Ensinar a Língua Materna
Ensinar a Língua Materna
Vamos pensar em: Diferença entre saber linguístico e saber metalinguístico; o conceito de correção de linguagem, e o ensino de língua materna e variação?
Pode-se pensar, sem extrapolar a razão, que o ensino de língua materna, de algum modo é fator essencial para o equilíbrio da língua dentro dos diversos ambientes linguísticos.
Ao pensar dessa forma, os saberes pertinentes à organização e funcionamento da língua, são essenciais aos iniciados nas Letras, uma vez que os conhecimentos metalinguísticos facultam a nós outros o entendimento do funcionamento das línguas.
É a partir do conhecimento metalinguístico que as gramáticas, sejam das línguas escrita ou falada, ganham sentido e clareza para seus falantes. Não menos importante é lembrar que a linguagem do conhecimento jamais prescinde do conhecimento da linguagem.
Dito isso, conhecer a língua, em sua organização estrutural, ou seja, sua gramática, de algum modo, permite-nos articular a linguagem escrita que carece dos conhecimentos metalinguísticos, uma vez que a linguagem falada é processo histórico, compreendido o falante exposto à linguagem verbal de seus pares.
Nesse interim, a importância da metalinguagem está em entender que o falante, no início de sua trajetória linguística, já traz em si o conhecimento metalinguístico necessário para entender que na língua portuguesa, por exemplo, o artigo precede o substantivo. Isso é tão natural, que Jakobson[1] chamou de conhecimento internalizado, de outra forma, a gramática implícita: o conjunto de regras que o falante domina.
Ainda esse autor, deixa claro que o recurso à metalinguagem é necessário para aquisição, e o funcionamento normal da linguagem.
Assim, pode-se dizer que no processo ensino aprendizagem, tornar o individuo proficiente em escrita e leitura, é de certo modo, provê-lo dos conhecimentos metalinguísticos necessários a essa proficiência.
Finalmente pode-se pensar que a diferença existente entre saber linguístico e saber metalinguístico reside no processo que possibilita à linguagem do conhecimento a partir de o conhecimento da linguagem.
Ao conhecer a linguagem, ou os meandros de seu funcionamento, o conceito de correção dessa linguagem, que se estrutura na língua escrita, e invade a individualidade da língua falada, vai se manifestar de forma institucional.
Quando se pensa em institucional, no que se refere à linguagem, pode-se imaginar a língua como sendo o referendado por Saussure[2], ao dizer que a língua, e não a fala, é o objeto de estudo da linguística.
Ao considerarmos essa condição, a língua escrita, tomada à tradição, passa ditar normas e regras para a língua falada. Nesse equivoco histórico, o conceito de erro e correção da linguagem se institui dentro da historicidade da linguagem tomada como relação de poder.
É justamente o conhecimento metalinguístico, a facultar a proficiência em manipular a linguagem escrita, e consequentemente o domínio da linguagem de conhecimento, que o conceito certo errado vai imperar, como forma de se discriminar os falares que não estão em conformidade com a gramática do poder.
Essa relação de poder linguístico, instaurada por uma gramática institucionalizada, vai normatizar o ensino de língua materna, e estabelecer normas e regras aplicáveis à escrita e a fala, desconsiderando que a língua falada, detém especificidades linguísticas próprias ao contexto linguístico pertinente aos variados grupos de falantes.
Por isso, pertinente ao que já foi arrolado, pode-se pensar que a linguagem humana para ser articulada, de algum modo necessita do conhecimento metalinguístico, e dentro desse processo de conhecer a linguagem, inteirar-se dos conceitos de correção, bem como os meandros da variação linguística, para então, desprovido de preconceitos, ser capaz de promover o ensino de língua materna. – Os critérios de ensino são políticos, mas a língua é social, é de todos.
[1] Roman Osipovich Jakobson foi um pensador russo que se tornou num dos maiores linguistas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e arte.
[2] Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma.