CAPOEIRA, DE CRIME A PATRIMÔNIO CULTURAL
Durval Carvalhal
Durval Carvalhal
Capoeira significa “o que foi mata” (Ka’a/pûer). Em Angola, século XVI, disputava-se uma competição de luta animada vencida por quem encostava o pé na cabeça do adversário, cujo troféu era a escolha, sem pagamento de dote, de uma das jovens que se iniciava na vida, até a chegada dos invasores portugueses.
Já no Brasil, os africanos escravizados praticavam a sua luta em terrenos de mata rala, conhecidos como “capoeira”, “mata que foi”, terreno queimado ou cortado para o plantio indígena. E revoltados com o tratamento cruel recebido dos escravistas, o escravo fugia para os quilombos, verdadeiros estados multiétnicos, e usava a capoeira como técnica de combate contra os capitães-do-mato e de esperança de sobrevivência em um ambiente hostil. E assim, a capoeira passou de ferramenta de sobrevivência individual para arte marcial com objetivo militar, bem demonstrado na novela global “Lado a Lado”.
Salvador, Rio de Janeiro e Recife registraram as primeiras práticas de capoeira, que eram legal e violentamente reprimidas pela polícia, sobretudo com castigos corporais.
Com a Lei Áurea de 1988, o negro ficou legalmente livre, mas socialmente abandonado, sem casa, comida e trabalho, uma brutal crueldade, o que não impediu o desenvolvimento da capoeiragem, levando o homem da raça negra a servir-se da sua dança/arte com objetivos incivilizados, obrigando a República, em 1890, a decretar a proibição da capoeira no Brasil, cuja polícia prendia o praticante capoeirista, torturava-o e, até, o mutilava.
Nos idos de 1932, em face do afrouxamento da perseguição policial, o famoso mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira em Salvador com o nome de Luta Regional Brasileira, porque o Código Penal proibia o uso da palavra capoeira.
A partir daí, a luta africana foi ganhando destaque e aceitação no seio de todas as elites, da político-econômica à militar-universitária, até ganhar foro de legalidade em 1940, ao sair do Código Penal Brasileiro. Hoje em dia, é arte brasileira exportável para todos os continentes, além de atrair inúmeros estudantes estrangeiros, robustecendo extraordinariamente o fenômeno do intercâmbio cultural.
É emocionante plantar-se diante de uma roda de capoeira, que é o momento mais solene e representativo desse símbolo da cultura afro-brasileira, considerada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, desde o dia 15 de julho de 2008.
Quando começa o espetáculo, os artistas se perfilam cantando e batendo palmas ao ritmo do berimbau, do pandeiro, do caxixi, do atabaque. Começa o jogo, a dança, a luta. Ginga-se pra lá e pra cá. Que bela coreografia sincronizada! É um eloquente e comovente diálogo dos corpos. As esquivas encantam pela graça do jogo de corpo. Ataca-se, defende-se. Campeiam-se os chutes em rotação; os floreios, aus e bananeiras; os golpes manuais; as cabeçadas, joelhadas e cotoveladas; as acrobacias, como o salto mortal; e, sobretudo, as rasteiras, porque o objetivo máximo do capoeirista é derrubar o oponente. É o auge, o topo, o zênite, a glória.
Viva o dia 3 de agosto, dia do capoeirista; o perseguido marginal de ontem e o aplaudido artista de hoje.
Já no Brasil, os africanos escravizados praticavam a sua luta em terrenos de mata rala, conhecidos como “capoeira”, “mata que foi”, terreno queimado ou cortado para o plantio indígena. E revoltados com o tratamento cruel recebido dos escravistas, o escravo fugia para os quilombos, verdadeiros estados multiétnicos, e usava a capoeira como técnica de combate contra os capitães-do-mato e de esperança de sobrevivência em um ambiente hostil. E assim, a capoeira passou de ferramenta de sobrevivência individual para arte marcial com objetivo militar, bem demonstrado na novela global “Lado a Lado”.
Salvador, Rio de Janeiro e Recife registraram as primeiras práticas de capoeira, que eram legal e violentamente reprimidas pela polícia, sobretudo com castigos corporais.
Com a Lei Áurea de 1988, o negro ficou legalmente livre, mas socialmente abandonado, sem casa, comida e trabalho, uma brutal crueldade, o que não impediu o desenvolvimento da capoeiragem, levando o homem da raça negra a servir-se da sua dança/arte com objetivos incivilizados, obrigando a República, em 1890, a decretar a proibição da capoeira no Brasil, cuja polícia prendia o praticante capoeirista, torturava-o e, até, o mutilava.
Nos idos de 1932, em face do afrouxamento da perseguição policial, o famoso mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira em Salvador com o nome de Luta Regional Brasileira, porque o Código Penal proibia o uso da palavra capoeira.
A partir daí, a luta africana foi ganhando destaque e aceitação no seio de todas as elites, da político-econômica à militar-universitária, até ganhar foro de legalidade em 1940, ao sair do Código Penal Brasileiro. Hoje em dia, é arte brasileira exportável para todos os continentes, além de atrair inúmeros estudantes estrangeiros, robustecendo extraordinariamente o fenômeno do intercâmbio cultural.
É emocionante plantar-se diante de uma roda de capoeira, que é o momento mais solene e representativo desse símbolo da cultura afro-brasileira, considerada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, desde o dia 15 de julho de 2008.
Quando começa o espetáculo, os artistas se perfilam cantando e batendo palmas ao ritmo do berimbau, do pandeiro, do caxixi, do atabaque. Começa o jogo, a dança, a luta. Ginga-se pra lá e pra cá. Que bela coreografia sincronizada! É um eloquente e comovente diálogo dos corpos. As esquivas encantam pela graça do jogo de corpo. Ataca-se, defende-se. Campeiam-se os chutes em rotação; os floreios, aus e bananeiras; os golpes manuais; as cabeçadas, joelhadas e cotoveladas; as acrobacias, como o salto mortal; e, sobretudo, as rasteiras, porque o objetivo máximo do capoeirista é derrubar o oponente. É o auge, o topo, o zênite, a glória.
Viva o dia 3 de agosto, dia do capoeirista; o perseguido marginal de ontem e o aplaudido artista de hoje.