Arthur Rimbaud faz parte daquela galeria legendária de artistas que agregou ao brilho da sua obra o aspecto mítico do subversivo. De poeta marginal ao errante em terras africanas. O vate de inquietantes olhos azuis que arruinou a reputação de Verlaine ou que apenas serviu como detonador da autodestruição do mestre decadente. Talvez, para Rimbaud, a poesia tivesse tomado ares de um caminho bolorento e apático. O enfant terrible convertido ao catolicismo no leito de morte.
Van Gogh encontrou no suicídio o passaporte que rompeu com a servidão imposta pela arte para preservar sua saúde mental, Rimbaud renunciou ao poeta para mergulhar na aventura do desconhecido e nas empreitadas comerciais pelos desertos da Somália e Etiópia. Dois gumes da mesma faca, o talento se revelando como a vocação do trágico.
O holandês Van Gogh e o francês Rimbaud, duas linhas soltas que atraem o nosso mórbido fascínio. Um abraçou a pintura com o extremo da paixão, erguendo uma ponte frágil entre a loucura e a sanidade. O outro rejeitou a própria poesia com o mesmo asco com que repudiou Verlaine, um obstáculo entre ele e a sua sina de se sentir vivo. Não surpreende que os dois ícones tenham sido contemporâneos e morrido, ambos, aos 37 anos.
Um pintor e um poeta, ambos batizados pelo vício do absinto, ébrios da desolação em busca de consolo. Van Gogh fazia da arte a alienação para a sua alma compulsiva, um emplastro para a loucura sempre à espreita. Rimbaud renegou a arte para afirmar sua vontade de viver e até enriquecer, seguindo as correntes vertiginosas da adrenalina.
“A vida está em outro lugar” – escreve o jovem Rimbaud em seu diário, antes de deixar a casa da mãe.
“Dizem que na pintura não se deve procurar por nada, nem nada esperar, além de um bom quadro... Talvez seja verdade, e por que recusar-se a aceitar o possível, sobretudo se assim fazendo enganamos a doença?” – Assim, Van Gogh divaga em uma das cartas ao irmão Theo.
A linha tênue e comum entre os dois é a angústia do inconformismo, um desejo urgente de identificar o sentido de existir. Rimbaud e Van Gogh são personagens que refletem as duas faces cruciais da nossa humanidade: o poeta quer agarrar a loucura para se sentir vivo, o pintor quer escapar dela para continuar vivo.
Pelas cores ou pelas palavras, vagando por desertos selvagens ou por quartos de hospícios, rejeitando ou idolatrando qualquer manifestação estética, a poesia persiste nos dois e é a poesia que constrói neles o folclore e a tragédia que os perpetuaram.
Van Gogh soma inusitado valor aos seus quadros pelos relatos fartos e deslumbrantes que nos legou através das correspondências com seu irmão Theo. Já Rimbaud nos seduz pela imensa lacuna que marca a sua vida após abandonar a poesia e se tornar um aventureiro numa jornada de poucos registros e muitas especulações. Van Gogh disseca-se, Rimbaud ausenta-se.
Qualquer biografia que cite esses dois artistas irá salientar uma interseção evidenciada na instabilidade do comportamento e na conturbada incapacidade de convivência social. Muitas vezes na história se constatou a mais intrigante faceta da genialidade, aquela que transporta uma caótica desordem emocional para uma obra de perturbadora harmonia. É nessa categoria de gênios que estão incluídos Vincent Van Gogh e Arthur Rimbaud.
A perenidade das imagens que eles usam para decifrar o mundo é uma fonte interminável de encantos.
Rimbaud escreveu: “Ela foi encontrada / Quem? A eternidade / É o mar misturado ao sol / Minha alma imortal, / cumpre tua jura / Seja o sol estival / Ou a noite pura. / Pois tu me liberas / Das humanas quimeras, / Dos anseios vãos! / Tua voas então... / - Jamais a esperança. / Sem movimento. / Ciência ou paciência, / O suplício é lento / Que venha a manhã, / Com as brasas de Satã, / O dever é vosso ardor / Ela foi encontrada! / Quem? A eternidade. / É o mar misturado ao sol.
Desta forma, Van Gogh descreve um dos seus quadros para Theo: “Ufa – o ceifeiro está pronto, acho que é dos que você porá em sua casa – é uma imagem da morte tal como nos fala o grande livro da natureza – mas o que eu procurei foi aquele “quase sorrindo”. É todo amarelo, exceto uma linha de colinas violetas, um amarelo pálido e loiro. Acho engraçado que eu tenha visto assim através das grades de ferro de uma casa de loucos.”
Definitivamente, num universo que se nutre da obviedade das coisas, o que transforma homens em lendas são os olhos do infinito.
Van Gogh encontrou no suicídio o passaporte que rompeu com a servidão imposta pela arte para preservar sua saúde mental, Rimbaud renunciou ao poeta para mergulhar na aventura do desconhecido e nas empreitadas comerciais pelos desertos da Somália e Etiópia. Dois gumes da mesma faca, o talento se revelando como a vocação do trágico.
O holandês Van Gogh e o francês Rimbaud, duas linhas soltas que atraem o nosso mórbido fascínio. Um abraçou a pintura com o extremo da paixão, erguendo uma ponte frágil entre a loucura e a sanidade. O outro rejeitou a própria poesia com o mesmo asco com que repudiou Verlaine, um obstáculo entre ele e a sua sina de se sentir vivo. Não surpreende que os dois ícones tenham sido contemporâneos e morrido, ambos, aos 37 anos.
Um pintor e um poeta, ambos batizados pelo vício do absinto, ébrios da desolação em busca de consolo. Van Gogh fazia da arte a alienação para a sua alma compulsiva, um emplastro para a loucura sempre à espreita. Rimbaud renegou a arte para afirmar sua vontade de viver e até enriquecer, seguindo as correntes vertiginosas da adrenalina.
“A vida está em outro lugar” – escreve o jovem Rimbaud em seu diário, antes de deixar a casa da mãe.
“Dizem que na pintura não se deve procurar por nada, nem nada esperar, além de um bom quadro... Talvez seja verdade, e por que recusar-se a aceitar o possível, sobretudo se assim fazendo enganamos a doença?” – Assim, Van Gogh divaga em uma das cartas ao irmão Theo.
A linha tênue e comum entre os dois é a angústia do inconformismo, um desejo urgente de identificar o sentido de existir. Rimbaud e Van Gogh são personagens que refletem as duas faces cruciais da nossa humanidade: o poeta quer agarrar a loucura para se sentir vivo, o pintor quer escapar dela para continuar vivo.
Pelas cores ou pelas palavras, vagando por desertos selvagens ou por quartos de hospícios, rejeitando ou idolatrando qualquer manifestação estética, a poesia persiste nos dois e é a poesia que constrói neles o folclore e a tragédia que os perpetuaram.
Van Gogh soma inusitado valor aos seus quadros pelos relatos fartos e deslumbrantes que nos legou através das correspondências com seu irmão Theo. Já Rimbaud nos seduz pela imensa lacuna que marca a sua vida após abandonar a poesia e se tornar um aventureiro numa jornada de poucos registros e muitas especulações. Van Gogh disseca-se, Rimbaud ausenta-se.
Qualquer biografia que cite esses dois artistas irá salientar uma interseção evidenciada na instabilidade do comportamento e na conturbada incapacidade de convivência social. Muitas vezes na história se constatou a mais intrigante faceta da genialidade, aquela que transporta uma caótica desordem emocional para uma obra de perturbadora harmonia. É nessa categoria de gênios que estão incluídos Vincent Van Gogh e Arthur Rimbaud.
A perenidade das imagens que eles usam para decifrar o mundo é uma fonte interminável de encantos.
Rimbaud escreveu: “Ela foi encontrada / Quem? A eternidade / É o mar misturado ao sol / Minha alma imortal, / cumpre tua jura / Seja o sol estival / Ou a noite pura. / Pois tu me liberas / Das humanas quimeras, / Dos anseios vãos! / Tua voas então... / - Jamais a esperança. / Sem movimento. / Ciência ou paciência, / O suplício é lento / Que venha a manhã, / Com as brasas de Satã, / O dever é vosso ardor / Ela foi encontrada! / Quem? A eternidade. / É o mar misturado ao sol.
Desta forma, Van Gogh descreve um dos seus quadros para Theo: “Ufa – o ceifeiro está pronto, acho que é dos que você porá em sua casa – é uma imagem da morte tal como nos fala o grande livro da natureza – mas o que eu procurei foi aquele “quase sorrindo”. É todo amarelo, exceto uma linha de colinas violetas, um amarelo pálido e loiro. Acho engraçado que eu tenha visto assim através das grades de ferro de uma casa de loucos.”
Definitivamente, num universo que se nutre da obviedade das coisas, o que transforma homens em lendas são os olhos do infinito.