APELIDEIROS, APELIDOS E O BULLYING

Em: 28/12/2013

Nas cidades do interior do Amazonas muitas pessoas são conhecidas pelo seu apelido e há aquelas que não se incomodam, mas há muitas que não gostam e fica uma fera quando a chamam pelo apelido. O nome legítimo quase não se sabe e o apelido passa a ser o nome verdadeiro da pessoa. Agora, com a modernidade batendo em nossas portas, os apelideiros da vida que se cuidem o bullying está na moda, você pode ser processado por estar apelidando alguém, sinceramente à vida vai ficando mais triste, muitas pessoas gostavam e gostam muito de seus apelidos, e o apelido era a cara da pessoa casava tão bem. Hoje, muitos apelideiros têm receio de apelidar, o medo de ser processado, mas em surdina ele já tem em mente o apelido daquela pessoa.

Conheci muitas pessoas pelo apelido, como: Arranca Toco, Vela Branca, Mãe Querida, Pano Velho, Piranha Preta, Risadinha, Cabinha, Cutiuaia, Jabuti, Pato, Cabeça de Cupuaçu, Badueles, Bicó, Zé Cantel, João Cotó, Pombo, Macaxeira, Patuá, João Carneiro, Cupido, Buco, Barriga, etc. Todos nem se importavam a atendiam pelo apelido, gostavam até pelo nome que lhes colocaram, a pior coisa é você se intrigar pelo apelido que lhe aplicam, aí o apelido pega mesmo.

Conheci um grande apelideiro, o saudoso João Carneiro, era olhar para a pessoa o seu apelido já estava marcado, ele decretava o apelido pela aparência, modo de andar, falar e olhar tinha o dom de colocar apelido nas pessoas e era rápido num piscar de olhos.

Nas peladas que jogávamos nos finais de tarde, o João Carneiro estava quase sempre presente e ele narrava o nosso jogo pelo apelido que ele havia colocado na pessoa, era de muita diversão e alegria.

Hoje, o bullying está presente em todos ambientes da sociedade, por exemplo, a pessoa é gorda, mas você não pode chamar a pessoa de gorda, tem que dizer: olha como você está elegante. Mentira, e você para ser cortez com a pessoa tem que mentir para não ser processado, é por isso que em nossa sociedade o mundo está virado e o errado passa a ser certo. Interessante que se perdeu muito essa magia do apelido, não se vê mais os nossos jovens serem chamados pelo apelido e com isso a vida vai ficando mais triste.

Nas escolas os professores não podem mais chamar a atenção do aluno, pois ele se sente ofendido diz logo que o professor está cometendo bullying, apelidar jamais. Tem aluno que não faz a atividade que o professor passa com birra do professor, em todas as outras ele é aprovado, mas na do professor ele fica reprovado. Conheço uma professora que implorou para aluno fazer a atividade e ele falou que não ia fazer e não fez. Foram chamados os pais e não apareceram. Todos os direitos para o aluno, que sabendo dos seus direitos faz o que bem entende sem sofrer as punições que merecem.

Eu por exemplo fui tachado pelo apelido de Cabeça de Cupuaçu, devido ter nascido com a cabeça apontada, fruto da descendência de meu pai, também de Badueles, talvez por ser neto de português, o seu André me chamava de Badueles, ele contava que certa vez do outro lado do rio, fomos no sitio de seu Aristarco e lá havia muito Cubiu onde comecei a chamar de Tomate. Nunca me incomodei com o apelido e sabe que realmente a minha cabeça tinha a aparência de um Cupuaçu.

Quando fui servir o exercito em Manaus, deixei para me apresentar no ultimo dia a tarde precisamente as 15:00hs, cortei o cabelo bem baixinho não queria servir, fui adentrando a uma área ampla onde observei havia muitos soldados sentados na grama e um oficial louro em pé conversando com eles. Quando fui me aproximando, ele virou-se para mim e falou olhando o relógio: “AGORA EM SEU CABEÇA DE CUPUAÇU” e completou dizendo: Vá logo para a barbearia e volta para cá. Fui passando para a barbearia e sentando na cadeira do barbeiro e depois me deram o fardamento e voltei a me juntar aos recrutas que já estavam recebendo instruções.

Depois fiquei sabendo do nome do Tenente era Strumbisk, filho de alemão que servia no exercita brasileiro, um apelideiro de mão cheia. Todos os recrutas já tinham sido batizados com seus apelidos, mas tinha um que veio do interior para servir, índio mesmo, então o apelido dele era “Trunfa de cavalo”, acho que era pelo seu cabelo, ele detestava saía correndo atrás de quem o chamasse para bater.

Muita coincidência o meu apelido de infância ser o mesmo de quando fui servir o exercito, mas é como falei antes, os apelideiros analisam todas as características das pessoas para apelidarem.

No exercito todos tem apelidos, tomara que o bullying não entre em vigor no exercito e nem mesmos nos interiores do Amazonas, pois acabaria com a boa diversão entre amigos e companheiros de farda.

José Gomes Paes

José Gomes Paes
Enviado por José Gomes Paes em 29/12/2013
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