Feira do livro e o dom de escrever
 
            Sempre presencio com alegria a chegada de mais uma Feira do Livro em nosso município. Não apenas para achar livros legais, mas também para presenciar as várias manifestações culturais que envolvem o evento. E por ser escritor. Não que seja tanto um dom escrever, mas que com o tempo aprendemos a melhorar nossa redação. Nos meus já 30 livros escritos, vejo que sempre é salutar espalhar informação, mostrar um outro modo de ver o mundo, que não é muito difundido na TV ou mesmo na Internet. Participando de eventos como esse, se pode encontrar um novo caminho, o caminho mágico e incomparável das letras.
            Não interessa tanto o estilo, interessa ler. Vejo que uma pessoa que lê tem melhores condições de ser compreendida, falar melhor, trabalhar melhor, e mesmo compreender melhor outras pessoas. Falei isso esses dias, em palestra junto a Escola Municipal Dr. Hercílio Malinowski. Apoiando amigo em projeto cultural Crônicas de São Bento, percebi que há adolescentes com vontade de ler, e com curiosidade no que se refere à cultura. Uma aluna perguntou sobre mitologia e falamos sobre o tema, e assim foi um modo diferente de encarar a sala de aula, onde a informação vem do aluno, ou a busca dessa informação.  Mas a feira tem um papel especial, somado as apresentações de teatro, bandas marciais, lançamentos de livros e tudo que a acompanha. Um dom de quem participa.
            Por ter lido tanto, acho que mais de 3000 livros, acho que entendo um pouco de tudo, e isso facilita o contato com as pessoas. Falo com psicólogos e entendo de psicologia, com médicos e lembro de Hipócrates, falo com professores e lembro de Paulo Freire, com filósofos e lembro Aristóteles, Políticos, e lembro Júlio César de Shakespeare. Esses tempos, falando com amigos escritores em café filosófico, lembrei que Machado de Assis não teria vendido nem 300 livros em vida. Pensei que nós escritores não vivemos de modo diferente. Contudo, fico feliz porque sei que possuo mais de 300 leitores, e sem o talento e dom do Machado, que é incomparável. A feira é assim um modo de semear o sucesso nas crianças. Um investimento melhor que em celulares, ou mesmo brinquedos. Possam os pais terem essa consciência.
            O livro não é algo sem informação. Sempre há uma qualidade bem maior de informação em um livro, que em um filme ou novela, por exemplo. Um modo de ler interessante é comparar com filmes, pegar a mesma história do filme. Grande parte dos filmes são originados de histórias de livros, senão o roteiro feito com base em livro. Mas a feira é salvadora de destinos. Em um mundo que as pessoas perdem cada vez mais sua identidade, e que perdem referenciais e valores, os livros mantêm esse norte, uma vez que representam a experiência da humanidade, do humano enquanto humano. E um livro é detalhista, ele mostra as coisas com mais cores, mais vida, e com o tempo que desejar dedicar o leitor. Já o filme é rápido e desvirtua, oferecendo ação ou entretenimento só comercial.
            E parabéns a professores, diretores e coordenadores, que levam os alunos para a feira, e mesmo ao SESC que a organiza, prefeitura, fundação cultural e tudo mais. Porque um livro é algo eterno, ele não envelhece ou morre. Nós escritores, com dom ou sem, ou com muito esforço e leitura, percebemos que eventos semelhantes são uma alternativa frente à cultura de massa, à criminalidade, a evasão escolar, trabalho infantil, dentre tantas mazelas que envolvem nossa sociedade. Tem ainda a melhorar, mas a feira já é uma iniciativa exemplar, frente a tantos interesses que desviam a juventude. Mas todos devemos ler, e para a vida toda. Porque isso nos informa, atualiza e faz pessoas melhores, mais compreensivas e tolerantes. O dom não é apenas dos escritores, mas também daqueles que leem. Parabéns leitores.