Será que o Exército ainda é o nosso guardião?
A hora da partida chegara. Três soldados americanos se despediam de seus familiares no aeroporto de Miami sem notar que eram atenciosamente observados pelos civis que lotavam boa parte do saguão. O pranto incontido dos parentes que os abraçavam em um adeus tão silencioso quanto desesperado – afinal, estavam de partida para o inferno – se punha em contraste com a singela devoção dos desconhecidos presentes que não podiam evadir-se nem do olhar solidário à dor dos que eram tomados pela emoção e nem da solene demonstração de respeito que emanava de suas próprias feições. Era como se uma miragem dos três Reis Magos, com as majestosas vestes trocadas por coturno, cantil e camuflagem de guerra houvesse acometido o imaginário das pessoas que, apesar do arrebatamento patriótico, se portavam de maneira notavelmente digna e reservada. No entanto, a falta de sentido da guerra do Iraque/Afeganistão, opinião essa certamente partilhada pela maioria dos que ali se achavam, era, naquele momento, de pouca ou nenhuma importância. Na verdade, a razão para tamanha deferência nada tinha a ver com a guerra em si ou com o destino daqueles três marines. Tratava-se, unicamente, da veneração que o povo norte-americano nutre pelas instituições do seu país, neste caso o exército.
No Brasil, solenidade semelhante não acontece. Após uma década de sucateamento petista, o soldado brasileiro, para não dizer a estrutura das Forças Armadas como um todo, é hoje percebido com comiseração, indiferença e em alguns casos como lástima. A sociedade civil brasileira observa o soldado não com a admiração e o respeito de outros tempos, mas com um misto de receio e piedade pela má sorte alheia em se meter em uma atividade falida. As Forças Armadas sobrevivem hoje como um cachorro desnutrido amarrado em um cativeiro fétido por mais de uma década. Não possuem munição para nem sequer uma hora de guerra e o armamento que dispõem possui mais de três décadas de existência. Carros, barcos e helicópteros são escassos nas bases militares e mais de 92% dos meios de comunicação estão obsoletos; 87% nem pode mais ser usado. Falta verba até mesmo para a alimentação dos militares. Generais da reserva são humilhados na chacota que é a comissão da verdade e os praças, em sua maioria miseráveis sem perspectiva de vida que não raro pertencem à facções criminosas, estão longe de representar um símbolo de respeito merecedor de qualquer reverência.
Desde o momento em que Lula foi empossado presidente do Brasil, as instituições públicas perderam pouco a pouco o seu valor perante a sociedade civil, chegando ao cume do descrédito com a sua sucessora Dilma Rousseff. Não é surpresa perceber o desmantelamento das Forças Armadas quando todas as instituições públicas do país estão em processo avançado de decomposição. A Petrobrás, envolvida em sucessivos escândalos de corrupção, desvio de verbas e gestões fraudulentas, perdeu quase metade do seu valor de mercado em apenas dois anos. O ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, hoje um fugitivo da justiça, recebeu R$326 mil reais para liberar R$73 milhões de reais para a DNA propaganda de Marcos Valério. O dinheiro do Banco teve como destino a compra de votos dos parlamentares brasileiros que votaram de acordo com a vontade do governo. A Caixa Econômica Federal, responsável por uma política financeira irresponsável, finge expurgar a miséria financiando inúmeras políticas assistencialistas que tem como objetivo a compra de votos e a perpetuação no poder. A Eletrobras perdeu 63% do seu valor de mercado e está à beira da falência em função das ingerências petistas no setor elétrico. O BNDES tinha desembolsos de R$40 bilhões quando o PT assumiu o governo, agora esses desembolsos chegam R$200 bilhões e os mais favorecidos não são os pobres, mas os ricos empresários com contatos no governo. O congresso brasileiro tem a cara do palhaço Tiririca, o senado tem a graça ridícula da penugem artificial que adorna a cabeça do presidente da casa Renan Calheiros e o Supremo Tribunal Federal, totalmente aparelhado pelo governo, nada mais é agora do que um mausoléu envolvido por um nauseante odor de formol que emana dos sermões imprecisos dos apóstolos petistas Lewandowski, Tóffoli, Zavascki e Roberto Barroso.
Deu gosto ver aqueles marines cruzando o portão de embarque e recebendo aplausos dos que os observavam. Sem que eu me desse conta, eu batia palmas também. Discretamente, norteado pelo senso do ridículo, mas confesso que o fazia. Tamanho foi o poder daquela solenidade que, por um instante, deixei para trás a minha origem e me tornei um estrangeiro de mim mesmo. E que alívio senti por não ter a mesma nacionalidade de Dilma Rousseff, Lula, Gilberto Carvalho, José Dirceu, Genoino, Ricardo Lewandowski e todos aqueles que o amigo leitor está cansado de conhecer. Agora, o que me resta, é viver a nostalgia daquele instante ao som de Lobão, que escreveu esta belíssima canção para o governo brasileiro: