PARAÍSO DA ARTE
Em uma antiga cerâmica na periferia da cidade do Recife fica o acervo de Francisco Brennand, que se mantém na ativa aos 85 anos
...............................................................................................
O bairro histórico da Várzea, na periferia do Recife, abriga um dos mais belos e agradáveis espaços da arte brasileira. Lá funciona a Oficina Brennand, onde os amantes da arte, estudiosos e curiosos encontram expostas, em caráter permanente, as mais variadas peças, em tamanhos e estilos, do artista plástico pernambucano Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand, ou simplesmente Francisco Brennand.
É um centro de referência no cenário artístico brasileiro, um verdadeiro paraíso dentro de um conjunto arquitetônico de grande originalidade. O artista faz questão de registrar que ali confeccionou, entre 1961 e 1962, o painel a Batalha dos Guararapes, um dos seus mais famosos trabalhos, representando símbolos da sua crença nos ícones da nacionalidade brasileira.
São quase 70 anos de produção intensa, de diferentes técnicas, gêneros e estilos. Brennand envereda pelo simbolismo, as questões do universo mítico, a origem da vida, paixões e comportamentos; a condição feminina, a sexualidade e temas ligados ao meio ambiente e às condições da vida na Terra.
Quem vai à Oficina não pode ter pressa. São cerca de 3 mil obras distribuídas em espaços temáticos. A jornada contemplativa se inicia no Pátio de Esculturas, com figuras do imaginário artístico do autor. Lá, no espaço chamado Templo, está o que ele batizou de Ovo Primordial, simbolizando a origem e reprodução da vida. “O duplo das coisas que se reproduzem permanentemente é o centro das minhas preocupações como artista e como pensamento”, disse o artista em depoimento de 2008.
No passeio, veem-se várias esculturas na fachada, como o Prometeu Acorrentado e O Quarteto de Comediantes. Na Muralha Mãe Terra encontram-se elementos da fauna e flora, serpentes, pássaros rocas e painéis. No Salão de Esculturas está a maioria das peças e painéis criados por Brennand. Há também um anfiteatro, localizado entre os salões.
No circuito de visitação percorrem-se ainda o Lago das Sombras, onde está a escultura Árvore da Vida, o Templo do Sacrifício (uma homenagem aos povos sul-americanos), a Coluna sem Fim (que é uma exaltação a todas as formas de vida), o Auditório Heitor Villa-Lobos, o Relógio do Sol, o Estádio, que abriga exposições itinerantes e oficinas de arte; a Praça Burle Marx, com seus jardins, e a Accademia, que abriga esculturas cerâmicas, desenhos, painéis e telas.
O pintor francês Paul Gauguin é homenageado com uma praça, onde foi instalado o Cavalo de Troia. Também há obras do artista na Capela da Imaculada Conceição.
A Oficina Brennand funciona no terreno do antigo Engenho Santos Cosme e Damião, numa área remanescente da Mata Atlântica. Antes de ser transformado nesse complexo de artes, o local abrigava a Cerâmica São João, fabricante de telhas e tijolos refratários do início do século XX, pertencente à família do artista.
Depois de ter a maior parte das suas atividades encerradas, a antiga olaria foi adquirida por Brennand, em novembro de 1971, com o objetivo de transformá-la num gigantesco complexo para abrigar toda a produção artística do escultor, pintor e desenhista. De lá para cá, o conjunto arquitetônico vem sofrendo mutações, constantemente adaptado à modernidade, mas com a preocupação de manter a originalidade. A administração da Oficina lembra que nos primeiros anos de execução do projeto os fornos da antiga olaria, ainda ativos, eram partilhados com outras atividades produtivas.
A preocupação do artista é conferir vida e alegria à Oficina. Mostrá-la jovem, moderna, pulsante, em constante crescimento, viva.
Criador inquieto - Em 11 de junho de 2012, Francisco Brennand completará 85 anos e continua em plena atividade. Inquieto, dedica-se à pintura, acompanha diretamente o dia a dia da Oficina, participa de eventos e trabalha na revisão do seu diário.
Brennand respira arte desde os 13 anos. Começou como pintor e desenhista. Na sua formação acadêmica, bebeu nas fontes de Murilo la Greca, mestre do afresco, e do paisagista Álvaro Amorim.
No período de 1948 a 1952 visitou diversos países da Europa, onde estudou pintura e cerâmica e teve o privilégio de conviver com os artistas Fernand Léger e André Lhote. No seu currículo acumula mais de 100 exposições (individuais e coletivas), em países como Alemanha, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Portugal, Uruguai e Venezuela. Suas esculturas, painéis e quadros ganharam o mundo e hoje decoram espaços públicos e privados no Chile, Estados Unidos, França, Inglaterra, Peru, Portugal e Suíça.
Publicado na edição 71, da Revista do Brasil, em 14.04.2012 e republicado em 04.04.2013
https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/2012/05/viagem-10/