PORQUE O BRASIL NUNCA GANHOU O OSCAR

PORQUE O BRASIL NUNCA GANHOU O OSCAR

Heribaldo de Assis *

Em minhas recentes incursões como Roteirista (após finalmente ter tido tempo de por meus belíssimos roteiros de viável sucesso no papel) passei a perceber porque o Brasil nunca ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro – tendo sido apenas, raríssimas vezes, indicado ao prêmio máximo da cinematografia mundial.

Apesar de ter excelentes profissionais na área filmográfica e dispor de inúmeros talentos na dramaturgia o Brasil nunca conseguiu obter esse almejado prêmio internacional - mas por quê?!O diagnóstico para esse frustrante fracasso encontra-se nas próprias empresas cinematográficas do Brasil que, comumente, incorrem nos seguintes erros:

a) as empresas cinematográficas brasileiras se acham auto-suficientes, pois não aceitam roteiros escritos por terceiros – geralmente essas empresas possuem uma equipe que escreve os roteiros ou então essa incumbência fica a cargo do próprio diretor dos filmes;

b) as empresas cinematográficas brasileiras visam o lucro imediato e geralmente não estão preocupadas em criarem obras de arte em forma de filmes;

c) as empresas cinematográficas brasileiras geralmente apegam-se apenas a um gênero de filme – comumente o humor (como se quisessem reviver a antiga pornochanchada brasileira);

Em um país com escritores (desconhecidos ou não) de enorme talento é inadmissível essa arrogante auto-suficiência das empresas cinematográficas brasileiras – pois o fato de se ter uma equipe previamente contratada para escrever roteiros não significa que esses roteiros sejam os melhores do país – aliás, é por ser o roteiro tão importante que existe essa bela frase: “ o roteiro é a alma do filme”.

Esse obstáculo para o surgimento de novos roteirista (com idéias novas e argumentos inéditos) inviabiliza assim o sucesso de qualquer indústria cinematográfica ( seja brasileira ou não). Os cineastas brasileiros precisam urgentemente entender que fazer cinema não é como montar uma tradicional cantina italiana – na qual apenas os familiares e amigos trabalham – sem novos colaboradores, sem novas ideias, sem novos argumentos a pizza cinematográfica vai ser sempre a mesma.

Alías, o Brasil se tornou o país das panelinhas: tem a panelinha do meio publicitário, tem a panelinha da MPB, tem a panelinha dos bastidores da TV e a panelinha das industrias cinematográficas – ou seja, se não for amigo do dono ou amigo do amigo do dono, dificilmente alguém consegue obter um emprego, ser contratado por essas mídias de comunicação e entretenimento,

Sou de um saudoso tempo (tenho 47 anos) no qual o que importava era o talento – mas, hoje em dia, talento é algo que está cada vez mais escasso nas áreas de propaganda, TV, Cinema e Música.

Basta ver a decrescente qualidade do que produzimos nessas áreas: programas de TV de péssima qualidade, filmes nacionais (em sua maioria) sem bons argumentos, músicas que são um verdadeiro lixo sonoro, além de propagandas que tentam sustentar-se na base dos efeitos especiais (sem texto criativo algum).

Criatividade: palavra cada vez mais escassa por essas bandas, talento: algo que nem todo dinheiro do mundo pode forjar... Tenho até uma frase que diz: muito pior que desperdiçar alimentos é desperdiçar talentos...

Mas o que fazer se não existe mais comprometimento com a qualidade – obras de arte no Brasil estão se tornando mesmo coisa de museu: o museu do passado no qual tínhamos ganho a Palma de Cannes pelo filme brasileiro O Pagador de Promessas, o museu das reminiscências no qual a nossa MPB tinha pérolas musicais, o museu da saudade no qual nossos programas de TV eram criativos.

E o que fazemos nós que produzimos trabalhos realmente criativos (dignos de prêmios nacionais e internacionais): rasgamos nossos roteiros para cinema?Destruímos a letra daquela canção que nunca vai ser tocada nas rádios? Incineramos aquelas belíssimas propagandas institucionais que criamos e que nunca irão aparecer em um intervalo comercial?Engavetamos os originais daquele belo livro que nunca vai ser publicado?

Assim como nunca ganhamos o Oscar do Cinema também nunca ganhamos um Nobel sequer – sendo que países muito menores que o Brasil conseguiram essas façanhas.

O Oscar premia a ficção, o Nobel premia a realidade: e tanto a ficção brasileira quanto a realidade brasileira ainda não demonstraram ser dignas desses dois cobiçados prêmios internacionais.

Talvez porque essa ficção seja um espelho da realidade e vice-versa: o Brasil nunca ganhou o Oscar e nem o Nobel porque desperdiça talentos, cérebros, idéias, oportunidades...

*Escritor, Poeta, Filósofo, Compositor, Redator-publicitário, Roteirista e Licenciado em Letras pela Uesc - Universidade Estadual de Santa Cruz.E-mail: herisbahia@hotmail.com