A Filosofia Helênica como Produto da Cultura Indo-Europeia.

A razão como produto da História.

O nascimento do pensamento grego analisado por Jean-Pierre Vernant verifica questões como a mitologia, teatro e política, entre outras considerações relevantes.

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Vernant inicia seu estudo revendo acontecimentos ocorridos cerca de quinze séculos. Nessa ocasião os povos de origem indo-europeus povoaram o território grego e começaram a definir a cultura helênica.

Nesse sentido, por volta do século XV antes da nossa da nossa era, o povo micênico, origem da região dos pelasgos, habitantes primitivos da Grécia, uma mistura complexa de tribos locais, entra em contato com povos indo-europeus definindo o modo de pensar da região.

A partir de tal histórico iniciaram as mudanças importantes que modificaram completamente a história da antiga Grécia, determinando as novas formas de organização política e cultural.

A partir do século XII os dórios chegaram à região, povo por excelência guerreiro, dominava a metalurgia do ferro, novas formas de armas, realidade inédita da Grécia até aquele instante, sendo os responsáveis pela primeira diáspora, a invasão da região grega.

Até aquele momento o povo grego tinha sua organização político-administrativa voltada para o palácio em torno da figura do rei, o que foi modificado completamente. Com os dórios a organização política segue outra dinâmica obedecendo à estrutura de família denominada genos.

No século VII antes da nossa era, com aumento do povo, a dispersão dos gregos pelo mediterrâneo, a política administrativa era dirigida pelo sistema de genos. Dá origem à importante instituição antiga, a forma de poder relativamente democrática, que corresponde ao período clássico quando surge no século V o que se entende por Pólis, correspondente ao modelo de cidade Estado.

O modelo de pensamento racional vai se definindo elaborando-se em função da nova forma de organização política e cultural atingindo todos os aspectos históricos.

Foi exatamente nesse período que a Filosofia de Mileto assume características helênicas, posteriormente pitagóricas, quando os sofistas elaboraram filosofias com finalidade de explicar a origem do universo não mais por meio da religião ou do mito.

Os deuses não são mais responsáveis pela definição do mundo, a racionalidade fundamentada na realidade empírica, a água, o ar, o número. A partir desse momento o mundo não é mais divino, muito menos o homem.

É importante ressalvar certas considerações. A razão não deixa por completo o mito, porque às vezes acontece a mistura dos elementos míticos ao mundo cultural político.

Outra ponderação fundamental no entendimento ao mundo da pólis: a perda do caráter da nobreza, transformando-se no elemento referencial, o conceito de demos, o que significa coletividades humanas.

Desse modo A figura do herói na cidade de Atenas passa a ser exemplificada na imagem do cidadão, o que se transforma imortal na memória cívica democrática.

Outro aspecto a ser analisado são as reflexões que devem ser consideradas não apenas a cidade de Atenas, casos semelhantes a outras regiões, particularmente Esparta.

Vernant reflete a respeito da crise da cidade que teve início no século V antes do Cristianismo, com a famosa guerra do Peloponeso. A derrota ateniense serviu para piorar as sucessivas crises da cidade mais importante da Grécia antiga.

Levou aos poucos a fragmentação em todo o mundo helênico. A questão que deve ser colocada institucionalmente é como manter a harmonia da sociedade através das diversidades de povos.

O que se pergunta é se a democracia ateniense deve ser analisada sem se separar o imperialismo da estabilidade política estabelecida pela mesma.

A ideia defendida se configura no pensamento do século IV antes da nossa era, entendida pela análise entre manter a coesão política e cívica, reflexo direto da decadência da cidade de Atenas.

O debate que se configura alimenta entendimentos intensos tanto no campo da Filosofia como na história das ideias do pensamento de antigos filósofos, entre eles Platão, seguidor do grande mestre Sócrates, a busca do bem como caminho para a construção da História.

Por outro lado, o conhecedor da contrariedade, o eminente filósofo Isócrates, profissional da retórica, não ofereceu contribuições que servissem às grandes idealizações em defesa da Pólis.

No entendimento do autor a lógica da argumentação e a coerência sistemática do sofista tinha como objetivo refutar a tese que o pensamento racional tivesse prevalecido ao crescimento da Grécia antiga e ao seu desenvolvimento, não tão procedente.

Se os gregos fizessem uma escolha histórica na preferência filosófica, separando radicalmente a racionalidade empírica do mundo diametralmente oposto à mitologia, a política de Estado teria sido diferente.

Sem dúvida que no caminhar da História é evidentemente ilógico, a priori, modificar em parte a ação humana, formulando com maior coerência o universo racional da pólis.

O que deve ser considerado são os atos políticos a respeito do caráter substancial do mundo misterioso, sintomático com o mecanismo estreito em relação elaborado ao mundo político.

Entendia-se assim a dinâmica do campo religioso, assumindo ao menos parcialmente o caráter cívico, a era democrática, o que foi denominando pelo conceito clássico do mundo antigo até presumivelmente ao evento cristão.

É nesse contexto que podemos entender a definição da etimologia dada por Aristóteles ao definir o homem como um animal essencialmente político.

Significa concluir que a razão humana atendia às normas de organização cuja natureza dentro do processo histórico conduziu a outras variações, comportando os fundamentos da política.

Nesse aspecto é muito importante ressaltar as ideias de Vernant, pois o mesmo no seu estudo da cultura antiga grega, proveniente da cultura indo-europeia, não era por essência transformadora da natureza, fenômeno esse tipicamente do mundo moderno.

Entretanto, não se pode negar a evolução de cunho político, modo transformativo da antiga Grécia na sua complexidade de civilizações, ajudou no que foi possível para o processo de síntese na formação do mundo helênico e na grande definição que, posteriormente, seria o mundo Greco-romano.

Autor: Edjar Dias de Vasconcelos...

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 31/03/2014
Reeditado em 05/06/2014
Código do texto: T4751025
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