SOBRE A FESTA DO MILHO
Parabéns ao Senhor Manoel Costa e Senhores editores do Wandeco.com pelo recorte histórico da criação e evolução (ou declínio) da Festa do Milho em Wanderley. Sabe-se hoje que, lamentavelmente, a Festa do Milho não alcançou quase nada dos seus objetivos para os quais ela foi criada, uma vez que, entre outros, a intenção dos produtores era chamar a atenção do Poder Público para incentivar o plantio, a produção e descobrir o potencial de Wanderley, bem como, abrir perspectivas para mostrar que a terra de Wanderley é uma boa produtora de milho, senão, um dos melhores municípios da Bahia, para a cultura.
A festa que surgiu da iniciativa de pequenos e grandes produtores, pecuaristas e comerciantes wanderleenses, os quais apostando na rentabilidade do cultivo decidiram realizar um evento para divulgar a safra, hoje serve mais para ações politiqueiras, levar os jovens às práticas alcoólicas e outros males, quando o ideal seria, além de envolvê-los à sociedade, reservar um horário para a apresentação dos frutos da terra, como novos talentos da música, da dança, do teatro, da literatura e de todos os seguimentos culturais, dando condições àquelas pessoas que não têm oportunidades ou condições de apresentarem por si só. Um entre os mais esperados objetivos com a criação do evento era resgatar o potencial dos jovens artistas wanderleenses, porém, depois de quase duas décadas do início da realização da festa, eles continuam sem oportunidades e, se antes praticamente não cobravam taxas dos comerciantes, hoje cobram, para custear os aluguéis de banheiros químicos, barracas e equipamentos de som. (Continuo...)
Verdade é que, embora muitos ainda tentem dizer o contrário, a Festa do Milho não surgiu com o interesse de os turistas degustarem derivados do milho, mas com o intuito da sua comercialização. O objetivo era que indivíduos de outras localidades viessem a Wanderley conhecer as terras e comprar a produção do milho. As chuvas param em março e as colheitas só começam em maio, período em que todos os produtores colhem suas safras, suas lavouras, pois tem pressa em tirar o milho da roça, porque uma das grandes questões do avanço da cultura do milho é pensando na utilização do subproduto da alimentação do animal, haja vista que em Wanderley o forte é a pecuária. Daí as vaquejadas wanderleenses deviam ter maior importância, porém, quando essas festas acontecem nem divulgadas são.
A Festa do Milho que antes tinha suas barracas confeccionadas manualmente com caule de milho, coberta de capim, hoje ganhou ferro e lona, perdendo completamente a sua identidade cultural. A mudança, fruto da tecnologia foi provocada devido à preocupação com a quantidade de barracas, uma colada à outra, uma vez que se houvesse um incêndio poderia provocar um caos muito grande, pois palha seca até uma fagulha de cigarro ou faísca de uma churrasqueira poderia provocar grandes estragos. Outro motivo de erguer as lonas em hastes de ferro foi também para facilitar a confecção, mas é claro que perdeu a originalidade. Por outro lado deu mais segurança, proteção e tranquilidade aos festeiros.
No entanto, hoje ela cumpre o papel de colocar grande parte dos wanderleenses em contato com seus conterrâneos e com culturas diferentes e a cada ano vem atraindo um número cada vez maior de turistas.
Diferentemente da primeira edição que aconteceu em junho, logo, a Festa do Milho passou a ser realizada no final de julho, exigência da Igreja Católica que, como sempre, quer meter o bedelho em tudo (lembrando que sou católico apostólico romano, daí o direito de propriedade para falar) e se a Festa do Milho continuasse sendo realizada em junho atrapalharia os leilões da Igreja Católica. Ora se o povo gastasse seu dinheiro na festa como arremataria os produtos nos leilões? Como comprariam canjicas, pipocas etc. nas festas da igreja? Mas, afinal das contas, porque a Festa do Milho não deu tão certo. Batata! Serei breve e lógico: se tivesse continuado sendo executada pela iniciativa privada wanderleense possivelmente ela teria tomado rumos mais eficazes, porém, o Poder público brasileiro é falho. Aliás, muito falho mesmo, e, assim, por dizer, lamentavelmente, muitos gestores wanderleenses estão mais preocupados em desenvolver atividades politiqueiras que fazer investimentos culturais. Na visão de muitos deles é muito mais fácil oferecer forró e cachaça (nada contra esses ingredientes) para alegrar o povo que abrir a mente da sociedade no sentido intelectual, ou seja, oferecê-la maiores oportunidades. O que eles parecem não saber é que bobo é quem pensa que o povo é bobo.