EXISTE DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL?

Por: Raphael Mukumbi

Existe diversidade cultural no Brasil?Essa é uma pergunta que eu me faço todos os dias, porem não obtenho uma total resposta concreta. Ao pé da letra,o Brasil apresenta uma certa infinidade de expressões culturais,já que se trata de um país de extensão continental.Minha duvida não se contem apenas pelo simples fato de termos uma certa diversidade,mas caio no mar da angustia,quando eu percebo que não existe um espaço para que essas varias expressões culturais,tenham de fato um lugar nos espaços midiáticos.

A mídia com certeza é uma grande porta de acesso, servindo como uma bela vitrine de uma loja de grife. Infelizmente tenho percebido que essa mesma mídia,não evoluiu muito durante esse tempo.Não estou aqui me referindo apenas a parte técnica do ramo midiático,ma sim quero me referir ao campo ideológico que também permeia os principais canais da imprensa.Sabemos que a nossa carrega todo um fardo colonialista nas costas,amarrada e bem atrelada ao sexismo,racismo,mas devo reconhecer que ela deu uns certos avanços,mostrando ser ate mesmo “liberal”e “libertaria”.Mesmo observando esses pseudos avanços,não podemos ignorar o fato,de que ainda nem toda expressão cultural brasileira,conseguiu atingir grandes públicos,graças a permanência de alguns entraves midiáticos.Podemos aqui ter um exemplo da literatura negra,que já é feita e construída desde o século XIX,com o Luiz Gama.

A literatura negra ainda é pouco conhecida, e ate mesmo infelizmente, pouco valorizada por boa parte da população brasileira. Essa barreira é construída, pelo simples fato de ter negros falando de negros. Uma sociedade que se alimentou durante anos do mercado escravista,não concebe com bons olhos,homens e mulheres negros dispostos a falar de forma positiva de sua ancestralidade,e mostrar que suas historias não se resumem a escravidão.

É muito assustador ver que no Estado da Bahia, existe uma grande dificuldade, de se produzir e ate mesmo de se consumir uma cultura voltada para a população negra. Não é raro perceber que muitas vezes,projetos destinados ao enfrentamento ao racismo,não consigam decolar,ou então tenham que se”suavizar”deixando de ser “radical.Podemos também observar essa pratica,no carnaval de Salvador,no qual os blocos afro são praticamente colocados a margem durante o circuito,já que se cria uma certa divisão étnica em uma festa supostamente democrática.É muito fácil observar,que blocos afro,blocos de samba(que fizeram de verdade o carnaval soteropolitano),serem jogados para desfilar no apagar das luzes,sendo que outros blocos praticamente monopolizam o carnaval.Chiclete com Banana,Asa de Águia,(entre outras bandas que já passaram da validade),conseguem ter em suas mãos um certo poder de decisão durante a folia Momo.

Ainda se encontra vigente, certa marginalização com estilos musicais como, por exemplo, o Rap. O Rap, a Black Music, não é algo novo, mas ainda causa certo espanto por ter o objetivo de revolucionar e ate mesmo libertar, a mente de quem os escuta. Por ter a proposta de combate e de relatar a o cotidiano da comunidades carentes,o Rap,assim como o Samba,foi visto como uma musica feita para “malandragem”,sendo muitas vezes criminalizado.

A nossa falsa democracia no campo cultural nos atingiu com mais força nas artes cênicas. Vivemos em uma sociedade visual, onde a aparência se torna principal referencia, na verdade nos guiamos por exemplos que nos são passados pelos canais midiáticos. Por esse motivo, é totalmente nocivo ver que a imagem do negro seja apenas atrelada a escravidão, ou a papeis que representem submissão, perante outros personagens. No ano de 2009,em pleno dia 20 de novembro(Dia da Consciência Negra),a Rede Globo de televisão “acidentalmente”,passa o capitulo da novela Viver a Vida, onde aquela que seria personagem principal da novela,leva tapas na cara,e se encontra em total submissão .Conhecidencia ou não,a personagem que recebe a agressão,era interpretada pela atriz Tais Araujo,que pela primeira vez fazia o papel de Helena.A primeira Helena interpretada por uma atriz negra,leva tapas na cara de uma atriz branca durante o dia da Consciência Negra,só esse fato serve para ressaltar e expor o quanto ainda o racismo,e a anti democracia ainda se empondera dos meios midiáticos.Vale lembrar que a mesma atriz,Tais Araujo,foi protagonista de uma novela com o singelo nome A Cor do Pecado,na mesma emissora nos ano de 2004.Sabemos que no meio social,a mulher negra é tida como um ser tentador,sexual,e outros pensamentos herdados da época da escravidão.O titulo dessa novela,valeu ainda mais para acrescentar e reforçar a idéia da mulher tentadora,ao estilo de Rita Baiana do livro o Cortiço,do escritor Aluisio Azevedo.

Voltando pro espaço soteropolitano, é angustiante perceber a não existência de uma pluralidade no campo musical. Não existem espaços hoje em dia, que permitam um livre transito de matérias fonográficas que não sejam necessariamente ligados aos estilos comercializados. Estilos como Rock por exemplo,sobrevivem praticamente através de milagres,já que as rádios muitas vezes se negam a enxergar uma possível potencialidade nesses artistas.Esse descaso descarado,faz com que muitos músicos saiam de sua terra,ou então,desistam dos seus sonhos.

Em suma, não me sinto realmente à vontade para afirmar a diversidade cultural brasileira. Não vejo possibilidade real de exaltar tal afirmativa,já que essa problemática não pode se resumir em apenas na existência de varias culturas,mas sim no respeito que elas merecem.

Raphael Mukumbi

Raphael MUKUMBI Lisboa
Enviado por Raphael MUKUMBI Lisboa em 27/09/2013
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