso objetivo é comentar sobre como somos manipulados e como somos induzidos a agir impulsivamente, dessa ou daquela maneira, em atendimento às pressões a que somos submetidos quando, sentados num sofá ou numa cadeira giratória, diante de uma tela de TV ou de um computador nos tornamos vulneráveis.

Pelo visto é de boa medida tomarmos cuidado com o que empurram pelos nossos olhos e ouvidos principalmente quando o conteúdo está envolto no rótulo da manipulação que vem embrulhado nos pomposos nomes de “mecanismos formadores de opinião pública” e “mecanismos de comunicação de massa”.

Enquanto isso, nossas casas vão, aos poucos, se transformando em verdadeiros museus onde guardamos um sem número de objetos inservíveis ou relegados a um canto qualquer. Como se não bastasse, ainda nos envolvemos em discussões inúteis por querelas envolvendo personagens de novelas, candidatos a cargos políticos, partidarismo ideológico, times de futebol, marcas da hora, celebridades do BBB, etc...

É uma espécie de “vida de gado” a que se refere Zé Ramalho; povo marcado, povo feliz!...

Foi muito bom, ter lido, um dia, o texto de Noham Chomsky com o sugestivo título de “Estratégias de Manipulação Midiática”. Se tiver tempo e interesse, dê uma bisbilhotadinha no seu buscador...

Amelius
Enviado por Amelius em 05/11/2014
Reeditado em 05/11/2014
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