Pensar e existir
PENSAR E EXISTIR
As definições de filosofia elaboradas depois de Platão e Aristóteles separaram a filosofia em duas partes: uma filosofia teórica e uma filosofia prática. Como reflexo da busca por salvação ou redenção pessoal, a filosofia prática foi gradativamente se tornando um sucedâneo da fé religiosa e acabou por ganhar precedência em relação à parte teórica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver, que forneceria aos homens regras e prescrições sobre como agir e como se portar diante das inconstâncias do mundo. Este trecho faz parte do proêmio do meu novo livro.
Segundo Santo Tomás de Aquino, por exemplo, a filosofia pode auxiliar a teologia em três frentes: a) ela pode demonstrar verdades que a fé já toma como estabelecidas, tais como a existência de Deus e a imortalidade da alma; b) pode esclarecer certas verdades da fé ao traçar analogias com as verdades naturais; e c) pode ser empregada para refutar ideias que se oponham à doutrina sagrada.
Para Descartes, no século XVII a filosofia, no desenvolviomento de metafísica, é a investigação das causas primeiras, dos princípios fundamentais. Esses princípios devem ser claros e evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as outras formas de conhecimento. É nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o conjunto de todos os saberes e a metafísica como a investigação das primeiras causas, que se deve ler a famosa metáfora de Descartes: “Assim, a Filosofia é uma árvore, cujas raízes são a Metafísica, o tronco a Física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências”.
Com a virada linguística do início do século XX, muitos filósofos passam a considerar a filosofia como uma análise de conceitos. Para L. Wittgenstein († 1951), por exemplo, os problemas filosóficos tradicionais são todos resultantes de confusões linguísticas; e a tarefa do filósofo seria a de esclarecer e organizar o modo como os conceitos são empregados a fim de explicitar tais confusões. Surgia aí a filosofia da linguagem.
Muita gente pergunta por que a coruja (kucuvaya, no grego) simboliza a filosofia. A coruja, pelas características insones da ave que, como os estudiosos, vara a noite em vigília. E como mascote da filosofia, o que indica? A coruja não é bela. Ela gira a cabeça quase que trezentos e sessenta graus, abrindo sua visão para todos os lados. Sócrates gostava dessa visão periférica como símbolo da pesquisa. A coruja é uma ave de rapina por excelência, e apanha os descuidados, na noite e os leva da cidade, para seu ninho. E então, dá para entender, agora, o que é que coruja e filosofia fazem juntas?