HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Emiliana dos Santos Magalhães*
Maria Jakeline Araújo**
Em primeira análise deve-se explicar o fato da existência de duas histórias acerca de qualquer língua: a história externa e a interna. A primeira trata dos acontecimentos políticos, sociais ou culturais que foram relevantes na formação da língua. A última refere-se ao estabelecimento evolutivo da língua fonética, morfológica, sintática e semanticamente. No tocante à história externa da língua portuguesa, mostra-se a transformação do latim lusitânico em português.
Em consequência das guerras púnicas a Hispânia tornou-se província romana. Mais tarde ela foi tomada completamente pelo Império Romano. Dessa dominação ocorreu uma divisão da Península em Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. Assim o latim da periferia era mais conservador que o do centro.
A história da Hispânia é um pouco obscura. De acordo com os dados arqueológicos, etnológicos e linguísticos chegou-se à conclusão que dois povos moraram na região: o mediterrâneo e o cantabro-pirenaico, mais antigo no lugar. Desses dois povos se originaram respectivamente os iberos e os bascos.
Segundo informações o território possuía grandes riquezas minerais e isso despertou a cobiça dos outros povos. Por isso, os fenícios e gregos disputaram ferozmente a posse do lugar. Com a derrota os gregos foram expulsos. Apesar da disputa gregos e fenícios contribuíram muito para o povo da Hispânia que desenvolveu sua arte.
No entanto, a situação do norte e oeste da Ibéria era bem diferente. Povos de outras zonas se sobrepuseram aos nativos. Depois ocorreu a invasão pelos celtas originários do sul da Alemanha e que já haviam conquistado a Gália. Mais tarde deu-se a coabitação de iberos e celtas na Hispânia, fato que resultou num grupo de povos conhecidos como celtiberos. Então, a influência fenícia teria desaparecido completamente se o povo cartaginês não falasse um dialeto fenício: o púnico.
Roma e Cartago travaram uma disputa pela Hispânia, na qual Roma venceu. Na romanização da Ibéria, Coutinho (Gramática Histórica, p.48), distingue dois períodos na história: o primeiro vai desde as guerras púnicas até o estabelecimento do Império. A segunda começa com o advento de Augusto e abrange o período imperial.
Devido o parentesco entre o latim e o celta a assimilação pelas cidades, depois pelas aldeias e campos, tornou-se fácil. Entretanto o basco foi o idioma que continuou a ser falado por um povo da Península que não assimilou o latim. Porém devido às circunstâncias o latim foi implantado como língua oficial. A romanização da Península Ibérica é atestada pelo poeta Rutílio Namaciano, pelo geógrafo Estrabão e outros. Mesmo que não houvesse testemunhos, as obras demonstrariam a unidade dos romanos levada ao povo vencido.
É possível distinguir duas modalidades de latim: o rusticus, falado pelo povo inculto e o eruditus, usado pelos grandes escritores como Cícero, César, Horácio entre outros e conhecido nas escolas. Depois apenas conventos e mosteiros usam esse latim.
No século V os bárbaros invadiram a Península. Estes eram formados por várias nações, cada uma com seu dialeto. Os vândalos foram os primeiros a chegar ao território ibérico do qual seu nome originou Andaluzia. Depois vieram os suevos, que se fixaram na Galícia e na Lusitânia. Este povo merece destaque porque habitaram a região onde mais tarde se desenvolveu a nação portuguesa. Depois surgem os visigodos que absorveram os suevos e construíram o mais forte reino bárbaro. Os germanos embora vencedores incorporaram o latim, concluindo-se então que as transformações pelas quais passaram não foram poucas. No nosso vocabulário há uma enorme contribuição germânica, em sua maioria referente a usos, costumes e armas. No século VII, os árabes atravessam as Colunas de Hércules, hoje estreito de Gibraltar e invadem a Hispânia. Por sua situação geográfica estava destinada a ser atingida pelos muçulmanos. Devido à raça, a língua, religião e costumes muitos hispano-godos adotaram a língua árabe. São os moçárabes. É importante ressaltar que a civilização árabe era muito superior à da Península. Desenvolveram-se nos campos da ciência, artes, letras, agricultura, comércio, indústria etc. Assim o árabe foi adotado como língua oficial, mas o romance, isto é, o latim vulgar transformado ainda continuou a ser falado. As pessoas que não aceitavam obedecer a cultura árabe refugiaram-se nas montanhas das Astúrias e desde então o lugar passou a ser um apoio para a reconquista. A contribuição do árabe para o vocabulário peninsular não foi tão grande. A maioria das palavras são nomes de plantas, instrumentos, ofícios etc.
Durante a dominação mulçumana era comum a realização de cruzadas pelos cristãos e foi devido às cruzadas que se formaram reinos como o de Leão, Castela e Aragão. Merece destaque a figura de Henrique, conde de Borgonha que ajudou a combater os árabes. O rei de Castela e Leão ficou tão agradecido que lhe deu a sua filha em casamento e lhe outorgou o Condado Portucalense. Assim o domínio do conde D.Henrique vai do Minho ao Tejo.
No território ao norte veio se formar um dialeto ocasionado pela ocupação ocorrida pelos celtas e suevos: o galaico-português. E ao sul provavelmente algum formado de palavras árabes.
Por causa da independência de Portugal o galaico veio se diferenciar do português. Com o passar dos anos o português se tornou totalmente independente do galego. Depois surge a Universidade contribuindo para o desenvolvimento das letras e ainda mais para a fixação do português. É cultivada a poesia, a trova e os Cancioneiros.
É no século XV que aparecem muitas traduções de obras latinas, francesas e espanholas. A Renascença e os descobrimentos marítimos ajudam na expansão da língua portuguesa.
No século XVI aparecem os maiores escritores de Portugal. Surge também a gramática. Temos como exemplos Gil Vicente, João de Barros, Sá de Miranda, Fernão de Oliveira e principalmente Camões. O que mais se admira é a resistência do idioma.
Leite de Vasconcelos (apud Coutinho) divide a história da língua portuguesa em três épocas: a pré-histórica, que começa com os primeiros documentos latino-portugueses mesmo tendo pouco material linguístico; a proto-histórica, com o aparecimento de textos em latim bárbaro, mas de vez em quando se encontram palavras portuguesas; e a histórica, em que os textos já eram redigidos completamente em português. Antes este era apenas falado. A época histórica é dividida em duas fases: a arcaica e a moderna. É nesta fase que ocorre o maior fato literário português: a publicação de Lusíadas, de Luís de Camões, cujo assunto é a história de Portugal mostrando as virtudes portuguesas e tendo o povo português como herói.