Tarso de Castro: o verdadeiro Gaúcho de Passo Fundo
 
Passo Fundo não legou apenas a Jornada de Literatura, Volmar Santos (fundador da Coligay) e Teixeirinha para a história de nosso Estado. Aliás, o cantor, que compôs a canção e produziu o filme “Gaúcho de Passo Fundo”, não era nascido na cidade, era natural de Rolante. Mas Tarso de Castro era. E fez jus, nos 49 anos em que viveu, aos versos da famosa canção: “Me dá licença vou encilhar o cavalo, Brasil afora atravessei os estados, troteando apressado eu vim tirando o talo, pra ver as prendas do mundo, cheguei em Passo Fundo no cantar do galo.”

Brizolista ferrenho por influência do pai, Tarso começou a escrever no jornal deste, O Nacional, de Passo Fundo, passando depois para a Última Hora em Porto Alegre e, por fim, para a redação do mesmo diário no Rio de Janeiro. Mas não ficou só nisso: em plena Ditadura Militar, no ano de 1969, foi, junto com o cartunista Jaguar e com o jornalista Sérgio Cabral (pai do atual governador carioca), um dos fundadores de O Pasquim, o mais famoso e paradigmático dos semanários de oposição do período (no RS havia o Coojornal). Tanto que, fora Millôr Fernandes, todos os seus colaboradores (o cartunista Ziraldo e o jornalista Paulo Francis entre eles) foram presos, em novembro de 1970, devido a publicação de uma charge sobre o Dia da Independência. Esse, sim, foi o ápice de sua carreira jornalística, mas trabalhou também nos jornais Zero Hora, Jornal do Dia, Folha da Tarde e Folha de São Paulo.

Assim como Sidney Magal, Tarso era um verdadeiro amante latino e gostava “das mulheres, da noite e do vinho” que, no seu caso, era uma garrafa de uísque. Pouco lembrado (e até esquecido) por sua notável carreira, entrou para o “folclore” pop mundial por ter namorado a famosa e bela atriz estadunidense Candice Bergen, no final dos anos 1970, quando a mesma estava no auge de sua carreira e de da forma física. Tarso era uma espécie de Renato Portaluppi de seu tempo, só que, em vez de fazer fama no retângulo de grama, o fez no retângulo de papel, concomitantemente ao retângulo de lençóis.

O enlace se deu no Rio de Janeiro e em Salvador. Diz a lenda que Tarso tinha uma foto com Che Guevara, quando este esteve em Punta del Este na Conferência Econômica e Social da OEA em agosto de 1961. Para Candice, ele teria dito que havia entrado em Havana com Che em 1959, durante o triunfo da Revolução Cubana. A loira atriz, em conformidade à fama da cor dos cabelos, teria acreditado em Tarso, tanto que escreveu em sua autobiografia que “conheci toda a espécie de homem, de um guerrilheiro latino americano [Tarso] a um sheik saudita”. O fato é que o jornalista Ricardo Kotscho testemunha ter encontrado os dois no apartamento de Leonel Brizola em New York, no último dia de exílio deste, e que a mesma estava, conforme suas palavras, “cheia de amor pra dar”.

Interessante em tudo isso notar como o “capital social” de Tarso como amante latino conta mais atualmente para sua lembrança do que o “capital cultural” proveniente da importância histórica de sua passagem por O Pasquim para o jornalismo brasileiro. Sintoma da futilidade de nosso tempo? Kotscho nos oferece uma resposta possível: “Em tempos de pensamento único e paus mandados, das fitas e gravações clandestinas oferecidas de bandeja para o ‘jornalismo investigativo’, não fosse pela bebida, Tarso teria morrido de desgosto. Sem querer ser nostálgico, a verdade é que não existe mais lugar para jornalistas como Tarso de Castro, jornalistas com redação própria, como se dizia...”

Dia 20 de maio farão exatos 23 anos de sua morte (1991) por cirrose hepática, coerente com sua propalada filosofia de vida: “prefiro viver pela metade por uma garrafa de uísque inteira a viver a vida inteira bebendo pela metade”. A noite é boa, mas não perdoa. Está enterrado em Passo Fundo, claro. Como dar conta de uma vida como a dele em 4.000 caracteres com espaços é impossível, quem quiser saber mais sobre pode comprar sua biografia escrita pelo jornalista Tom Cardoso: 75 kg de músculos e fúria: Tarso de Castro – a vida de um dos mais polêmicos jornalistas brasileiros, Editora Planeta.



Fontes:

- http://lapecjor.files.wordpress.com/2011/04/o-pasquim-nos-anos-de-chumbo-1969-e28093-1971-a-charge-como-crc3adtica-ao-regime-militar.pdf

file:///C:/Documents%20and%20Settings/turbogames/Meus%20documentos/Downloads/Thiago-v11-2012.pdf

- http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2012/05/21/a-imprensa-nos-tempos-de-tarso-de-castro/

- http://sitiocoletivo.blogspot.com.br/2011/05/tarso-de-castro-o-sedutor-subversivo.html

- http://jornaldehoje.com.br/o-fato-e-a-versao-de-um-idilio/

- http://pandinigp.blogspot.com.br/2009/04/vamos-falar-de-mulheres-com-todo-o.html

- http://simaopessoa.blogspot.com.br/2009/07/grande-mestre-da-amoal-seccional-passo.html