SANTO ANTÓNIO VERSUS SÃO GONÇALO
«Ser ou não ser Malandreco»
“Para lá da Poesia”
Para alguém que pensava que o Santo "Malandreco" era São Gonçalo (de Amarante) e não Santo António:
«Estimada, amiga, catalogar por catalogar, não comparemos o nosso Gonçalinho (de currículo santoral regional, quer dizer, não oficializado) com o grande Santo António, cujo currículo é por demais Universal!
O “São Gonçalo” na verdade, e para já, ainda não é «Santo». Ao compará-lo com Santo António apenas poderemos saber que: é mais ao menos contemporâneo do nosso grande António; teve igualmente, segundo parece, uma educação esmerada, lá para as bandas do convento de Pombeiro, foi ordenado e chegou a pároco numa freguesia do actual concelho de Vizela; deixou/abandonou o ofício de cura e viajou também pelo estrangeiro, nomeadamente no médio oriente, por onde andou uma boa dúzia de anos, vá-se lá a saber a fazer o quê; depois sentiu o bichinho das saudades e regressou ao reino e a Vizela mas parece que foi corrido e teve de se refugiar nos frades pregadores dominicanos, rivais dos populares franciscanos; foi acusado de suborno para uma tentativa de afastar um seu sobrinho da sua “ex-paróquia” vizelense, o que não conseguiu; correndo a fama de que veio da Europa feito engenheiro, foi encarregue (diz-se que por razões de tráfico de influências, à boa maneira dos tempos actuais) de dirigir a construção da famosa ponte sobre o Tâmega, que hoje tem o seu nome, como era de prever.
Seria pois uma personagem com influência e, quem sabe, terá vindo cheio de dinheiro, para o reino de Portugal. Por isso, conta-se que ajudou bastante, lá para o norte, muita gente necessitada. Será a principal razão da sua grande popularidade. Esta mesma popularidade chegou à Índia e ao Brasil, já em pleno século XVI, e foi principalmente nesta última colónia que o seu culto foi mais divulgado. Todavia, o Santo mais popular ainda hoje no Brasil, continua sendo e será sempre certamente o lisboeta Santo António. Disso não tenhamos dúvidas.
Por outro lado, como todos sabem, o nosso Santo António consta como sendo, a par da Senhora da Conceição, o padroeiro de Portugal (incluindo da selecção de futebol) e de grande parte das paróquias católicas brasileiras. E, em questão de Festas Populares e de manifestações folclóricas, nem vale a pena comparar. Como ele só talvez São João, e, mesmo este…
Quanto à tese de ser ou não “Malandreco”, creio que é uma questão de somenos mas, para que não restem dúvidas, apresento-lhe os seguintes argumentos:
Não esqueçamos que é o único SANTO português que consta do GUINESS (o mais rápido a ser canonizado de todo o Santórum católico), ou já esqueceu? Foi em 1231. Bastaram nove meses. Tanto como a gestação de um bebé… É o único caso de verdadeiro grande sucesso diplomático português! Não se sabe, ao certo, se o processo foi ao não “limpo” ou se houve ou não razões de ordem política por detrás do assunto.
Comparado com este famoso processo só o da aclamação de Pedro Hispano, o único português a ser eleito Papa (e no mesmo século!). Este evento teria a ver algo com o mesmo assunto? Só os historiadores eclesiásticos o poderão confirmar…
O êxito da conquista do Algarve para o reino de Portugal (a meados do século) poderá estar na charneira do entendimento dos fenómenos de Santo António, de São Gonçalo e até de João XXI. Mas, fixemo-nos no cerne do nosso memorial antoniano.
Quanto às malandrices, bom, ele seria/será o MAIOR e... “Na maior”!
Senão vejamos: casamentos à surrelfa; encontros suspeitos e favores nos namoricos (para as bandas do mosteiro de S. Vicente onde estudou); macaquices com bilhas (entenda-se "pregar partidas", e das boas); fugir dos Agostinhos, que lhe pagavam os estudos, e refugiar-se nos franciscanos dos Olivais, em Coimbra, (só porque, na altura, já eram mais “mediáticos”...); o primeiro português que se fez aos currículos de Bolonha (resta saber com que cunhas, melhor do que ele só o célebre Miguel Relvas); dar a volta aos hereges (mesmo aos mais renitentes) com interpretações textuais discutíveis, ou com simulacros (tipo a burra de Rimini); sermões dramatizados com o objectivo de fintar os humanos (que o digam os peixes e quejandos); o próprio poder da ubiquidade (estória mal contada?), etc. etc.
E mais não digo: cala-te boca!
Foi por estas e por outras que o glorioso Santo António de Lisboa acabou por ser seleccionado para ajudar a financiar e patrocinar a participação da nossa Selecção no campeonato do Mundo, em 2014. A opinião unânime da torcida portuguesa, tanto em Portugal como no Brasil, é que a escolha de Santo António foi, de facto, a melhor.
São Gonçalo que nos desculpe a ousadia, mas na verdade não teve, não tem e nunca terá hipóteses nenhumas!».
Frassino Machado