O Silencio e a Fala.
Por carlos sena
A psicanálise dispõe de dois importantes fatores para se fazer ciência: o silêncio e a fala. Freud discorria muito bem acerca disso e sempre procurava lembrar a todos que "Se Pedro fala de Paulo eu passo a conhecer mais de Paulo do que de Pedro"... Isso deixa implícita a relação do silêncio como forma de bloqueio para as coisas interiores. Coisas que poderão nos libertar pela fala ou nos escravizar depois de tê-las dito diante dos seus resultados nem sempre confortantes.
Ouvir Pedro falar de Paulo resume um pouco dessa dinâmica do silêncio e da oralidade. Porque de Paulo só se saberá melhor se for dito pelo próprio, não por outrem. A lógica freudiana neste sentido é a da autonomia dos indivíduos diante de si mesmo. Porque num processo psicanalítico a gente, a rigor, não fala com o analista mas, conosco mesmo. Neste aspecto fica claro que o ser para alcançar a plenitude da vida tem que dispor de seus "deuses e demônios" na ponta da língua... Por isso Pedro se expõe mais do que Paulo, pois Paulo não pode significar para Pedro uma "ponte", uma projeção para que Pedro rompa com seus bloqueios ou boa parte deles. Nas questões de sexualidade nos parece ser comum as pessoas atribuírem a outrem um sentimento delas mas que, por falta de coragem elas não verbalizam sem dizer que não é com elas. Talvez por conta do dinamismo da nossa consciência em oposição ao inconsciente repressor. Isto resulta dizer que tanto o silêncio quanto a fala são fundamentais nos processos psicológicos e psicanalíticos. Contudo, é bom não se expor falando de alguém, pois seu interlocutor ficará sabendo muito mais de você. Porque há quem diga o que sente com palavras e outos com o silêncio. Nem sempre são processos libertadores se não forem trabalhados cientificamente. Mas, de uma coisa não se pode esquecer: a oralidade é o fundamento maior para, se bem executada, nos tornar livres das amarras morais que a sociedade nos impõe como verdade.