Arte da Reportagem

Na última terça-feira, 13/08, na Semana de Comunicação da Faat, nós, alunos do 1º ano, batemos um papo com três profissionais da área. A reunião de jornalistas e aspirantes a jornalistas foi singela, porém de qualidade. Debatemos assuntos abrangentes inerentes ao jornalismo. Assim como citamos questões pontuais do dia-a-dia da profissão. Dito isso, deixo aqui algumas de minhas conclusões e pontos de vista formulados e reformulados após a conversa.

É caráter daquele que se autodenomina jornalista possuir um olhar instigador sobre todo e qualquer assunto. Investigar é sua condição natural. É irrefutável afirmar que a tecnologia trouxe inúmeros benefícios à nossa profissão. É imensamente mais fácil conduzir uma investigação hoje, comparado aos nossos antecessores. Evidente que, apesar de nossa condição confortável, não devemos deixar de ir a campo. Condição essa, proporcionada pela chegada da Era Digital.

Historicamente, tal situação nos é familiar. O mesmo ocorreu na Era do Rádio e na Era da Televisão – que alterou nossa percepção de tempo, acelerando o processo de transmissão de informação entre emissor e receptor. Por vários motivos a pesquisa de campo foi deixada de lado, substituída, gradativamente, pelas informações de fácil e rápido acesso. O que ocasionou a má qualidade das investigações e, por consequência, da informação. Mas será somente a Era Digital a grande culpada disso?

Nós – jornalistas - passamos por uma crise interna, relacionada ao caráter. Devido à preguiça, a falta de vontade e a ausência de profissionalismo, esquecemos de nosso juramento. Atropelamos os princípios de nossa formação acadêmica e os valores de nossa profissão ao usufruir de métodos rápidos, errôneos, antiéticos e infundados na busca e na checagem de notícias. Situações absurdas podem ser observadas: entrevistas feitas com comentários do Facebook, citações feitas sem o consentimento do autor, uso de releases oficiais como corpo do texto jornalístico, esta última, situação recorrente nos jornais impressos. E desta forma a lista continua. Sabe-se que é errado, mas faz-se da mesma forma.

O abandono às práticas da pesquisa de campo também pode ser relacionado a seus riscos. Jornalistas e repórteres estão sujeitos a pautas e situações arriscadas e perigosas. Mas isso não deve afasta-los, quero dizer, nos afastar de nossas obrigações em pleno exercício da profissão. Repito, é mais fácil e mais rápido gerar conteúdo, dentro de uma redação, em uma mesa de escritório, em frente a um computador do que buscá-la, mas é o suficiente para suprir as necessidades daquele que irá recebê-la?

É verdade que o dinamismo do mundo atual exige que a informação seja adquirida com velocidade e seja transmitida ainda mais rápida. Mas não podemos deixar que isso prejudique a qualidade da mesma. Isso mina, aos poucos, a credibilidade de nossa profissão. Mina o valor de nosso diploma e corrói nossa posição perante a sociedade, que depende de nós para se mobilizar, ou seja, somos o vetor pelo qual a sociedade é guiada. Devemos lembrar - sempre - o quão impactante nossa posição é para o globo. Levamos informação, um produto que não possa ser industrializado e/ou manufaturado. Portanto, temos princípios e critérios a seguir: veracidade, imparcialidade, não omitir, distorcer ou manipular dados e, finalmente, informar, sem restrições. Informar com precisão e qualidade.

Com o ingresso na Era Digital, perdemos nosso instinto natural mais sagrado: a dúvida. Conformamo-nos com as informações adquiridas, não nos perguntamos se ela procede e a transmitimos na mesma velocidade em que a captamos. Lembremo-nos de René Descartes e da Dúvida Hiperbólica, ainda que métodos filosóficos, suas etapas nos servem para a estruturação de um pensamento coeso e para a reivindicação de nosso instinto investigativo.

Hugo Moura

Hugo Aruom
Enviado por Hugo Aruom em 20/08/2013
Código do texto: T4443193
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