FESTA DO DIVINO EM POÇÕES - Salve o Divino Espírito Santo!

Salve o Divino Espírito Santo!

FESTA DO DIVINO EM POÇÕES

Ricardo De Benedictis

A festa do Padroeiro de Poções, o Divino Espírito Santo, é a mais tradicional da região e uma das mais belas manifestações religiosas e populares da Bahia.

A festa do divino tem seu pico na sexta-feira com a ‘Chegada da Bandeira’ às 11 horas da manhã, partindo do bairro Poçoezinho, postando-se finalmente frente ao adro da Igreja Matriz, situada na Av. Cônego Pithon.

A festa compõe-se de novena (cultos religiosos), cada noite patrocinada por um ou mais segmentos sociais, culminando com a "Chegada da Bandeira", quando centenas de cavaleiros e amazonas desfilam pelas ruas principais da cidade ao som de foguetes e bandas de música, parando em frente à Igreja Matriz onde assistem e participam de uma grande Missa Campal, quando são entoados os hinos ao Divino Espírito Santo. Esta é a maior festa do gênero em todo o Estado da Bahia.

CHEGADA DA BANDEIRA

A Chegada da Bandeira é uma réplica das Entradas e Bandeiras que povoaram o nosso país, fazendo crescer os seus limites. Durante o mês de maio/início de junho milhares de pessoas visitam Poções para participar da festa. Uns vão para pagar promessas, rever amigos e parentes e outros, para curtir a festa profana com bandas renomadas que desfilam pela noite a dentro, principalmente nos 8 dias finais do evento.

Para animação da festa, a prefeitura contrata várias bandas, a praça principal da antiga e centenária igrejinha erigida em louvor ao Divino Espírito Santo fica superlotada e a população participa dos festejos do seu Padroeiro, que acontece no dia de Pentecostes, data móvel, que sempre cai entre o final do mês de maio/início de junho.

A participação popular na Festa do Divino é muito forte e a cada ano cresce o número de visitantes. São milhares e milhares de pessoas de todas as partes do país, filhos de Poções ou não, que se encontram em harmonia com o Divino Espírito Santo, desde a busca do Mastro, as novenas, até a Chegada da Bandeira na sexta-feira que antecede o domingo pentecostal.

HISTÓRIA DA FESTA

A centenária festa do Divino Espírito Santo, é a principal da região, das mais tradicionais em toda a Bahia. Do ponto de vista cronológico, comemorada há mais de um século, datando de 1878, antecede a data de emancipação do município em dois anos.

A Freguesia do Divino Espírito Santo de Poções foi criada pela Lei Provincial nº 1.848, em 16 de setembro de 1878, nomeado seu primeiro vigário o Padre Luis da França dos Santos. A festa religiosa iniciou-se em 1878, com o primeiro vigário.

Desde então, consta de novenas, revestidas de todo o aparato, apesar das queixas da população quanto a atuação de alguns padres e outras autoridades que teimam em descaracterizar a festa ao longo dos anos, sempre com bons propósitos, mas sem o devido conhecimento do que representa uma festa tradicional e a sua preservação histórica. Sem qualquer compromisso com a memória, modificam a festa em sua estrutura, comprometendo A Chegada da Bandeira, ponto mais alto da festa profana, uma réplica que homenageia os bandeirantes que fundaram o município.

DESCARACTERIZAÇÃO

De alguns anos para cá, começaram as mudanças nos tons tradicionais da festa, promovidos pela igreja católica, representada por pessoas desprovidas de maldade e de conhecimento histórico, que fizeram a festa perder um pouco do seu brilho. Por outro lado, a prefeitura, na ânsia de conquistar a população, passou a descaracterizar, também, a parte profana da festa.

De início, lá na década de 1970, um pelotão da PM desfilava à frente da cavalaria, tornando a festa grotesca, do ponto de vista plástico e tirando o brilho da cavalgada, vez que, a partir de então, o desfile evoluía a passos de cágado, andando e parando... Sem o trotar dos animais e o garbo dos cavaleiros e amazonas que emocionavam até às lágrimas e arrancavam palmas e vivas da multidão... A Polícia Militar também foi, por várias vezes, convocada a colocar-se com seus veículos à frente da cavalaria, sob o mesmo pretexto.

Por último, por inspiração não se sabe de quem, um carro alegórico leva crianças trajadas de anjinhos precedendo a cavalaria... Um verdadeiro atentado às tradições...

No tempo da Ditadura, (1964/1984), os prefeitos, com a conivência do padre e dos civis, organizadores da festa, mandaram colocar um pelotão de "atiradores" do Tiro de Guerra local para conter a cavalaria (Chegada da Bandeira), alegando que esta seria a maneira de evitarem-se acidentes.

A Chegada da Bandeira é uma réplica histórica da fundação do município; seria óbvio que nada que descaracterizasse esta lembrança histórica fosse introduzida na plasticidade da festa...

Há mais de cem anos havia um pavilhão, especialmente construído e ornamentado, onde eram realizados leilões de bens doados pela população para a festa. Além disso, o pavilhão era o principal centro de encontros entre os filhos de Poções e amigos comuns.

A descaracterização da festa é uma barreira cada dia mais difícil de vencer pelas comissões organizadoras do evento, fato que vem tirando grande parte do brilho dos festejos.

Entretanto, algumas obras importantes foram realizadas, visando o conforto dos visitantes, tanto na pavimentação quanto na construção de estruturas de apoio.

Barracas, parque de diversões, muita música, muita cerveja e muito papo — Esta é a parte profana dos festejos.

A parte romântica da festa foi totalmente engolida pela necessidade de se fazer carnaval; e isto é uma pena...

Há um movimento crescente, de parte da comunidade, no sentido de resgatar algumas tradições que a modernidade foi deixando para trás. É lógico que este trabalho demanda cuidados, mas já é um ponto de partida para o resgate reclamado por importante segmento da sociedade poçoense. Acontece que os prefeitos só pensam em votos e assim, vão atendendo seus eleitores mais fortes, trazendo várias mudanças, nocivas às antigas tradições. Em função desse esdrúxulo comportamento das autoridades, os poçoenses que residem em Salvador e outras capitais que se esforçavam para encontrar os amigos durante a festa foram deixando de vir, trazendo um grande vazio do que de melhor havia nos festejos do divino. E esta situação não tem volta.

Por último, os padres foram mexendo na estrutura da festa e agora, o atual párooco, ilustre desconhecido, mudou o nome da festa para FESTA DE PENTECOSTES. Apesar de sabermos que o Pentecostes é atribuído ao Divino Espírito Santo, este cidadão não tinha o direito de mudar o nome da nossa centenária festa, que custou muito suor e lágrimas para os poçoenses. Infelizmente, sempre existem os espíritos de porco para tornarem em cinza a construção que se leva séculos para realizar. E a população tem sua parcela de culpa porque aceita e ainda acha que está tudo bem. Fica pois, o nosso protesto.

Festa do Divino

Autor: Ricardo De Benedictis

Ao meu pai, Massimo De Benedictis, com muitas saudades e inesquecíveis lembranças...

É bem alta madrugada...

Sempre que vou a Poções

sinto tantas emoções

no reencontro dos amigos...

...E na Festa do Divino

volto ao tempo de menino:

Lembranças dos bens antigos...

Do carrossel encantado,

pela sanfona, embalado,

dos aladins e fifós,

naquelas noites de orgia

em que nossa fantasia

não parecia veloz...

A Chegada da Bandeira,

alvorada, barulheira,

acordando as madrugadas...

...Fazem parte do cadastro

a busca do velho Mastro,

as primeiras namoradas...

A "Furiosa" tocando

pelas ruas, arrancando

as palmas das multidões,

com seus músicos garbosos

desfilando, orgulhosos,

Oh, quem me dera, Poções,

reaver os bens perdidos,

no passado, esquecidos,

oh quem me dera voltar...

Resgatar todo o trajeto,

seguindo o caminho reto

e a juventude abraçar...

Os meus pais sempre presentes,

amigos, irmãos, parentes,

as quermesses, os leilões,

as barraquinhas de palha,

os suéteres de malha,

o clima frio de Poções...

...Um beijo na namorada,

um passeio de mão-dada,

chapéu, capa e botinha...

...Lanterna de pilha à mão,

garoa, lama, paixão,

era tudo o que eu tinha...

Cantorias, violadas,

que venciam madrugadas,

são tão caras para mim...

Dormia, então, de cansaço,

alguém me toca no braço,

a festa chegara ao fim...

Ricardo De Benedictis

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 17/05/2013
Reeditado em 26/02/2022
Código do texto: T4295022
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