Aleph*

Como pesquisadora, antropóloga e filósofa não poderia deixar de compartilhar um pouco da visão do mundo dos “ brujos” e e traçar um paralelo entre a filosofia de vida dos toltecas e David Hume.

Todo aquele que busca com sinceridade o autoconhecimento é um guerreiro e o guerreiro encontra a liberdade na afirmação de sua própria essência, na necessidade de sua própria natureza.

"O guerreiro não busca senão a liberdade, a pungente liberdade de ser, completamente, o que é.”- Don Juan Matus da linhagem tolteca

“ Todos nós fomos educados pelo medo. é o resultado da domesticação da infância. o medo é a origem da realidade que percebemos ao nosso redor. O medo é a fonte da doença, da guerra, da alienação da alegria que é nosso direito hereditário.” Don Miguel Ruiz

Foi através das obras do Antropólogo norte americano de origem latina Carlos Castañeda que a “filosofia” de vida dos toltecas passou a ser difundida. Conceitos desta filosofia tais como Tonal(o mundo já organizado) NAGUAL ( do sustentáculo prévio da organização do mundo) eram até então completamente desconhecidos no universo da letras.

Na década de 60 Castañeda interessado no uso ritual de plantas de poder nas diversas tradições das populações indígenas do México, teve a rara oportunidade de travar conhecimento e estabelecer uma duradoura relação com um extraordinário“brujo “ Yaqui ” nagual”: Don Juan Matus.

A partir desse encontro, numa narrativa que se estende por vários volumes, Castañeda vem apresentando a perplexidade e a controvérsia dos meios culturais do mundo Ocidental sua exposição do sofisticado sistema de conhecimento que permite o acesso as estranhas e múltiplas realidades que compõe o mundo dos feiticeiros, relatando suas experiências com Don Juan, as vicissitudes do aprendizado do método dos feiticeiros e a transfiguração da vivência quotidiana resultante desse processo.

( Os toltecas tradicionalmente, eram definidos por um grupo de pessoas (nativos) que alcançavam um nível refinado de iluminação espiritual que se estabeleceram na região central do que hoje é o México no começo do século X. Sua capital era Tula. Seu território passou a ser invadido por volta do Sec. XII por grupos vindos do norte, estes eram chamados chichimecas e destruíram Tula perto do ano 1160, no entanto adotaram muitos costumes dos toltecas. Os chichimecas englobavam diferentes povos, entre os quais os astecas.)

Castañeda aproxima-se inicialmente, como antropólogo do tema de seu estudo um feiticeiro indígena que sabe fazer uso de plantas alucinógenas ( ou”Plantas de Poder”) de acordo com tradições cultivadas desde muito- e testemunha, desnorteado, estranhos fenômenos que Don Juan atribui à ação de entidades extra físicas – os aliados- associadas a essas plantas.

Num segundo momento, Don Juan relata ao já abalado Castañeda o conjunto de Princípios e procedimentos éticos que constituem o ideário do Guerreiro do que, percebendo a morte sempre à espreita a um braço de distância, empenha-se com todo o vigor em adquirir, perante a vida, uma postura impecável que o conduza pelo caminho com o coração que todo aspirante a tornar-se um verdadeiro Homem de Conhecimento deve aprender a traçar e seguir.

O Homem de Conhecimento, ensina Don Juan, encontra-se disponível por Inteiro, pronto a lançar todo o seu ser no abismo de cada acontecimento, aceitando completamente o incompreensível fluxo da Vida. Mercê de um rigoroso autodomínio e de uma determinação inflexível , o guerreiro alcançará outros padrões de percepção e conhecimento que o levarão a percorrer outros patamares da existência, de acordo com o poder pessoal que houver acumulado em sua Prática irrepreensível, até atingir o pleno entendimento.

O Terceiro momento, enfim, consiste na revelação de que Don Juan

é um Chefe mágico, o” nagual” de um grupo de feiticeiros e outros aprendizes que participa de um projeto conjunto de aperfeiçoamento e libertação.

Don Juan, bem como seus próprios mestres e antecessores,filia-se a uma antiga linhagem de videntes feiticeiros que remontaria aos Toltecas, um poderoso ( e, para alguns, mítico) povo que habitava o México desde muito antes do domínio Asteca e da conquista Espanhola. Todavia, ao contrário dos antigos videntes que buscavam, através de Ingentes sacrifícios, a obtenção de poder temporal e de imortalidade física,os novos Videntes( como Don Juan) têm como suprema aspiração a liberdade.

Uma vez constituído o grupo apropriado de guerreiros e guerreiras, e tendo sido preparado o grupo de aprendizes que o substituirá, o nagual conduz essa verdadeira máquina mágica rumo à realização final, ativando o processo que lançará sua essência, qual uma Flecha luminosa, no coração da fonte infinita de tudo: a Águia. Assim, consumidos por este fogo interior,o nagual e seu grupo mágico obtém a liberação da morte não pela fixidez da permanência, mas pela identificação afirmativa e desejada com o próprio tecido básico da existência.

Para compreendermos o sentido desse processo de profunda afirmação e o que significa o encontro com a Águia, alguns comentários genéricos são indispensáveis.

As práticas de saber do Ocidente caracteriza-se tradicionalmente por uma postura racionalista que prescreve o uso de cálculos abstratos para obtenção de leis que subordinariam os acontecimentos encadeando-os em séries causais.

Assim, bem de acordo com sua raiz Platonica, o pensamento Ocidental contempla o Universo e elabora enunciados cuja veracidade é garantida por esse procedimento cognitivo abstrato.

Para Don Juan, no entanto, a produção de verdade se concretiza através de vivências com o corpo, de realizações (insights) da compreensão do participante da experiência.

Consideremos um exemplo sugestivo: Don Juan solicita a Castañeda que, no terreiro de sua casa , encontre o“melhor lugar”. Castañeda principia por uma abordagem utilitária: procura o lugar mais confortável. Insatisfeito, tenta a seguir uma solução estética, buscando o ponto mais agradável, de onde se descortine a vista mais bonita; tampouco é o bastante. Finalmente, após contorcer-se e rolar sucessivas vezes pelo solo do terreiro, Castañeda logra distinguir um ponto que seu corpo indica como o mais apropriado- e, uma vez aí instalado, sente-se extraordinariamente bem. Desse modo, segundo o método dos feiticeiros a verificação de assertivas não se fez isolada do corpo, desconectada das sensações do corpo;o pensamento não contempla, age.

Para que possamos aferir as devastadoras consequências da adoção deste ponto de vista francamente empirista se faz necessário analisar a difícil questão das regularidades que os fenômenos do mundo manifestam.

Seguindo David Hume, filósofo empirista inglês do século XVIII, suponhamos que no mundo não haja senão fatos. Ou seja, o mundo não é senão uma multidão de fatos apreendidos por um percebedor. Como é possível então explicar-se as regularidades, as simetrias, as invariâncias exibidas pelos acontecimentos se a própria noção de sucessão de fatos é exterior aos fatos? Como poderia se constituir o conhecimento neste mundo puramente factual? O Ocidente Platônico prescreve que o conjunto dos fatos deve receber a ação abstrata da Razão –de modo a que os fatos percebidos possam ser regularizados e submetidos a leis, o que irá assegurar a continuidade das cadeias de causas e efeitos. Hume, todavia, não superpõe essa entidade transcendental- a Razão – aos acontecimentos do mundo; é a natureza da percepção humana, diz ele, que atirando-se sobre os dados empíricos os organiza em repetições e regularidades. A ordem do mundo, portanto, não é intrínseca ao mundo ele mesmo, não é uma característica essencial do Universo, e sim promovem da atividade da natureza humana. Essa conclusão temerária implica que a percepção do mundo é componente indissociável de sua construção; perceber o mundo é , efetivamente, criá-lo.

Eis aqui a incrível modernidade de Don Juan: para ele, os fatos

( todos os fatos possíveis existem, na Águia) são atualizados pela natureza perspectiva dos seres. Assim, a cada espécie de percepção corresponde, concretamente, um outro mundo. Estilhaça-se a concepção de Uni-verso, de uma única versão da existência; a multiplicidade de seus perceptivos implica a infinita multiplicação de mundos, delineia um multi-verso.

O guerreiro, tendo aprendido a manipular sua capacidade perceptiva, habilita-se a partilhar de vários mundos, de diferentes realidades. A cada fixação da percepção corresponde a cristalização de uma regularidade, de um tipo de realidade; o guerreiro não encontra leis acabadas no mundo, e sim se insere em diferentes gestalts.

Daqui podemos principiar e aprender a explicação dos feiticeiros: o que chamamos de “mundo” provem de uma percepção fixada; a arte do guerreiro consiste em manipular adequadamente sua percepção de modo a ultrapassar as variedades do TONAL ( o mundo já organizado) para atingir a potência do NAGUAL ( do sustentáculo prévio da organização do mundo).

Aprendendo a VER, o guerreiro visualiza o homem como um glóbulo de vibrante energia luminosa onde há uma região específica – o ponto de montagem- na qual se realiza a fixação da percepção e, por conseguinte, a concretização do mundo. Tudo o que existe, na verdade, é composto por emanações da águia, que é um padrão complexo e universal de energia-percepção. Essas emanações da Águia, seguindo os videntes, são eternas, energéticas, ativas, cheias de força. Perceber - ou ser- consiste em alinhar emanações de “dentro” do glóbulo com emanações de “fora”;a diferentes modos de percepção estarão associados diferentes modos de ser ( que Don Juan chama de “bandas de existência” ).

No domínio da percepção reside a chave para os outros mundos; eis porque Don Juan divide a compreensão humana em três estágios : O do conhecido ( nossa consciência Quotidiana), doDesconhecido ( que o guerreiro pretende abordar) e o Desconhecível ( a Águia imensurável).

A Águia é o Todo-Uno-Múltiplo, é o fundamento de tudo, é como uma música que nunca é totalmente ouvida embora seja cantada em todos os tons por todos os seres.

As afecções naturais dos seres constroem ordens no múltiplo e desse modo a vida é uma interligação paradoxal entre emanações da Águia “dentro” e “fora” dos seres; morrer é apenas a libertação das emanações “dentro”, a explosão do Glóbulo; no caso dos humanos não guerreiros, sua consciência serve de iguaria para deleite da Águia, que muito aprecia consciências tenras e imaturas...

A extraordinária beleza do estranho mundo dos feiticeiros pode então ser entrevista: O fundo do mundo ferve de criatividade, a única eternidade é a mutação, a única imobilidade é a do permanente fluxo de tudo.

A impecabilidade do guerreiro lhe possibilita acumular energia para deslocar seu ponto de montagem e, modificando o alinhamento de supercepção, participar de outras formas de existência – um risco mortal, uma aventura terrível que só o humor e a mais profunda compaixão permitem suportar.

Controlando a energia-percepção que compõe todas as coisas, o guerreiro ultrapassa o senso comum e a costumeira mesquinhez da existência humana rumo à plena Consciência energética, que é a identificação com o fundamento de tudo, com a Águia Infinita.

Deste modo, alcança-se a verdadeira liberdade, a de seguir os ditames inflexíveis, os comandos incontornáveis da Águia.

O guerreiro encontra a liberdade na afirmação de sua própria essência, na necessidade de sua própria natureza.

Acaso e destino jogam com o guerreiro um grande jogo, nos encontros de corpos e o domínio da percepção (e não uma regra moral de necessidade humana) traçam seu caminho, segundo uma ótica que é, de fato, uma energética.

O guerreiro, diz don Juan, não busca senão a liberdade, a pungente liberdade de ser, completamente, o que é.

<<<Para os amigos do coração transcrevo do Livro Os Quatro Compromissos -O Livro da Filosofia Tolteca>Editora Best Seller- 1997>de Miguel Ángel Ruiz (1952)*.

“ Todos nós fomos educados pelo medo. é o resultado da domesticação da infância. o medo é a origem da realidade que percebemos ao nosso redor. O medo é a fonte da doença, da guerra, da alienação da alegria que é nosso direito hereditário. (...) Don Miguel Ruiz

"Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos... Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças e poderíamos nos ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento.

Chamo esse processo de a domesticação de seres humanos.

E por intermédio dessa domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma "mulher" e o que é um "homem". Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.

...Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: "Você é um bom menino" ou "Você é uma boa menina" quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos "meninos maus" ou "meninas más".

Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa. A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar a atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa".

E assim ele diz que através daquilo que nos foi passado, sem que pudéssemos escolher firmamos compromissos conosco mesmo, com as pessoas, com nosso projeto de vida, com Deus, com a sociedade, com os pais, com o cônjuge, com os filhos. Porém os mais importantes são os que firmamos com nós mesmos, onde acabamos por rotular e pré estipular a forma como somos, pensamos e agimos, e muitas vezes não temos uma visão saudável de nos mesmos e achamos que não somos capazes de alterar esta "forma de ser", e assim estes compromissos nos fazem sofrer e então fracassamos na vida, pois ao invés de serem projeções positivas são idéias que enfraquecem nosso poder pessoal.

Mas Don Miguel em seu livro nos ensina quatro compromissos que possuem um grande potencial de transformação se colocados em prática, pois podem devolver nosso poder pessoal nos ajudando a transformar a realidade imposta para a realidade que desejamos de maneira consciente.

Os quatro compromissos são:

1- Seja impecável com sua palavra

Este é o mais importante e também o mais difícil de cumprir. A palavra tem poder. Ela é sua capacidade de expressar e comunicar tudo o que você pensa e sente. Assim ela pode te libertar ou te escravizar, pois tem o poder de criar.

Ser impecável é não contrariar sua natureza, assumindo responsabilidade por seus pensamentos e sentimentos e atos, sem julgamentos ou culpas.

Usar a palavra na direção da verdade dissolve todo o medo e transforma em alegria e amor, ajudando a criar uma realidade diferente.

2- Não leve nada para o lado pessoal

Seja o que aconteça com você, não leve para o lado pessoal.

Se alguém fizer um comentário maldoso como: "Você é um estúpido", sem conhecê-lo, quem o fez não esta falando de você e sim de si mesmo. Se você levar para o lado pessoal, você vai afirmar para si mesmo que é estúpido e até possa pensar assim: "Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?". Se você levar tudo que for dito para o lado pessoal é como se você confirmasse que o que esta sendo dito é verdade e então esta crença passa a fazer parte da sua auto-imagem, e ai pronto, o veneno já esta instalado, o outro jogou e você acolheu.

Por isso temos que aprender a filtrar e perceber que o que o outro diz sobre você é a visão que ele tem de si mesmo.

3- Não tire conclusões

Temos a tendência a tirar conclusões sobre tudo e levamos para o lado pessoal. Acreditamos sempre que a nossa forma de pensar e agir é a correta e assim tiramos nossas conclusões precipitadamente culpando e reagindo, enviando veneno emocional com nossas palavras. Sem perceber fazemos comentários e "fofocamos" sobre nossas conclusões e então transferimos uns com os outros estes venenos por nossa ótica pessoal sobre alguém ou alguma situação. E com certeza o dia que você parar de tirar conclusões sua comunicação será clara e livre dos "achismos" que são os venenos emocionais e todos os seus relacionamentos irão se transformar.

4- Dê sempre o melhor de si

Neste compromisso colocamos em prática todos outros compromissos. É o que nos coloca em estado de alerta para que "Façamos o melhor", pois tudo depende de nós. Na maioria das vezes só agimos quando esperamos por uma recompensa, ou então quando se chega ao limite de algo e esse é o motivo pelo qual não fazemos o melhor. Devemos prender dizer "não" quando tiver de dizer "não", e "sim" quando tiver de dizer "sim".

Temos condições de transformar nossos dias em dias melhores, e assumir uma postura mais otimista diante da vida, transcendendo a experiência humana que possui muitos obstáculos e sofrimento, em momentos divinos.

Essa é a grande recompensa de dar o nosso melhor, entrar em contato com aquilo que há de mais belo em nosso interior, o melhor de nossas faces, o que há de mais verdadeiro.

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* Aleph a primeira letra

é uma compreensão universal através da observação de um ponto que reúne "tudo ao mesmo tempo, e agora".

Miguel Ángel Ruiz é descendente dos toltecas, nasceu numa família de curandeiros no México, ele é considerado um "nagal" da tradição tolteca. O Nagal nasce com uma forte disposição e não é paralisado pelo medo e é como se chama em sua tradição, quem ajuda iluminar e guiar o caminho de outras pessoas para que encontrem sua liberdade. abraço afetuoso, virgínia vicamf-"

virgínia vicamf e Miguel Ángel Ruiz
Enviado por virgínia vicamf em 11/10/2013
Código do texto: T4520196
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