OS REGATÕES PARAENSES

Autor: José Gomes Paes

Em 31/12/2013

Antigamente os comerciantes de Urucará não faziam compra em Manaus, compravam sim dos Regatões Paraenses que vinham com suas barcaças trazendo tudo quanto era produtos: alimentos, bebidas, perfumes, etc. A cachaça aos montes, todos os comerciantes compravam e era vendida de dose nos comércios, para os amantes da cachaça a “bebida nossa de todos os dias” ou para quem de vez em quando tomava uma dose para esquentar o bucho e enfrentar um trabalho mais pesado ou mesmo para almoçar.

Pouco dinheiro corria no negocio, pois era à base da troca. Os Regatões Paraenses na subida deixavam o produto aos comerciantes e na descida recebiam os produtos frutos da natureza, como: couro de onça, couro de jacaré, pirarucu seco, pirarucu fresco, cacau, farinha, castanha, juta, carne salgada de caça empalhada em paneiro de cipó, peça de madeira, tabuas, vigas, esteios, borracha, etc. Todos os tipos de couros de animais eram comercializados, mas o couro de mais valor era o couro de onça, o de jacaré Açu valia muito mais do de jacaré tinga, o pirarucu seco era mais valorizado que o pirarucu fresco, o cacau tinha que ser seco, a castanha bem lavada, a juta bem cuidada. Tudo era entregue a base da troca, se houvesse algum saldo na conta, tinha que ficar com outro produto equivalente ao saldo.

Eles subiam o rio e passavam muito tempo para voltar regateavam em todas as cidades interioranas do Amazonas rio acima. Até mel de cana eles levavam em potes de barro com a tampa de palha, tudo produto artesanal. Essas barcaças eram grandes próprias para longas viagens. A minha impressão é que elas antes de se tornarem motorizadas eram navegadas a velas, pois tinha um mastro bem comprido com as cordas de apoio, tipo a caravela de Cabral.

Havia também os Navios a Vapor que faziam linha de Belém a Manaus e passavam em Urucará vendendo mercadorias. Barão de Cametá, Aquidaban, a Chatinha com aquelas rodas atrás, etc. O Barão de Cametá era o maior e mais bonito assim com as características do Titanic menos no tamanho, ele parava em Urucará mais para abastecer de lenha para a sua fornalha. Foi onde pela primeira vez conheci e comi uma maça e tomei um refrigerante.

A porta de entrada para a região era Belém, por isso as novidades vinham através dos Regatões Paraenses e os navios, era muito mais difícil ir a Manaus para fazer compras, não havia tanta concorrência e pressa.

Na época não havia barcos de linha, um comerciante ou outro tinha o seu barco, mas eram pequenos demais para uma viagem longa até Manaus e não tinham tanta velocidade, as maquinas desses barcos eram importadas só funcionavam a manivela, onde esquentava o cabeçote até ficar no ponto bem vermelho para girar a manivela.

Em Urucará você contava no dedo os comerciantes da época e o comercio também funcionava tudo a base da troca, o produtor trazia o produto e levava a mercadoria. Geralmente eles levavam mais produtos alimentares e de seu uso diário, como: café, açúcar, arroz, feijão, pão, querosene, pilha, sal, pólvora, cartucho, chumbo, anzol, linha de pesca, arpão, flecha e uma pingazinha para esquentar o bucho. Todo o comerciante tinha que ter principalmente esses alimentos e esses produtos que eram os mais importantes itens de necessidade do caboclo a carne de caça e o peixe eles tiravam da natureza.

Que saudade dessa época, não havia muita individualidade nem vaidade, havia sim muito mais amizade, respeito, companheirismo, cooperação e solidariedade, pois se eu tinha repartia com o vizinho e assim o vizinho também compartilhava comigo, era um mundo de cooperação mutua entre comunidades.

Depois vieram os Barcos de Linha e depois os Ajatos todos os dias e que são a grande febre dos passageiros, com deslocamentos ligeiros e rápidos. Hoje, também apareceu o Rabeta braço direito dos caboclos interioranos, que ajuda muito na pescaria e nos serviços diários de plantio e colheita.

Não vejo mais essas Barcaças Paraenses dos regatões passarem por aqui, acho que foram aposentadas com o tempo, mas que ficaram na minha lembrança para sempre.

FIM

José Gomes Paes
Enviado por José Gomes Paes em 31/12/2013
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