POESIAL ESSENCIAL - CULT

Mary Prieto comenta sobre o lançamento de seu primeiro livro de poesias, “Essência”

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Mary Prieto é inquieta. Adepta da simplicidade em essência, busca, por meio da escrita, movimentar o que há de mais cuidadoso no íntimo das pessoas. Seja entre as páginas do caderninho de rascunho onde exprimia ideias aos 13 anos, seja nas madrugadas, quando não conseguia dormir sem antes escrever as frases que lhe vinham à cabeça, o cerne de suas palavras sempre esteve representado por uma de suas mais ávidas paixões: a filosofia.

Nascida em abril de 1992 em São Paulo, prematura de cinco meses e meio, Mary foi diagnosticada com paralisia cerebral e consequente tetraplegia espástica. É por isso que hoje, com 21 anos, necessita do auxílio de uma cadeira de rodas para se locomover. “Quando eu nasci, só mexia a boca e o olho. Alguns médicos nem acreditavam que eu ia conseguir ler, mas foi algo que superei”, diz Mary. Com o lançamento de seu primeiro livro, “Essência”, Mary ressalta a importância de chamar a atenção para uma necessidade de contemplação que, segundo a autora, parece ser um exercício em escassez entre os seres humanos. “Talvez seja porque eu sempre observei as coisas com mais cuidado. Desde os seis meses de vida eu faço tratamento na AACD e não é raro a gente ver equipes inteiras, de até 30 médicos, comemorando porque uma criança respirou.”, afirma Mary, e acrescenta: “Tem muita gente que só presta atenção, seja no corpo, no gesto ou no que pensa, quando tem alguma coisa de errado. Acho que a gente precisa cuidar sempre das coisas, com cuidadosa atenção e, principalmente, amor”.

Já em contato com as palavras desde 2006, quando foi convidada para ser colunista do site da atriz e cantora Marjorie Estiano, hoje Mary está cursando Jornalismo no Centro Universitário FIEO (UNIFIEO), em Osasco. Já passou por dez cirurgias e recentemente precisou implantar 22 pinos na coluna – o que a impulsionou a criar um novo projeto de escrita, no qual irá relatar sobre as dores de um pós-cirúrgico. Mary conta que também tem vontade de escrever dramaturgia e, em 2011, participou da montagem de Kinema, uma performance sensorial através da qual expôs seu universo, entre inércia, estética, força e impulso, por meio de suas poesias e a um público de olhos vendados. Dessa forma, “era o público quem criava o teatro, por meio do imaginário”, diz.

Sobre “Essência”, Mary conta que a obra surgiu sob a ousadia de transgredir um conselho que recebeu sobre a técnica na escrita: “Essência é a pureza, um diamante bruto”. Por meio da intensidade de suas palavras, Mary busca cutucar, chacoalhar as pessoas para impulsioná-las a prestar mais atenção nos movimentos e fugir da superfície, “elevar o espírito e a condição de seus intelectos”. “Chegue até a essência, porque lá é tudo muito mais bonito e muito mais simples”, diz Mary. “Se a gente puder achar beleza em tudo, até no que não é tão belo, a gente fica mais leve, e ficando mais leve é mais fácil de viver”.

O melhor cheiro

é o da saudade que se materializa em presença

Que é refrescante como água

e mesmo assim ganha a fixação de um abraço.

Laço que, longe de ser só enfeite

é deleite…

Começa com inspiração, aumenta a percepção, e passa pela absorção.

E quando finalmente contagia e ganha profundidade,

já não é mais saudade, mas o cheiro da felicidade

Que toma conta de nós. (Mary Prieto)