O CARNAVAL DE PERNAMBUCO TEM MUITO MAIS MANIFESTAÇÕES DO QUE APENAS BLOCOS
Brincar, participar e viver o Carnaval de Pernambuco é algo muito maior e mais prazeroso do que "ouvir contar" ou simplesmente ver e escutar nos noticiários da TV; ou ler em jornais e revistas. Aliás, se informar apenas através da imprensa não é o que há de melhor. Infelizmente, os diversos veículos de comunicação denominam “todas” as agremiações carnavalescas de “blocos”. Ora! Isso é prova de desconhecimento. É querer reduzir as nossas manifestações e deixar a festa superficial, pobre, limitada.
Jornalistas, radialistas, apresentadores e comentaristas precisam saber (ou lembrar) que Pernambuco é um celeiro cultural. O nosso Carnaval tem blocos, sim! Mas a festa de Momo nesta “terra dos altos coqueiros” tem muito mais – e diferentes – manifestações culturais e ritmos. Temos La ursas, clubes, troças, caboclinhos, maracatus de baque virado e de baque solto, tribos de índios, afoxés, ursos, bois, bonecos e escolas de samba. Sem esquecer as manifestações tradicionais de muitas cidades do Interior, como os cavalos marinhos, papangus, caiporas, caretas, grupos de coco e de ciranda. Tudo isso é folia, ferve e se mistura no Carnaval... só não tem como virar apenas "blocos".
É um erro afirmar “o bloco” do Homem da Meia Noite, o “bloco” da Pitombeira dos Quatro Cantos ou o “bloco” da Burra do Rosário ou o "bloco" do Preto Velho. São agremiações com características distintas. O Homem da Meia Noite é Clube de Boneco; a Pitombeira dos Quatro Cantos é troça; a Burra do Rosário é Clube de Frevo; o Preto Velho é escola de samba.
Já o bloco lírico é diferente: originário dos anos 1920, nos bairros centrais do Recife. O seu abre-alas é o flabelo (diferente dos estandartes, utilizados por clubes e troças); as suas orquestras são de pau e corda e não de metais; tocam marchas e são acompanhados por corais de vozes femininas; desfilam com abajures, se organizam em alas, damas de frente e cordões.
Blocos são diferentes dos clubes, muito mais antigos e surgidos nos anos finais do século XIX. Blocos também são diferentes de troças, comumente nascidas a partir de uma história pitoresca ou de uma brincadeira entre amigos. As troças são agremiações mais simples, que desfilam durante o dia e se caracterizam pela irreverência e descontração. Até mesmo o horário de ir às ruas para alegrar o povo é um diferencial de cada um.
Vejam quantas diferenças! É preciso mostrá-las e nominá-las aos foliões-novos e, principalmente, aos turistas, para que não retornem aos seus locais de origem e espalhem por lá que as nossas manifestações e ritmos carnavalescos são apenas "blocos". Por favor, não deixem que o restante das nossas manifestações fiquem nas sombras e no anonimato.
Alexandre Acioli
Jornalista e folião nato, graduado nas ruas e ladeiras de Olinda (PE) e com mestrado profissional no Clube de Alegorias e Críticas O Homem da Meia Noite.