A CASA-DA-MÃE-JOANA  
Etimologia 

Curiosidades filológicas

I
  Muito já se falou da filologia de certas palavras, expressões e provérbios. Até de axiomas, que são considerados mais ou menos imutáveis ou incontestáveis. Mas, se têm uma origem, a história das palavras de um jeito ou de outro vai contar de onde ela veio. O caso no momento é essa expressão: *”A CASA DA MÃE JOANA”.
  Vou lhes falar dela não por ser um ineditismo, mas por ter achado um enunciado temático tupiniquim interessante, e dentre tantos, o que mais combina com meu estilo, e críticas a políticos (brasileiros é lógico).

II
  Na época do Brasil Império, que coincidia com a adolescência do Imperador D. Pedro II, havia como desde sempre, a corriola que de fato mandava e desmandava no país e depauperava o erário, satisfazendo caprichos e prazeres pessoais.
Tanto aqueles que de Portugal para aqui vieram, quanto os naturais, que formavam o Staff imperial, contraíram uma “grave moléstia” que tem vários nomes sinônimos, sendo mais difundido e conhecido, como corrupção. Ela é agravada por um estranho “endurecimento da face”, que dá ao sujeito um aspecto de “cara-de-pau”; é praticamente exclusiva e endêmica dos empossados no poder, e grassa rapidamente em meio ao nepotismo e endocruzamento. Nesse meio favorável ao caldo de cultura virulento, torna os portadores, vetores genéticos por séculos e séculos de gerações.

III
  Essa patota do poder costumava encontrar-se num prostíbulo do Rio de Janeiro (notem que a coisa vem de longe...), cuja proprietária e cafetina chamava-se Joana. Mesmo nome da tal mecenas do * “Paço das Prostitutas” de Avignon .
  Fora do meretrício esses homens eram os titulados que davam as ordens e comandavam o Brasil. A expressão “Casa da Mãe Joana” popularizou-se como crítica à nababesca vida política, desde aqueles tempos. Usavam essa expressão como sinônimo de lugar em que ninguém era de ninguém. Um “angu de caroço” onde cada um só queria “levar o seu” e o resto que se danasse. – Ainda bem, que tudo isso é coisa do passado, não acontece mais no Brasil...!!

  Na casa da Mãe Joana, ninguém deles era autoridade, nem mandava em ninguém - as prostitutas eram as “autoridades” da casa, sob os auspícios de Joana; eram  muito bem pagas - para não darem com a língua nos dentes, sobre... certos assuntos. Todos os gastos eram pagos, é claro, com o dinheiro público, pelas suas Excelências, que se afundavam “até o pescoço” na farra, participando da lambança até o sol raiar.
 
  Esta história se parece, e até mesmo lembra, algumas que acontecem de forma costumeira no país do “Era Uma Vez”...



IV

* Existem várias versões (para todos os gostos) da origem da expressão “Casa da Mãe Joana”. A de Câmara Cascudo fala de uma Joana de Nápoles, que tinha sangue nobre e por certos envolvimentos desregrados, teria sido expulsa (de Nápoles) por ordem papal. Diz que ela regulamentou em Nápoles os bordeis, dando proteção às jovens prostitutas que eram agredidas e os homens saiam sem pagá-las. Como ela entendia bem do assunto, e tinha o poder da nobreza, não foi difícil impor-se, cooptar favores a seus intentos e provocar o devido temor aos homens do povo, e a quem fosse cliente dos prostíbulos. Diz-se que no princípio as “Casas” eram chamadas de “Paços da Mãe Joana”. E “mãe”, porque as mulheres a consideravam como fosse uma mãe para elas, dando-lhes um pouco de dignidade.

  Já outro autor e linguista, Reinaldo Pimenta, advogado pela (UERJ) e professor de português, escritor, autor de “Português Urgente! Método simples e rápido para escrever sem errar” (Ed.Campus, 1988) e “A Casa da Mãe Joana”, Editora CAMPUS, 2002 – RJ, faz um comentário mais longo e histórico (afinal fala de algo homônimo ao título de seu livro) ele fala desde a Idade Média, 1285 a 1314, de Felipe - o Belo, que diz não ter sido tão belo assim, comprou briga com o papa Bonifácio VIII.

V
  Mas diz Reynaldo Pimenta que a briga foi por causa de Felipe cobrar impostos da Igreja. A briga foi feia. Afinal, um rei podia impetrar e elevar impostos contra o povo, mas cobrar imposto da Igreja jamais. O papa o excomungou. Ele prende o papa e “joga a chave no mato”. O papa morre na masmorra. Assume outro, Bento IX, depois Clemente V. Este pontífice é convencido por Felipe a transferir o papado de Roma para Avignon. Foi residência de sete papas de 1309 a 1378.

   Aqui chegamos ao ponto. Dizem que no princípio não era um palácio-residência de papas, mas pertencia a uma linda napolitana de nome Joana I, rainha de Nápoles, mecenas de poetas e intelectuais. Ela casou-se com Andrew, seu primo. Andrew era irmão de Luís I da Hungria. Andrew  marido de Joana, foi assassinado. Diziam ter tido, no crime, a participação de Joana a própria esposa.
Tomado de fúria, e com o tino da vingança à morte de seu irmão, Luís invadiu Nápoles, e Joana fugiu para Avignon. Ela vende a cidade de Avignon para o papa Clemente V – eram ele e a Igreja muito pobres, não podiam pagar impostos, mas... compraram uma cidade. Ela fez isso para livrar-se da acusação de assassinato do ex-marido. Por indulgência o  papa dá um jeito, mas ela acaba sendo morta pelo sobrinho e herdeiro Carlos de Anjou em 1382.

CONCLUSÃO
 
    Antes, ela regulamentou todos os bordéis. Aqui coincide com Câmara Cascudo; por este “pacote de bondades”, as “casas” foram chamadas de “paços da mãe Joana”. A expressão viajou da França para Portugal.
Lá em Portugal, os meretrícios continuaram a se chamar “paços da mãe Joana”. O termo viajou nas malas dos portugueses que a trouxeram ao Brasil, mas os brasileiros acharam pouco comum Casas de Raparigas, (em Portugal tem outra conotação: lá é apenas feminino de rapaz) chamar-se Paço, e puseram no lugar da palavra “paço” a palavra “casa”, e uns desbocados
(brasileiros é claro) popularizaram outra expressão sinônima, a qual não direi, mas que aproveitaram, o “c” de casa, e o resto ficou o mesmo: ...da-mãe-Joana.

  Como podem observar, há muitas versões que se tocam em um ponto aqui outro acolá, por vez em algures e destarte em alhures. CASA-DA-MÃE-JOANA, termo que foi a Portugal e de lá para cá, para regalo dos titulados do Brasil, hodie ad aeternum.

  Pode até ser que a cafetina do Rio não se chamasse Joana, mas ficou sendo assim chamada. O filme brasileiro "A Casa da Mãe Joana", versa mais consoante ao texto inicial, em cenário do Rio de Janeiro.


 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 19/02/2014
Reeditado em 19/02/2014
Código do texto: T4697240
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