O BELO PARA SI E PARA O OUTRO

Na maioria dos autores o Mistério se personifica nos primeiros encontros com a novidade dos jogos amorosos, personificado na figura da(o) amada (o), que logo é alçada(o) à condição de musa(o), dependendo da entrega do recebedor a tal sensório amar. Depois, bem mais tarde, as (os) musas(os) variam e a temática também. É neste instante, a meu sentir, que, descolado do corpo e da libido, o poema se alça como Verdade e Beleza. Neste momento, a axiologia de valores é outra, e o campo de atuação no mundo dos atos (e das palavras) exige maior empenho: exsurgem a Pátria, o Bem e o Mal e também conceitos como o de Justiça Social. O resto da vida vivida e apreendida se processará pelo viés da Confraternidade, em detrimento ao tratamento possessivo das necessidades e dos humores individuais e egoísticos – que em nada pretendem mudanças no lugar comum da vida. E como se explicar a Poesia, se não como ANTÍTESE, como oposição ao egoísmo personalizado e à patroladora globalização com a qual convivemos usualmente, na contemporaneidade? Seria a Poesia essa verdade sem objetivos, aquela que nada muda? Enfim, a Poética é somente a universalização do mundo da farsa e da fantasia? Será por esta razão que somos desacreditados quanto à verdade fática? Ou seria por que o nosso coração sensível não se desvinculou do conceito de PROPRIEDADE? Só para que penses nisto, querido escriba, acaso queiras mesmo ser ouvido ou tido como existente e executor do “fazer criando”.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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