Rubem Valentim
Dono de um arsenal signíco-emblemático numa arte abstrata de caráter estrutural, Rubem Valentim possui trajetória única no cenário artístico brasileiro e mundial. O artista que nos deixara em 1991, possuía uma linguagem plástico-visual-signótica ligada aos valores místicos da cultura afro brasileira; como o candomblé, muito presente em sua vida. Porém, seu trabalho não era de folclore regional, mas sim universal. Para além das questões étnicas que abordava, o manancial artístico, do qual fazia parte, representava o homem e suas presenças no mundo em suas formas-sígnos ora pictoricamente em pinturas, ora tridimensionalmente em esculturas.
Brasões, broquéis, cartazes, escudos, bandeiras, estandartes, cajados, andores e todas as marcas da civilização (ou barbárie) dos povos parecem desfilar por seu trabalho. Povos subjugados, oprimidos e massacrados que deixaram indícios e sinais de multidões que se perdem no tempo.
Sua passagem da pintura para a tridimensionalidade se dá em Brasília, onde passou a recortar suas formas-sígnos em madeira, pintando-as em seguida. Em Brasília são duas fases, a primeira, a dos relevos e objetos e, a segunda, é um retorno à pintura em telas pequenas nas quais as formas-signos são fragmentadas, perdendo a distinção de forma e fundo.
Valentim trabalhava a assimetria em suas peças de meados de 1977, rompendo com a simetria anterior e propondo, como em Modrian, um equilíbrio assimétrico. Não havia mais centro, um ponto fixo ou um eixo central onde a vista do espectador possa descansar. Dessa maneira, a forma tinha um movimento frontal e transversal e o espaço era ambíguo, se aproximando e se afastando. Compreendendo que a oposição fundo-superfície é mecânica e estática, o artista a supera, aceitando o dinamismo da vida, a mutabilidade e a relatividade dos fenômenos.
Com mais de uma centena de signos plásticos que Valentim isolava, acoplava, somava e dividia como se tratasse de uma engrenagem sem fim, o artista plástico pensava questões que remetiam às civilizações arcaicas, tanto quanto à realidade contemporânea – máquinas, logotipos, marcas, formas industriais, sinais.
O artista, que era bastante espiritualizado, diz em uma entrevista: “A criação, para mim, se manifesta em parcelas infinitesimais, e eu, como criador, estou criando e sendo criado. Estou imerso na criação.” Para além disso, seu trabalho não é o da sacralização, haja vista que desenraizados de seu contexto litúrgico e do terreiro de candomblé, seus signos-formas compõem uma semântica emblemática ou heráldica, própria de uma linguagem plástica.
Rubem Valentim é uma das figuras mais proeminentes do cenário artístico dos últimos 50 anos do século passado. Tendo participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, o artista trabalhou corajosamente na opção e conquista de uma arte verdadeiramente brasileira, sem ceder um milímetro à universalidade de sua mensagem visual.