POR UMA NORMATIVIZAÇÃO DA LÍNGUA TUPI
Este é um assunto fascinante, principalmente quando se trata da fonologia de línguas indígenas.
Normativizar é como dispor de uma regra que seja comum sobretudo no tocante à ortografia e morfologia.
A língua é o espelho da cultura moral e espiritual de um povo.
Todos sabemos que o abanhe’enga (língua de gente), não pertence a nenhum tronco linguístico europeu ou asiático e que a pronúncia de suas palavras difere profundamente da maneira como são pronunciadas as palavras do português.
Os primeiros europeus a chegar aqui tiveram inúmeras dificuldades em ouvi-la e pronunciá-la, mas os seus descendentes “neo-brasileiros” assimilaram-na perfeitamente. Porém, como era um idioma mais falado que escrito, os seus sons ficaram registrados muitas vezes da maneira como eram percebidos pelos portugueses, muitas vezes de forma errônea.
O abanhe’enga, ou seja, a língua tupi ou tupinambá, tem ainda por referência orientadora um polimorfismo dialetal que é próprio a todas as línguas que abrangem extensas áreas.
Como informações sobre a língua nos dias atuais se baseiam em informações e publicações dos séculos XVI a XIX, tendo muita coisa ainda por se descobrir, há uma urgência imperativa de uma normativicação oficial da mesma.
Portanto, torna-se extremamente necessária uma pesquisa mais aguçada para que seja possível uma normativização da língua e para tanto poderemos recorrer ainda que, com muita cautela, a alguns idiomas da família tupi ainda falados em nosso país, em especial, aqueles cujas gramáticas se aproximem mais da “língua brasílica” como também poderemos compará-la ao guarani, ainda bem vivo em estados do Sul e na República do Paraguai.
Com relação às pronúncias do abanhe’enga (tupinambá), podemos sentir que tanto vogais como consoantes são pronunciadas com muita suavidade, de tal maneira que os fonemas chegam a ser confundidos.
Ao meu ver, com relação às nasalizações, aparecem palavras com p, b, ou mb quase com o mesmo modo de pronunciar (peba, pema, urupema, Kunhambeba, itaingapema, mbaé) onde sentimos uma suavidade tal na pronúncia das consoantes “p”, “b”, “m”, “mb” quanto sentimos nós, falantes de português, ao pronunciarmos o “b” e o “v” na língua castelhana.
Outro aspecto que merece ser bem estudado é o som das letras g, (‘), û , como vemos nas palavras gûatá (que poderia ser ‘uatá, ûatá, ou como nh nheengatu: uatá), assim como Paragûasú (que poderia ser Para’ûasú ou Paraûasu).
As vogais “e” e “o”, que alguns gramáticos as tratam como sempre abertas, enquanto outros as consideram sempre fechadas, na realidade, são um meio timbre entre aberto e fechado (Pe. Lemos Barbosa).
A semivogal “î” que aos ouvidos portugueses se tornou “j”, é na realidade um “I” pronunciado com tal rapidez que se aproxima do “j brando”.
Por último, o “y” pronunciado com os lábios como se fossem dizer “i” porém tentando dizer “u”, o que muitos entenderam como “eu”, é o fonema mais difícil de se pronunciar.
Notas:
Abanhe'enga, significa "língua de gente". É como os tupi, tupinambá, tupiniquin e outros falantes de línguas da família tupi denominam a sua própria língua.
Os guarani a conhecem como "avanhe'en".