A ÚLTIMA CAMINHADA D0 PADRE ANCHIETA DA VILA DE RERIGTIBA A VILA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA

janeiro de 1596.

Após a reza costumeira do Pai Nosso em Tupi, começava a nossa caminhada por 18 léguas até a Vila de Nossa Senhora da Vitória.

A procissão tinha como nosso guia o Pagé dos Temiminós que sempre a frente nos dirigia com a firmeza de sua fé e determinação.

Não poderia deixar de notar que a minha fé de outros mares diminuia comparada a candura natural desse povo.

Percebi que nessa peregrinação, nesses anos de tantas indas e vindas, que o aprendiz era eu e não eles.

Não havia o preciosismo do latim em falar das coisas comuns; aqui língua estrangeira.

Ao entardecer na parada em Setiba todos se reuniam em descanço. Uns vigiavam as matas, outros dançavam, enquanto outros retocavam a pintura de seus corpos.

Eu me indagava?

Será que minha missão de catequizar não seria o verdadeiro pecado capital para esse povo?

Por que razão embutir a ideia do Velho Testamento de um Deus cruel!

Soldados de Cristo, inacianos? Não havia lógica!

Aos poucos os ares desses chãos me afastavam de meu ministério como jesuita da Companhia de Jesus. Não há como negar frente a realidade da pureza dos ensinamentos desse povo, desses Brasis.

Nessas léguas até a Vila de Nossa Senhora da Vitória, descobri uma nova escola de vida, muito além daquela de minha terra.

Meus versos, minha prosa....que serventia? Os do Pagé sim faziam sentido aos ouvidos! Falavam coisas da terra de seus costumes. Verdadeiras lendas eternizadas por seus ancestrais!

Tudo agora fazia sentido: Dominar e escravizar em nome da Corte! Essa a síntese de minha catequização!

Talvez essa seja a minha última caminhada por essas bandas, pois a doença me consome. Ironia ou não, também vinda de minha terra.

Espero que um dia esse povo seja o verdadeiro exemplo para a posteridade e sua lingua a verdadeira e mais pura de todas que já ouvi.

Manuscrito: A ÚLTIMA CAMINHA DE ANCHIETA DA VILA DE RERIGTIBA A VILA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA - ______________ Conimbricae. Apud Ioannem Aluarum Typographum regium. MDLXIII.

Estêvão Zizzi
Enviado por Estêvão Zizzi em 25/06/2014
Reeditado em 25/06/2014
Código do texto: T4857897
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