Mudem para Tom e Jerry. Será que vai adiantar?
Luciana Carrero
Sobre as críticas moralistas à Novela "Em Família", da Rede Globo, que tenho lido aqui no Facebook, minha posição é que a novela é arte literária. Arte não pode se ater a moralismos. Apresenta-se contemplando bem e mal, dentro de um realismo ficcional ou nem tanto, da vida. No geral, a Arte imita a vida. Já a vida imitar a Arte é que poderia ser problema. Na sociedade, na vida e na nossa família podem haver situações de costumes piores do que estas, e de que não nos damos conta, pelas quais Manoel Carlos incursiona, corajosa e magistralmente, explorando subterrâneos da psicologia humana, Um escritor não pode ser covarde. Do contrário só escreverá água com açúcar e não ajudará ninguém a pensar. Gosto do que instiga a pensar. Por isso defendo que a Arte não pode sofrer censura. Não considero que a Arte deva submeter-se a críticas destrutivas, ou recuar por causa delas. Jesus Cristo dizia: "Conhecereis a verdade e ela vos libertará". A tevê apresenta a verdade de fatos que acontecem ou podem acontecer nos meandros da mente e da vida prática dos seres humanos, também e não somente Zorra. Quem conhecê-la (a verdade dita nefasta) poderá dela libertar-se. Um jovem escritor português do Século XXI, Gonçalo M. Tavares, ilustra bem este pensamento: "O moralismo é a antítese da Literatura. A Literatura começa precisamente quando recusamos ser moralistas e instintivamente somos perversos. Quem escreve não pode olhar para onde toda a gente está a olhar, mas para o outro lado." Já que cultivo a literatura, sei que este outro lado nos ensina a pensar. O resto é conosco, livre arbítrio. Os que não estiverem prontos para contemplar a Arte sem ficarem tensos, sempre têm o controle remoto para mudar de canal. E passar para um desenho de Tom e Jerry, por exemplo. Mas, certamente, é melhor não assistirem mais a tevê, pois vão criticar a relação sado-masoquista dos personagens do célebre desenho animado e sua influência na sociedade brasileira.